Um dos principais alimentos no prato do brasileiro, a carne contribui com 86% da pegada de carbono da dieta nacional. Isso é o que mostra uma análise de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), publicada na última terça-feira (31) na revista científica “Environment, Development and Sustainability”.
Além da emissão de gases poluentes, a carne consumida nacionalmente representa 90% do uso da terra considerando a dieta total, 77% da poluição de corpos d’água associados à produção de alimentos e 26% do uso da água.
O trabalho foi baseado em dados das duas últimas edições da Pesquisa de Orçamento Familiar, realizadas pelo IBGE em 2008 e 2017.
Segundo o documento, nesse período, a presença da carne – bovina, suína, de frango e peixe – aumentou 12% na alimentação dos brasileiros de todas as faixas de renda, o que acarretou também o aumento nas emissões associadas à sua produção.
O aumento da pegada de carbono também foi consequência da redução do consumo das carnes menos poluentes, diz o trabalho. Entre todos os grupos, a ingestão de peixe reduziu 23% entre os brasileiros, enquanto a de porco aumentou 78%, de frango, 35%, e a carne bovina não apresentou mudanças expressivas no consumo no período analisado, apesar de ser a carne mais consumida pelo brasileiro – 40% do total ingerido.
Cenário atual
Apesar do trabalho dos pesquisadores da USP ser focado no período pré-pandemia da Covid-19, quando o consumo de carne diminuiu no país, seus autores analisam que as emissões associadas à produção do alimento não diminuíram.
“Durante a pandemia, pesquisas apontam que houve uma redução no consumo de carne, as pessoas não conseguiam comer a quantidade de carne que comiam anteriormente. Se formos pensar que essas pessoas reduziram o consumo de carne, provavelmente a pegada de carbono da dieta delas diminuiu, mas isso não significa que a pegada de carbono do Brasil diminuiu, porque continuamos a produzir carne”, disse em entrevista a ((o))eco a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP e uma das autoras do estudo, Aline Martins de Carvalho.
Questão cultural
O Brasil é um dos países que mais consome carne no mundo. Segundo os pesquisadores da USP, em 2017, o consumo brasilerio de carne foi de 96g/1000 kcal, por dia.
De acordo com a professora Aline Martins de Carvalho, o consumo de carne no Brasil não está ligado somente ao aspecto nutricional, mas também cultural.
“Indentificamos que a carne é muito importante no Brasil, principalmente a cultura do churrasco, que vem associada a um status econômico, à diversão, que sempre tem uma carne envolvida. Algumas pessoas nem consideram como refeição quando não tem carne, então a gente vê como um alimento extremamente cultural”, diz.
Mas, devido aos impactos ambientais e na saúde, ela e os demais autores da pesquisa sugerem uma redução na quantidade ingerida. “Você não precisa tirar a carne, se reduzir a quantidade, já vai ajudar tanto na saúde quanto também no meio ambiente. Ela é certamente muito rica nutricionalmente, mas pode ser consumida em menor quantidade que não teria problema nenhum para a saúde”, finaliza.
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Porque que vocês também não faz um estudo do plantio de eucalipto, que também está aumentando em muito a emissão de gás carbônico, pois tem derrubado muitas áreas nativas para plantio do mesmo, a criação de gado não é tão vilã assim, o PLANTIO DE EUCALIPTO também tem contribuindo para aquecimento global, pois além de ter que desmatar imensas áreas nativas, ainda destrói as reservas de recursos hídricos.