Prática cada vez mais frequente no Brasil e grande aliado da conservação, o birdwatching vai ganhar contornos mais definidos no país, a partir do 3° Censo Brasileiro de Observação de Aves. Os resultados do levantamento serão divulgados durante o 16º Encontro Brasileiro de Observação de Aves (Avistar), que acontece na capital paulista entre os dias 19 e 21 de maio.
Cerca de 40 organizações brasileiras, entre elas a Sociedade Brasileira de Ornitologia, WikiAves e SAVE Brasil, estão envolvidas na realização do recenseamento.
Segundo Guto Carvalho, organizador do Avistar Brasil e um dos idealizadores do Censo, o objetivo é coletar dados atualizados sobre a prática de birdwatching, como é conhecida mundialmente. As edições anteriores do levantamento aconteceram em 2012 e 2017.
“A importância deste censo é consolidar uma série histórica que traça um panorama da dinâmica de evolução da prática de observação de aves no Brasil. Vimos ao longo do tempo que essa coletânea de dados é muito importante para a estruturação do setor”, disse o organizador, em entrevista a ((o))eco.
De acordo com Carvalho, o Censo não é qualitativo. O que se busca com ele, diz, é traçar um perfil socioeconômico e demográfico dos observadores de aves, bem como os principais destinos para a prática.
Apesar de a quantidade não ser um aspecto buscado no Censo, sabe-se que, atualmente, existem cerca de 300 mil praticantes da atividade, em suas diferentes modalidades: iniciante, ornitólogo, profissional, fotógrafo, artista de natureza, educador, criador.
Apesar do número expressivo, a atividade tem potencial para crescer muito mais no Brasil. Nos Estados Unidos, a observação de aves reúne cerca de 45 milhões de pessoas, movimentando mais de 40 bilhões de dólares anualmente, de acordo com números da agência americana United States Fish and Wildlife Service.
Observadores de aves podem responder ao Censo clicando aqui. Nenhum dado pessoal é requisitado, para garantir o anonimato do respondente. Já proprietários, guias ou gestores de destinos de observação são convidados a responder a outro questionário, acessível neste link.
As informações coletadas no Censo serão públicas e poderão ser utilizadas por instituições públicas e privadas voltadas para a realização e promoção da atividade.
“Esperamos com expectativa o Censo de Observadores, sobretudo nós, do serviço público, que trabalhamos com turismo, porque sabemos que, com essas informações nós vamos poder melhorar ainda mais as políticas públicas que temos desenvolvido para fortalecer o birdwatching no nosso estado”, explica Geancarlo de Lima Merighi, Diretor de Desenvolvimento do Turismo da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul.
“Com isso [censo] poderemos elaborar estratégias para garantir que mais pessoas venham ao Mato Grosso do Sul fazer seus registros e que elas tenham uma experiência de maior excelência”, diz o diretor.
Observação aliada à conservação
O Brasil é um dos países com maior número de aves registradas no mundo. Segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, são 1.971 espécies, sendo que 293 só ocorrem em solo brasileiro.
Tais características fazem do Brasil um destino requisitado por observadores de aves, que acabam por desempenhar um papel importante na preservação: todo observador é um conservacionista, dizem os praticantes, porque precisam que o ambiente esteja preservado para que ele possa observar as aves.
“A observação de aves ocorre em locais onde precisa ter a conservação, como áreas privadas ou parques, mas também em áreas que têm o potencial para a preservação. Os observadores acabam identificando e indicando locais onde estratégias de conservação precisam acontecer”, explica o biólogo Edson Moroni, que trabalha há mais de uma década com observação de aves.
Esse foi o caso das Áreas de Proteção Ambiental paulistas (APAs) Barreiro Rico e Tanquã-Rio Piracicaba, criadas a partir da pressão de observadores de aves pela conservação de tais locais.
As aves também foram motivo de outras importantes áreas protegidas no Brasil, como a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Buraco das Araras, famoso destino de observação por abrigar não só araras, mas outras cerca de 150 espécies de aves no Mato Grosso do Sul.
Leia também
Mutuns-de-alagoas se reproduzem de forma natural pela primeira vez em 40 anos
Um casal de mutum-de-alagoas (Pauxi mitu) mantido desde 2017 no Zooparque Pedro Nardelli, em Alagoas, gerou dois ovos que vêm sendo incubados pela fêmea →
Desmate do Pantanal reduz grupos do papagaio-verdadeiro
Longo estudo constatou uma redução de um terço na renovação de populações onde o bioma foi prejudicado por desmate e pastagens exóticas. Espécie também é forte vítima do tráfico →
Projeto lança guia de identificação de aves marinhas para pescadores
Folheto ajudará na identificação de albatrozes e petréis em alto-mar, com fotos e descrições detalhadas das aves →