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Desafios e futuro da preservação ambiental marcam 1º dia do Seminário de Jornalismo Ambiental ((o))eco

Evento marcou o início da comemoração de 20 anos de ((o))eco, com mesas de conversa, entrevistas, mostra de cinema e lançamento da Bolsa Reportagem Vandré Fonseca de Jornalismo Ambiental

Agnes Todesco · Duda Reis · Joana Braga · Miguel Andrade ·
30 de agosto de 2024

Nesta quinta (29), teve início o Seminário de Jornalismo Ambiental ((o))eco, que acontece no auditório da ESPM Rio. O evento celebra os 20 anos de um dos principais veículos de jornalismo ambiental do país, com mesas de conversa, entrevistas, mostra de cinema e espaços para troca entre profissionais da área. Na abertura, Paulo André Vieira, diretor-executivo do ((o))eco, relembrou o surgimento da plataforma sem fins lucrativos, que dedica sua cobertura à conservação da natureza, biodiversidade e política ambiental no Brasil desde 2004. 

Durante a abertura, o veículo também lançou a Bolsa Reportagem Vandré Fonseca de Jornalismo Ambiental, que oferece o valor de R$6 mil reais para o desenvolvimento de um projeto de investigação jornalística em colaboração com a equipe do ((o))eco. Para concorrer, os participantes devem concluir ao menos 75% do seminário de forma presencial ou on-line (links de transmissão para cada atividade da programação oferecidos no e-mail ou pelo WhatsApp).

“Como parte do nosso compromisso com a formação de novos jornalistas ambientais, e em homenagem ao nosso querido colega Vandré Fonseca, lançamos a 1ª edição da Bolsa Reportagem Vandré Fonseca. Vandré, que nos deixou em 2019, foi um jornalista brilhante e apaixonado pela Amazônia. Ele dedicou sua vida a contar histórias sobre a natureza e a denunciar os desafios ambientais da nossa região”, contou Paulo André Vieira, em seu discurso. “A bolsa tem o objetivo de incentivar jovens jornalistas e estudantes a seguirem os passos de Vandré, explorando temas de grande relevância ambiental, com foco nas Soluções Baseadas na Natureza”, disse.

Panoramas do jornalismo ambiental

Com o tema “Panoramas do Jornalismo Ambiental”, a primeira mesa do dia reuniu as jornalistas Kátia Brasil, co-fundadora da Amazônia Real, Paulina Chamorro, apresentadora do podcast Vozes do Planeta, e Juliana Mori, co-fundadora da InfoAmazonia, para um conversa sobre a importância e as dificuldades dos veículos independentes. O debate foi mediado pela editora do ((o))eco, Daniele Bragança. Entre os principais pontos, foram destacados a fragilidade do financiamento, a dificuldade de praticar o jornalismo em campo devido à falta ou desatualização dos protocolos de segurança e a proteção da saúde física e mental dos profissionais. O impacto da morte do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira também foi mencionado.

Segundo Kátia Brasil, a melhor forma de garantir a liberdade do jornal e evitar ameaças por parte do poder político local, é buscar o financiamento voluntário. No caso da Amazônia Real, agência investigativa que busca dar visibilidade aos povos amazônicos, Kátia relata que a obtenção de recursos acontece através de organizações filantrópicas e doações de leitores. Na discussão sobre formas de exercer o jornalismo ambiental independente, Juliana Mori apresentou como o InfoAmazonia explora a combinação de dados geográficos e histórias jornalísticas para a produção de notícias sobre a Amazônia. De acordo com Juliana, o mapeamento de dados foi o caminho encontrado para contornar as dificuldades financeiras e realizar apurações complexas mesmo à distância. Para exemplificar o geojornalismo, Mori mostrou o projeto Engolindo Fumaça, uma série de reportagens que utilizou informações obtidas por satélite para quantificar o impacto da poluição atribuível a queimadas no aumento de internações por COVID-19 e Síndrome Respiratória Aguda. “Ter um conteúdo geolocalizado permite que a gente trabalhe com diferentes níveis de resolução em uma história”, explica,

Juliana Mori apresenta o geojornalismo na Amazônia. Foto: Julia Novaes

Para Paulina Chamorro, a solução está no fortalecimento do jornalismo ambiental dentro e fora das redações: “Hoje, qual editoria é mais importante do que aquela que fala sobre direitos humanos, direito de acesso à natureza e direito a um planeta vivo?”, provocou. Segundo a apresentadora do podcast Vozes do Planeta e idealizadora do projeto Mulheres na Conservação, é preciso explorar a velocidade da informação, o uso das redes sociais e o poder da narrativa através de histórias.

Biodiversidade em pauta

É possível falar sobre diversidade biológica para diferentes públicos e conseguir atenção na grande mídia? Foi esse o questionamento da mesa “Biodiversidade na Manchete”. Em uma conversa mediada pela repórter especial do ((o))eco, Duda Menegassi, os jornalistas Ana Lúcia Azevedo, do O Globo, e Herton Escobar, do Jornal da USP, junto ao vice-presidente da Conservação Internacional Brasil, Maurício Bianco, discutiram sobre a importância do desdobramento da informação para atingir um público frequentemente bombardeado de notícias pela mídia tradicional.

