Relatório divulgado nesta sexta-feira (12) por mais de 200 cientistas alerta que a Amazônia está se aproximando de um potencial e catastrófico ponto de inflexão devido ao desmatamento, degradação, incêndios florestais e mudanças climáticas. Ao atingir este ponto de inflexão, ou ponto de “não retorno”, a floresta não será mais capaz de se recompor e perderá permanentemente sua vegetação, transformando-se em um ecossistema mais seco, degradado e com menor cobertura de árvores.
Resultado do trabalho do Painel Científico para a Amazônia (SPA), o primeiro Relatório de Avaliação do bioma foi lançado na Conferência do Clima da ONU, em Glasgow. O documento traz um apelo aos governos globais, líderes do setor público e privado, formuladores de políticas e ao público em geral sobre a importância de ações imediatas para evitar mais devastação na região.
Segundo o documento, cerca de 60% de toda a Bacia Amazônica já está próxima do ponto crítico. Além disso, o relatório alerta que quase 70% dos territórios indígenas e das áreas protegidas do bioma estão ameaçados por estradas, mineração, exploração de petróleo e gás, invasões ilegais, hidrelétricas e pelo desmatamento em si.
“O atual modelo de desenvolvimento está alimentando o desmatamento e a perda de biodiversidade, levando a mudanças devastadoras e irreversíveis. Para que a Amazônia sobreviva, devemos mostrar como ela pode ser transformada para gerar benefícios econômicos e ambientais, através de colaboração entre cientistas, detentores do conhecimento indígena e seus líderes, comunidades locais, setor privado e governos”, diz o cientista brasileiro Carlos Nobre, co-presidente do SPA.
Aproximadamente 17% das florestas da Bacia Amazônica já foram convertidas para outros usos de terra e pelo menos outros 17% já foram degradados. Devido à iminência da chegada ao ponto de inflexão, os cientistas do SPA recomendam uma moratória imediata ao desmatamento nas áreas que já se aproximam deste ponto e que a meta de desmatamento e degradação zero seja alcançada antes de 2030.
Durante a COP, o governo brasileiro anunciou a antecipação da meta de desmatamento zero de 2030 para 2028, mas a falta de políticas públicas efetivas para o controle da destruição amazônica coloca em xeque as falas do governo.
Também nesta sexta-feira, o INPE divulgou dados que mostram que o desmatamento na Amazônia atingiu novo número recorde em outubro, e chegou a 877 km² desmatados. As taxas de destruição da floresta amazônica explodiram na gestão Bolsonaro e alcançaram números que não eram vistos desde 2008.
“Com os recentes picos de desmatamento que estão devastando a mais extensa floresta tropical na Terra, devemos anunciar um código vermelho para a Amazônia”, diz a cientista Mercedes Bustamante, também membro do Comitê Científico do SPA.
Além de trazer os dados mais recentes sobre o status de conservação do bioma amazônico, o relatório também detalha as ações que precisam ser tomadas para evitar que ele entre em colapso, combinando pesquisa científica com conhecimento de povos indígenas e comunidades locais, e fortalecendo parcerias fortes entre as várias instâncias de governo, setores financeiro e privado, sociedade civil e comunidade internacional.
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