Notícias

Um tropeiro de bico amarelo e sob ameaça de desaparecer

Nova espécie de papa-capim é descrita no sul do país. Antes, a patativa-tropeira era confundida com outra ave parecida, a patativa-verdadeira

Vandré Fonseca ·
1 de agosto de 2014 · 10 anos atrás
A patativa-tropeira ganhou este nome por migrar na mesma área onde tropeiros guiavam rebanhos e transportavam carne seca entre o Sul e Sudeste do país. Foto: Márcio Repenning/Divulgação.

Manaus, AM – O bico amarelo era uma diferença que já havia sido notada, mas foram necessários oito anos de pesquisas para confirmar que ele indicava uma nova espécie de ave, que vive entre o Sul e Sudeste do país. A patatativa-tropeira (Sporophila beltoni) possui pouco mais de 10 centímetros de comprimento e uma cor acinzentada, características semelhantes da patativa-verdadeira (Sporophila plumbea), mas possui diferenças na plumagem e no canto. Entretanto, nem bem foi apresentada pelos cientistas, já deve entrar na lista de espécies ameaçadas.

A patativa-tropeira se reproduz em campos naturais associados à Floresta com Araucárias, que estão sendo rapidamente degradados e fragmentados. De acordo com os responsáveis por descrever a nova patativa, apenas 3% da cobertura original da Floresta com Araucárias está de pé. Os pesquisadores estimam que não mais do que 4.500 casais da patativa-tropeira existam na natureza, um número considerado baixo para aves.

“Ela necessita de áreas específicas para se reproduzir e que invariavelmente estão próximas a matas ciliares ou entremeadas com manchas de capões de florestas típicos dos campos com araucárias, por isso a necessidade de se conservar esse ecossistema tão ameaçado”, explica o biólogo Márcio Repenning, um dos responsáveis pela descrição da ave.

O passarinho passa o período mais quente do ano, de novembro a março, nas regiões onde se reproduz. Com a chegada de dias mais frios, a partir de abril, o capim utilizado pela ave deixa de crescer. Com menos alimento disponível, ela migra para o Cerrado, principalmente em Minas Gerais, onde permanece até outubro. A rota de migração coincide com a rota por onde tropeiros conduziam rebanhos e carne seca entre o Sul e Sudeste, desde o século 18. Ela foi batizada devido à essa característica.

A patativa-tropeira enfrenta ainda outra ameaça: a captura para abastecer o mercado clandestino de pássaros. “Por conta da somatória dessas situações, essa nova espécie já é considerada globalmente em perigo de extinção, conforme atualização da lista nacional de espécies ameaçadas de extinção que está em preparação”, diz Repening.

A descrição da patativa-tropeira foi publicada na edição de outubro de 2013, no jornal científico Auk, da União Americana de Ornitólogos e Sociedade Ornitóloga Cooper, pelos pesquisadores Márcio Repenning e Carla Suertegaray Fontana, ambos da PUC do Rio Grande do Sul, e que tiveram apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Leia também

Nova espécie descoberta: um pedreiro de Minas Gerais

Pesquisadores tentam salvar o entufado baiano

O incrível “Rally Internacional de Observação de Aves”

Leia também

Reportagens
10 de maio de 2024

“A nossa democracia foi sequestrada pelo poder econômico”, critica ativista

No quarto dia dos “Seminários Bússola para a Construção de Cidades Resilientes”, participantes falam da necessidade de se promover a participação popular na política pública

Reportagens
10 de maio de 2024

Peru celebra 50 anos da redescoberta de macaco misterioso dos Andes

Criticamente ameaçado de extinção e endêmico do Peru, macaco-barrigudo-de-cauda-amarela é festejado no país em meio à mobilização por sua conservação

Salada Verde
10 de maio de 2024

1.200 aves resgatadas do tráfico no interior baiano

Crime tem grande impacto ambiental e envolve da captura ao comércio criminoso que abastece mercados ilícitos e coleções

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.