Manaus, AM – Caçadores, quem diria, fazem parte de um grupo muito interessado em se engajar na defesa de habitats e da vida selvagem. Em um primeiro momento, pode até parecer uma contradição, mas tem lógica. Sem a vida selvagem, vão caçar o quê? Então é melhor deixar de lado a imagem dos vilões em desenhos animados e refletir sobre os resultados de uma pesquisa que saiu esta semana no Journal of Wildlife Management, uma publicação científica voltada para gestores de áreas protegidas.
Pesquisadores das universidades americanas de Cornell e Clenson foram ao interior do estado americano de Nova Iorque para perguntar a proprietários rurais o quê, afinal, inspira uma pessoa a se engajar na conservação de habitats e da vida selvagem? Foram consideradas diversas variantes, como gênero, idade, escolaridade, crenças religiosas e ideologia. Mas o que fez diferença mesmo foi o uso recreativo que se faz da natureza.
É bom destacar que os pesquisadores analisaram dois grupos de pessoas que têm a natureza como hobby: caçadores e observadores de pássaros. E quem leva binóculos forma o grupo mais inspirado na hora de defender a natureza. Eles são cinco vezes mais propensos do que pessoas que não fazem usos recreativos da natureza a praticar ações como doar dinheiro para apoiar esforços de conservação, melhorar habitats selvagens em terras públicas e participar de grupos ambientalistas locais. Mas, logo em seguida, vem os caçadores, quatro vezes mais propensos do que a média em também se engajar nessas atividades de conservação.
A maior surpresa dos pesquisadores foi descobrir que pessoas que praticam as duas atividades, observação de pássaros e caça, destacam-se ainda mais quando o assunto é contribuir para proteger o meio ambiente. O grupo que caça e faz avistamento de aves é oito vezes mais propenso a se engajar à causa do que quem não se interessa por recreação em áreas naturais.
“Nós nos propusemos a estudar dois grupos (os observadores de pássaros e os caçadores) e não antecipamos a importância daqueles que fazem as duas coisas”, afirma Caren Cooper, a principal autora do estudo. “Nós nem sequer tínhamos um nome próprio para estas superestrelas da conservação”.
Para os pesquisadores, o resultado oferece um caminho para quem busca recursos para proteger a vida selvagem. “Os observadores de pássaros, em geral, não são lembrados como alvo por entidades e órgãos de gestão da vida selvagem. Mas eles têm um potencial forte para serem partidários da conservação se os mecanismos adequados para que possam contribuir estiverem disponíveis”, afirma Ashley Dayer, do Laboratório de Ornitologia de Cornell.
É bom destacar que a caça é uma atividade legal nos Estados Unidos, diferente do Brasil, onde é proibida. O caçador aqui está cometendo um crime ambiental. Entretanto, o estudo sugere que os melhores amigos da natureza têm atividades que dependem dela. “Quanto mais tempo passamos na natureza, maior a possibilidade de protegê-la”, afirmam os responsáveis pelo estudo.
Saiba Mais
Artigo: Are wildlife recreationists conservationists? Linking hunting, birdwatching, and pro-environmental behavior. Caren Cooper, Lincoln Larson, Ashley Dayer, Richard Stedman, and Daniel Decker. Journal of Wildlife Management. 2015. DOI: 10.1002/jwmg.855
Leia Também
A caça ao javali e outras pragas
Após agressão, ambientalistas fazem campanha contra a caça
Quando um tiro é adequado
Leia também
Fim dos lixões, uma promessa reciclada
A implementação de uma política ambiental robusta, focada no encerramento definitivo dos lixões, não é apenas uma imposição normativa, mas um imperativo ético e estratégico →
Ilegalidade atinge 75% do desmatamento registrado em Mato Grosso em 2024
Nota Técnica elaborada pelo ICV mostra que “tratoraço” normativo registrado no estado ameaça metas ambientais assumidas pelo executivo mato-grossense →
Aridez avança e 3/4 do planeta ficaram mais secos nas últimas décadas, diz estudo da ONU
Relatório apresentado na COP da Desertificação, que acontece na Arábia Saudita, aponta que 40,6% das terras do mundo são áridas; aridez cresce no Nordeste e Amazônia corre risco →