A destruição da Mata Atlântica teve um salto no último ano (2020-2021), chegando a 21.642 hectares, área equivalente à cidade de Recife, capital de Pernambuco. A cifra é a mais alta desde 2016 e representa um aumento de 66% em relação ao período anterior (2019-2020), quando foram desmatados 13.053 hectares.
Os principais fatores de pressão continuam sendo a agropecuária, expansão urbana e especulação imobiliária, revela o Atlas da Mata Atlântica, divulgado nesta quarta-feira (25). O estudo é realizado desde 1989 pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE).
Cerca de 89% do desmatamento registrado no período se concentra em cinco estados: Minas Gerais (9.209 ha), Bahia (4.968 ha), Paraná (3.299 ha), Mato Grosso do Sul (1.008 ha) e Santa Catarina (750 ha).
Segundo o Atlas, até mesmo os estados que estavam se aproximando do fim do desmatamento, como São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe e Pernambuco, voltaram a registrar alta no período analisado.
Goiás foi o estado que teve maior aumento percentual de área desmatada: 1.350% (7 hectares desmatados em 2019-2020 contra 105 hectares em 2020-2021), seguido por Pernambuco, que registrou alta de 569% (38 hectares em 2019-2020 contra 255 em 2020-2021), e Alagoas, com alta de 302% (7 hectares de desmatamento registrado em 2019-2020 para 26 hectares em 2020-2021).
Somente dois dos 17 estados que compõem o bioma – Ceará e Santa Catarina – apresentaram redução no desmatamento.
De acordo com Luis Fernando Guedes Pinto, Diretor de Conhecimento da SOS MA, o aumento do desmatamento sobre um patamar de perda que já era inaceitável mantém o bioma em alto grau de ameaça e risco.
“Se as derrubadas persistirem, vai faltar água, vai faltar alimento, vai faltar energia elétrica. É uma ameaça à vida, um desastre não só para o Brasil como para o mundo”, diz.
O diretor ainda lembra que a Mata Atlântica foi apontada como um dos biomas que precisam ser restaurados com urgência para que o mundo alcance a meta de 1,5ºC no aquecimento global. O desmatamento acumulado em 2021, ao contrário, lançou ao ar 10,3 milhões de toneladas de CO² equivalente na atmosfera.
Falta de transparência nos estados
A vegetação nativa no bioma é protegida pela Lei da Mata Atlântica, que veda desmatamentos sem permissão. Embora o Atlas não tenha o propósito de investigar a legalidade dos desmatamentos detectados, o documento lembra que estudo feito pelo MapBiomas revelou que mais de 90% dos desmatamentos no bioma ocorrem de forma ilegal.
Além disso, a verificação da confirmação da legalidade é comprometida pela pouca transparência e pequena disponibilidade de dados dos governos estaduais em relação às autorizações de desmatamento.
“A disponibilização desses dados é fundamental para que se possa avançar para
o desmatamento zero na Mata Atlântica com a velocidade necessária para contribuirmos para a urgência da emergência climática e garantirmos a provisão dos serviços ecossistêmicos”, diz o diretor da SOS MA.
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