No início de 1961, o oceanógrafo francês Jacques Laborel desembarcou no Brasil com a ideia de passar alguns anos estudando botânica marinha. Pesquisador no Instituto de Biologia Marítima e Oceanografia de Recife (PE), mudou o foco para recifes de coral após perceber que o tema quase não tinha sido pesquisado no país. O conjunto desse trabalho virou tese em 1970. Quase 50 anos depois, esse trabalho acaba de ser atualizado e traduzido em português pela equipe do projeto Coral Vivo.
O lançamento do livro: “Recifes Brasileiros: o Legado de Laborel” ocorreu na sexta-feira (16), em coquetel na Bibliomaison do Consulado-Geral da França, no Rio de Janeiro. A publicação também está disponibilizada em PDF, de graça.
O trabalho de Jacques Laborel no Brasil (1961-1964) foi feito em conjunto com a bióloga marinha Françoise Laborel-Deguen, viúva de Jacques Laborel e companheira de seus estudos de campo e de laboratório. O primeiro capítulo do livro é escrito juntamente por ela, onde relembra seus anos no Brasil.
O livro conta com 11 capítulos mais a conclusão e é fruto de um trabalho que envolveu, diretamente, 29 especialistas.
Para Clovis Castro, professor do Museu Nacional (UFRJ) e um dos autores do livro, a principal dificuldade neste projeto foi a tradução de termos técnicos que não havia em português. “Todos nós publicamos em inglês, que é a língua internacional da pesquisa, e muitos termos de descrição de recifes, muitos detalhados, nunca haviam sido feitos em português, então o grande trabalho foi decidir a terminologia”, afirmou, em entrevista a ((o))eco.
“Mais do que uma tradução é uma celebração do legado de Laborel para o conhecimento da vida marinha brasileira, permitindo um retorno de cinco décadas a esses ambientes frágeis e importantes acompanhado da situação atual pelos pesquisadores dessas áreas”, destaca a coautora Débora Pires, que é fundadora do Projeto Coral Vivo, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Coquetel
O coquetel para lançamento da publicação lotou a biblioteca do Consulado-Geral da França no Rio de Janeiro. A plateia era formada, em sua maioria, por acadêmicos e a cerimônia contou com a presença da reitora Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho, que proferiu um breve discurso em francês e em português.
Além dos professores do Museu Nacional, Clovis Castro e Débora Pires, estava presente Flávia Le Dantec Nunes, do Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar (Ifremer, na sigla em francês) e Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional.
Estiveram presentes também no lançamento do livro representante da Gerência de Responsabilidade da Petrobras e Philippe Michelon, adido científico e tecnológico do Consulado-Geral da França no Rio de Janeiro, anfitrião do evento. Flávia Maria Guebert, coordenadora geral do Coral Vivo, foi a mestre de cerimônia.
Mas a grande estrela do coquetel foi a bióloga marinha Françoise Laborel-Deguen, viúva de Jacques e grande conhecedora sobre os corais brasileiros. Sem a memória privilegiada de Françoise e seu rico acervo pessoal, o livro não teria saído como saiu, garantiu mais de um pesquisador presente na cerimônia.
O livro impresso “Recifes Brasileiros: O Legado de Laborel” terá distribuição gratuita para bibliotecas de universidades e institutos de pesquisa. A versão digital está disponibilizada para download no site http://coralvivo.org.br/arquivos/documentos/Recifes-Brasileiros-o-Legado-de-Laborel-2019.pdf.
Doação para o acervo do Museu Nacional
Na ocasião, Françoise doou para o acervo do Museu Nacional dois livros históricos que descrevem como eram o ambiente natural e os recifes brasileiros, sendo um deles obra rara do século 19 e o outro de 1904.
O livro “A Journey in Brazil” (Uma Viagem ao Brasil), de autoria do suíço naturalizado norte-americano Louis Agassiz e de sua mulher, Elizabeth Agassiz, foi publicado em 1868 e foi redigida a partir da Expedição Thayer realizada entre 1865 e 1866, que saiu de Nova Iorque e passou pela Amazônia, estados do Nordeste, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A obra aborda uma visão criacionista sobre os mestiços brasileiros e cita recifes de coral e peixes em alguns capítulos. Em junho de 2018, o único exemplar de “A Journey in Brazil” que pertencia ao Museu Nacional saiu da biblioteca para fazer parte da exposição “Expedição Coral: 1865-2018”, em comemoração ao bicentenário do museu. Três meses depois, o Museu Nacional pegou fogo e a obra queimou junto.
Françoise Laborel-Deguen não apenas doou uma obra que havia sido perdida como uma inédita. O livro “The Stone Reefs of Brazil, their Geological and Geographical Relations, with a Chapter on Coral Reefs”, do geólogo americano John Casper Branner, de 1904, aborda a geologia e a geografia dos recifes rochosos do Brasil, tendo um capítulo dedicado aos recifes de coral. Branner foi assistente do naturalista Charles Hartt na Comissão Geológica do Império de Pedro II, cujo material foi destinado ao Museu Nacional.
Saiba Mais
“Recifes Brasileiros: o Legado de Laborel” – em PDF
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