Apaixonado pela biodiversidade da Mata Atlântica, o repórter especial Herton Escobar percebeu que, para garantir o consumo de notícias pela maioria dos leitores, era preciso adaptar a forma de comunicação. Por isso, o jornalista decidiu transitar por diferentes formatos de produção de reportagens, explorando foto, vídeo e texto. Em 2015, produziu para o Estadão o especial “Fauna Invisível”, reportagem sobre a diminuição e desaparecimento de grandes mamíferos na Mata Atlântica. Escobar citou outras grandes coberturas, como a “Expedição Serra do Imeri”, que ele fez pro Jornal da USP, e o podcast “O Mar Não Está Para Peixe”, citados para exemplificar o diferentes formatos de comunicação multimídia.

“Toda história consegue atingir determinado público, resta saber a forma como você a apresenta”, defende a especialista em comunicar saúde, ciência e meio ambiente, Ana Lúcia Azevedo. Durante a mesa, ela destacou a importância não só da noticiabilidade, mas também a necessidade do “lado humano” em matérias de biodiversidade. Segundo Ana Lúcia, o jornalismo excede a forma tradicional e tem como parte do objetivo comover as pessoas com histórias.

Para além das produções jornalísticas, Maurício Bianco ressaltou o foco da CI Brasil. A criação da organização ambiental, cuja missão é a proteção da natureza para o bem-estar da população, também almeja a defesa da biodiversidade e do clima. Com a ajuda de novos elementos e a ambientação de assuntos do cotidiano, ele trabalha com a variedade de espécies e ecossistemas, em uma abordagem capaz de atingir mais pessoas. “Quando a gente trabalha a biodiversidade trazendo um foco positivo, a gente acredita que existe uma conexão maior”, conclui.

Entrevista com Cláudia Gaigher

No final da tarde, Cristiane Prizibisczki, jornalista investigativa em comunicação socioambiental de ((o))eco, entrevistou Cláudia Gaigher, jornalista especializada em meio ambiente e desenvolvimento social sustentável. Repórter da TV Morena e da TV Globo por 26 anos, onde se especializou em coberturas sobre o Pantanal e o Cerrado, Cláudia acredita que o trabalho da sua geração e de gerações passadas abriu espaço para a valorização do jornalismo ambiental dentro das redações. Segundo ela, um dos grandes obstáculos para a continuidade da luta pela preservação ambiental é o Déficit de Natureza, fenômeno relacionado ao distanciamento de crianças de ambientes ao ar livre: “As crianças estão perdendo a conexão com a natureza. Existe uma necessidade de priorização, tanto dos jovens, quanto dos pais, que precisam incentivar e dar o exemplo”, diz.

Cristiane Prizibisczki e Cláudia Gaigher no primeiro dia do evento. Foto: Miguel Andrade

Ao ser questionada por um dos participantes acerca da qualidade da cobertura ambiental internacional sobre o Brasil, Gaigher destacou a importância de entender que os biomas do Brasil não são isolados: “É preciso mostrar a conectividade dos biomas. Quando você desmata e destrói a Amazônia, você não está matando uma única região. Você também está detonando o Cerrado e o Pantanal, que sofrem com a falta de chuvas por conta das queimadas”, diz.

Mostra de cinema ambiental exibe “Mulheres na Conservação” e “Corredores”

Para fechar o primeiro dia do seminário, ((o))eco organizou uma mostra de cinema em parceria com o festival Filmambiente. O primeiro documentário exibido foi o “Mulheres na Conservação”, dirigido pela jornalista Paulina Chamorro e pelo fotógrafo João Marcos Rosa. O longa mostra a história de sete mulheres espalhadas pelo Brasil que compartilham seus desafios e experiências na luta pela conservação ambiental, além de levantar debates sobre maternidade, representatividade racial e o uso do trabalho ecológico como forma de manutenção da vida familiar. A exibição do filme contou, depois, com a fala dos diretores e a participação especial de uma das personagens do documentário, Marcia Chame, que é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e diretora científica da Fundação Homem Americano.

Márcia falou de sua experiência em levar seus filhos a campo, sobre o machismo na conservação e como lidou com tudo isso. Também defendeu que cientistas precisam ser ouvidos: “Hoje a gente tem muito conhecimento científico e quem tem o conhecimento precisa ser escutado e precisam influenciar na tomada de decisão”, defendeu.

O segundo documentário da exibição foi o “Corredores”, filme dirigido por Klaus Berg e idealizado pelo fotógrafo e cinegrafista Leonardo Marçon, que participou da conversa pós exibição. O longa conta a história do corredor ecológico que liga o Parque da Pedra Azul, passando pela Reserva Águia Branca, ao Parque Estadual do Forno Grande, ambos localizados no estado do Espírito Santo. Para retratar a preservação, o documentário capixaba escuta moradores locais e apresenta uma série de arquivos apurados sobre a região.

Debate sobre o doc. Mulheres na Conservação. Foto: Daniele Bragança.

*Estudantes do Portal de Jornalismo da ESPM-Rio

  • Agnes Todesco

    Estudante de Jornalismo na ESPM-Rio, admiro o poder de impacto do jornalismo e sonho em gerar mudanças através da profissão.

  • Duda Reis

    Estudante de jornalismo na ESPM-Rio, apaixonada por comunicação, cultura e produção

  • Joana Braga

    Estudante de jornalismo na ESPM-Rio, interessada em políticas ambientais e no universo sustentável

  • Miguel Andrade

    Estudante de jornalismo na ESPM-Rio, interessado pela área ambiental e por jornalismo comunitário.

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