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Cota Zero: MT perde o prazo para criar registro e pescadores ficam a ver navios

A falta do cadastro pode deixar inúmeras famílias e indivíduos sem qualquer renda, ainda mais com a chegada da piracema

Aldem Bourscheit ·
22 de setembro de 2023 · 1 anos atrás

Aprovada em julho, uma lei bancada pelo governo Mauro Mendes (União Brasil) interrompe pescarias no Mato Grosso, de 2024 a 2029. Mas após os 60 dias de prazo legal, o registro de pescadores não andou, denuncia o Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad).

“O Estado de Mato Grosso deverá regulamentar o Registro Estadual de Pescadores Profissionais – REPESCA em até 60 (sessenta) dias da publicação desta Lei”, diz o regramento publicado há pouco mais de dois meses no Diário Oficial Estadual. 

As pessoas listadas no Repesca teriam direito a um salário mínimo durante a paralisação. Atualmente, o valor está em R$ 1.320, o que estaria bem abaixo da renda mensal média dos pescadores estaduais, de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil. 

A situação se agrava com a proximidade da piracema, período de reprodução dos peixes e de veto total à pesca, que inicia em duas semanas. A angústia é sentida por Benedito Ribeiro, pescador em Santo Antônio do Leverger.

Segundo ele, a categoria está “sofrendo mentalmente” com a lei e não sabe o que será daqui para frente. “O Governo apenas determinou uma proibição. Não temos informação sobre nada”, reclama. 

“Sou da terceira geração de pescadores e não sei o que será da minha vida a partir de 1º janeiro de 2024. Não queremos riqueza, fortuna. Queremos trabalhar com o que aprendemos a trabalhar”, explica Ribeiro. 

Além do Repesca, a lei mato-grossense prevê programas para requalificação dos pescadores, como em turismo ecológico e pesqueiro, ou aquicultura sustentável. Sobre isso, também não haveria informações oficiais.

Legislação mato-grossense pode dar cabo da pesca artesanal no estado. Foto: FORMAD / Divulgação

“Eu tenho 49 anos de idade. Não sei fazer outra coisa. Como eu vou entrar no mercado de trabalho com essa idade, sem qualificação? É um absurdo o que querem fazer com a gente”, acrescenta o pescador Firmo Neto, também conforme o Formad.

Desde a aprovação, os desdobramentos da lei têm parca divulgação. As incertezas envolvem especialmente se será possível seguir com a pesca e quanto à sobrevivência das famílias. 

Como divulgou ((o))eco, a lei quer conter a pesca predatória vetando transportar, armazenar e comercializar pescado dos rios estaduais. Permitiria apenas o “pesque e solte”, uma atividade desconectada da pesca artesanal.

Para colocar essas cartas na mesa, o Formad promove na tarde da próxima sexta (29) uma reunião aberta na Câmara de Vereadores de Barão de Melgaço. Além de comunitários e pescadores, ongs e pesquisadores, devem participar a Defensoria Pública da União e o Ministério Público Estadual.

A legislação mato-grossense foi inspirada na de Goiás, que completou 10 anos em julho passado. “A medida tem se mostrado eficaz na preservação das espécies aquáticas e no fomento ao turismo de pesca esportiva”, diz a Assembleia Legislativa goiana.

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

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