O presidente Lula fez um novo apelo nesta quarta-feira (24), durante a Cúpula de Ação Climática, que acontece no âmbito da 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para que os países apresentem suas metas climáticas, conhecidas internacionalmente como NDCs . Até o momento, apenas 47 países dos 194 signatários do Acordo de Paris apresentaram formalmente suas metas, o que representa 25% do total. A China também anunciou seus planos, mas, até a publicação deste texto, elas não estavam formalmente registradas no site da UNFCCC.
Em seu discurso na abertura da Cúpula de Ação Climática, Lula lembrou que a recente decisão da Corte Internacional de Justiça declarou ser obrigação dos países cumprirem os acordos climáticos internacionais, tornando a apresentação da NDC uma obrigação, e não uma opção.
“Em um mundo no qual graves violações tornaram-se corriqueiras, deixar de apresentar a NDC parece um mal menor. Mas só com o quadro completo saberemos para onde e a que ritmo estamos indo. As contribuições nacionalmente determinadas são mapas do caminho que guiarão cada país. Não são meros números ou percentuais”, lembrou o presidente.
O prazo oficial da ONU para apresentação das novas metas climáticas foi dia 10 de fevereiro. Naquela data, apenas 10 nações signatárias do Acordo de Paris – o maior tratado climático internacional, que visa a manter a média do aquecimento da Terra em 1,5ºC – haviam apresentado seus números.
Com a ausência dos dados na data esperada, a ONU então pediu que as nações apresentassem suas metas até o final de setembro, permitindo que a Organização tenha um mês de prazo para análise e apresente o balanço na COP 30, em Belém. Esse balanço vai dizer se os cortes anunciados vão conseguir manter o aquecimento global no limite esperado – ou quanto o mundo deve aquecer com os compromissos firmados, já que o alcance da meta de 1,5ºC, para muitos especialistas, já estaria perdido.
Para Lula, ao assumir metas de cortes de emissões de gases de efeito estufa, os países terão a oportunidade de repensar seus modelos de crescimento e reorientar políticas de reinvestimento rumo a um novo paradigma de desenvolvimento.
Segundo ele, os compromissos assumidos e o balanço a ser apresentado na COP 30 – chamada pelo presidente de “COP da Verdade” – vão dizer se as nações estão comprometidas com a Ciência e dispostas a tomar decisões para manter a credibilidade na política e no multilateralismo.
“Temos a chance de reparar injustiças e construir um futuro próspero e sustentável para todos. Por isso, faço um apelo aos países que ainda não apresentaram NDCs. O resultado da COP 30 de Belém depende de vocês. Vamos juntos fazer da Amazônia o palco de um momento decisivo da história do multilateralismo”, disse Lula.
Antes da fala do presidente brasileiro, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, ressaltou a importância do Acordo de Paris, lembrando que, se não fosse este acordo, a temperatura da Terra estaria caminhando para um aumento de 4ºC. Atualmente, a projeção de aumento é de pouco menos de 3ºC.
“Seus novos planos podem representar um passo significativo à frente. O relatório da ONU calculará seu impacto sobre as emissões globais. Se ficarem aquém, será necessário criar as condições para uma década de aceleração. Sabemos que é possível. A ciência exige ação. A lei obriga. A economia força. E as pessoas estão pedindo. Aguardo ouvir como vocês responderão. As Nações Unidas estão prontas para ajudá-los a entregar”, disse Guterres.
Aposta conservadora
O presidente chinês, Xi Jinping, foi o primeiro a discursar na Cúpula de Ação Climática, após as falas iniciais de Guterres e Lula. Jinping aproveitou o palco para detalhar o plano climático nacional da China, anunciando redução de 7% a 10% nas emissões até 2035.
A NDC chinesa era muito esperada, já que o país é, atualmente, o maior emissor global de gases de efeito estufa. Os números apresentados, no entanto, frustraram especialistas, já que o corte mínimo necessário para que a meta chinesa estivesse alinhada ao Acordo de Paris era de 30%.
“Se a COP 30 é a ‘COP da verdade’, Pequim não demonstrou que leva a ciência a sério na sua NDC. É um choque brutal num momento em que o planeta beira 1,5°C e em que a política climática insiste em ficar atrás da realidade econômica. A baixa ambição de Pequim, somada ao desalinhamento de outros países, exige uma reação coletiva imediata em Belém, para não enterrar de vez a chance de limitar o aquecimento a 1,5ºC”, disse Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
Além da meta de corte, a China anunciou que também pretende elevar a participação de fontes não-fósseis no consumo total de energia para mais de 30% e expandir a capacidade de energia eólica e solar para mais de seis vezes o nível de 2020.
Atualmente, a energia limpa responde por um quarto do crescimento chinês e representa cerca de 10% do PIB do país. A escala chinesa também reduziu em até 90% o custo global de solar, eólicas e baterias. Mas especialistas analisam que este crescimento poderia ser bem maior.
Para Bernice Lee, Conselheira Sênior da Chatham House inglesa, a China deveria ser mais ambiciosa. “A meta da China para 2035 simplesmente não reflete o ritmo da transição energética no país. Havia espaço para Pequim ser mais ambiciosa, o que teria lhe rendido amplo reconhecimento global — em nítido contraste com os EUA”.
Leia também
O que é NDC?
Conhecida também como “meta climática”, a NDC é apresentada voluntariamente por cada país signatário do Acordo de Paris. Apesar de voluntária, ela tem força de lei →
NDC: As três letras que podem salvar o nosso futuro
Combinado não sai caro, mas o descumprimento dos combinados climáticos tem um valor imensurável, principalmente para as juventudes do Sul Global →
Fim dos combustíveis fósseis fica de fora do discurso de Lula na ONU
Em fala de abertura na 80ª Assembleia Geral, presidente reitera proposta da criação de um Conselho do Clima nas Nações Unidas →




