Nem os ruralistas clamando por mais mamatas no cumprimento do já debilitado Código Florestal, nem as canetadas de Dilma Rousseff que diminuíram parques nacionais na Amazônia como se fossem de papel. Muito menos a Rede de Marina Silva com suas promessas de esverdear o pré-candidato Eduardo Campos. Ou sequer a trágica notícia de que o Brasil deixou o desmatamento subir 28% em 2013 após uma década de redução. O que realmente esta tirando a nação do estupor ambiental, de nosso usual descaso com a gestão dos recursos naturais, é a falta de água.
Quando Bill Clinton concorreu sua primeira eleição à presidência americana, o jornalista James Carville, estrategista da campanha, cunhou um lema para os membros da equipe: “É a economia, estúpido”, ele dizia para lembrar que os EUA viviam uma crise de satisfação a qual o jovem de Arkansas poderia solucionar. Por aqui, talvez alguém tenha que apontar nas eleições de outubro a razão pela qual a reeleição de governadores e até mesmo da presidente da república esteja ameaçada. “É a falta d´água, estúpido!”
Aposto uma carranca do rio São Francisco que nunca houve tanta gente na cidade de São Paulo que saiba responder de bate pronto o que é o Sistema Cantareira. No dia 25 de março, o reservatório que abastece boa parte da maior cidade do Brasil chegou a meros 14% de sua capacidade. E estamos entrando na seca.
Aposto ainda um cartão postal das Cataratas do Iguaçu que no Rio de Janeiro a simpatia ao impopular governador Sérgio Cabral tenha crescido depois que ele resolveu enfrentar o seu colega paulista Geraldo Alckmin ao dizer que ele não deve tirar nem um metro cúbico sequer dos rios que abastecem terras fluminenses.
Em nível federal, a falta de água pode se tornar a pedra no caminho da reeleição dilmista. Pode… Porque a fatura ao que tudo indica está ficando para depois. À custa de nossa atmosfera o governo vai gerar energia queimando óleo combustível, diesel e carvão o ano todo. O próprio ministro de Minas e Energia Edison Lobão admitiu no Jornal Nacional, sem ao menos tremer o seu semblante de Gregory Peck: são 1,2 bilhão de reais de resgate às distribuidoras só para começar.
Com o preço da energia em alta pela falta de água, os donos das empresas geradoras de energia – que vendem para as distribuidoras – já devem ter encomendado missas de agradecimento a São Pedro, se é que já não enviaram doações diretas ao Vaticano. O mesmo é possível que estejam fazendo as firmas de engenharia em São Paulo, já que Alckmin anunciou que vai desembolsar meio bilhão de reais para transpor rios da bacia do Paraíba do Sul à represa de Jaguari.
Em ambos os casos, os mandatários de plantão querem evitar o racionamento de energia e água. A memória do Apagão de 2001 e a subsequente perda de poder pelo PSDB certamente apavoram quem tem a chance de perpetuar a estadia nos palácios de governo.
Há, porém, uma chance para os ambientalistas participem da romaria de agradecimento ao santo que resolveu limitar as chuvas no Brasil. Além das preocupações eleitoreiras, abriu-se uma oportunidade de discutir a debilidade ambiental para qual se empurrou o país. Talvez pela primeira vez, a sustentabilidade não seja uma palavra bonita para repetir em debates de TV. Senhor candidato, eu perguntaria, quais serão os investimentos em infraestrutura que serão feitos no seu governo para garantir energia e água à população? Eles já têm licenciamento ambiental? O que está sendo feito para garantir o cumprimento do Código Florestal?
A solução não é outra senão conservar e recuperar. Conservar e recuperar nascentes, rios, reservatórios, bacias hidrográficas e a própria água na torneira. É um problema da turma ambiental, da engenharia, da ciência, da agricultura, do consumidor. Mas é acima de tudo um problema de organização política, pois quem decide como cuidar, como consumir e o quanto se deve pagar pela captação é no final o eleitor. Claro que alguém pode querer passar por cima e gatunar a sua água, como se roubam muitos direitos por aqui. Você vai deixar? Antes de votar, melhor averiguar.
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