“Nós temos um débito imenso com nosso ecossistema marinho. Por anos e anos o nosso mar foi visto como depósito de lixo. Se você mergulha em muitos lugares o lixo bate na sua cara no mar”, a declaração de Rômullo Melo, presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ao O Eco na cerimônia de divulgação dos vencedores do Programa Petrobras Ambiental ganhou números no Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia. No domingo passado, dia 24 de outubro, foi realizada a primeira coleta de lixo nas ilhas Redonda e Santa Bárbara. O grupo de 68 pessoas resgatou do fundo do mar e na costa do parque, em três horas de atividades, um total de 337,86 kg de resíduos. A quantidade, porém, representa apenas 1/5 do total que ainda precisa ser retirado.
“É muito grande a quantidade de lixo encontrado numa unidade de conservação como o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, onde você tem tartarugas marinhas que muitas vezes confundem os sacos plásticos com algas e baleias jubarte que têm suas caudas presas em redes. Foi um número maior do que achávamos que iríamos recolher. E que pode representar uma ameaça a biodiversidade local”, alerta Kid Aguiar, geógrafo e educador ambiental do Instituto Baleia Jubarte.
Numa parceria entre o ICMBio de Caravelas, o Instituto Baleia Jubarte, a ONG Patrulha Ecológica, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, entre outros, a ação recolheu entre os resíduos até materiais vindos de outros países. São 8, 96 kg de lixo de procedência de 13 nações como EUA, Coréia, China, Inglaterra e até o Japão. Mas a grande quantidade vem mesmo do Brasil. Segundo Kid, ainda é difícil definir ao certo quais lugares do país mais depositam seu lixo em Abrolhos. Um levantamento revelou que o grande vilão nas águas baianas é o plástico, tendo sido recolhido com 76,9 kg, seguido do vidro, com 60,5kg. “As pessoas continuam achando que o mar é uma fonte infindável de recursos naturais e que todo o resíduo pode ser jogado para as águas de forma exagerada que não haverá consequencia para a qualidade e quantidade de vida que a gente tem no planeta”, critica ele.
Rômullo Melo acredita que uma mudança de mentalidade precisa vir à tona para que menos resíduos desçam para o fundo das nossas águas. “Precisamos rever nossa relação com o mar. Isso pressupõe repensar a ocupação da costa, organizar o processo de saneamento para que não vá lixo para o mar e principalmente material não orgânico de alta durabilidade e assim resgatar a qualidade do nosso sistema marinho em muitos lugares”, sugere. Melo disse ainda que o ICMBio pretende aumentar o pequeno número de 0,4% de unidade marinhas protegidas em toda a costa brasileira. “Nós vamos intensificar o processo de proposições de criação de unidades de conservação do ambiente marinho. Estamos acelerando nossos estudos para ampliar essas unidades”.
Enquanto essas medidas não surgem, o grupo em Abrolhos já se decidiu manter a limpeza do arquipélago. “Devemos continuar essa atividade com intervalos menores. Acho que assim conseguiremos sensibilizar a população local, regional e global para necessidade de se ter uma unidade de conservação mais preservada”, adianta Kid. (Thiago Camara)
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