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Publicado originalmente por Observatório do Clima
DO OC – As políticas climáticas do Brasil ficaram em terceiro lugar num ranking de 61 países lançado nesta terça-feira (9) na COP26, em Glasgow. Terceiro lugar de baixo para cima, bem-entendido: foi por conta dos retrocessos nessa área que o país despencou oito posições no CCPI (Climate Change Performance Index) publicado anualmente por um consórcio de ONGs.
O índice avalia o desempenho climático das nações que respondem por 90% das emissões de gases de efeito estufa do planeta. Para isso, mais de 400 especialistas dos países pesquisados são consultados pela Germanwatch, pelo New Climate Institute e pela Climate Action Network, uma rede de mais de 1.500 organizações.
O progresso (ou falta dele) dos países é medido anualmente de acordo com quatro critérios: emissões de gases de efeito estufa, uso de energia, energias renováveis e políticas públicas para o clima.
Nenhum país pontuou o suficiente no índice para estar nos três primeiros lugares. Em quarto vem a Dinamarca, que reduziu emissões, propôs uma meta de redução de 70% até 2030 e acelera a substituição de carvão por energias renováveis. Em último ficou o Cazaquistão, que subsidia pesadamente carvão mineral e tem altas emissões no setor de transporte.
O Brasil está na 33a colocação, último entre os países de pontuação “média” no CCPI. “Como olhamos para tendências passadas, [o ranking] é benéfico para o Brasil, mas por razões históricas”, disse Nicholas Hühne, do New Climate Institute. Isso se deve à grande quantidade de renováveis, principalmente hidrelétricas, na matriz elétrica brasileira. “Mas as emissões ainda são altas e a política climática é muito, muito ruim”, prosseguiu. Jan Burck, da Germanwatch, disse que esperava que o país retrocedesse ainda mais no ano que vem.
O índice foi fechado antes de o Observatório do Clima publicar os dados de emissões de gases de efeito estufa do Brasil, que mostraram um aumento de 9,5% em 2020, enquanto o mundo inteiro registrou uma queda de quase 7% devido à pandemia.
Por conta dos retrocessos impostos na política de clima pelo regime de Jair Bolsonaro, o Brasil caiu oito lugares, da 25a posição, que ocupava no ano passado. Foi o maior recuo dentre os países do G20 e um dos maiores do ranking deste ano. No quesito políticas públicas, o Brasil só fica à frente da Austrália (maior exportadora de carvão do mundo, governada por negacionistas) e do Cazaquistão. Wawaweewa!
“O Brasil anunciou uma meta de longo prazo de atingir emissão líquida zero em 2050, mas não há políticas concretas para implementar o que é necessário para esse fim”, afirma o relatório. “Instituições que desempenham um papel-chave na política ambiental sofreram ataques e cortes de recursos do governo federal (…) Assuntos cruciais como reduzir emissões de combustíveis fósseis, uso da terra e precificação de carbono não têm políticas correspondentes claras, com as emissões per capita e a meta de 2030 consequentemente em desalinho com uma trajetória de menos de 2°C.”
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