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Desmatamento no Cerrado cai no 1º semestre, mas ainda não é possível afirmar tendência

Queda foi de 29% em comparação com mesmo período do ano passado. Somente resultados de junho a outubro, no entanto, indicarão redução de fato, diz IPAM

Cristiane Prizibisczki ·
26 de julho de 2024

Nos primeiros seis meses de 2024, o Cerrado perdeu 347 mil hectares de vegetação nativa, uma área equivalente  a três vezes a cidade do Rio de Janeiro. O desmatamento acumulado no bioma é 29% menor do que o registrado na primeira metade de 2023. Os dados, divulgados esta semana, são do Sistema de Alerta de Desmatamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

Com exceção a janeiro, todos os meses do primeiro semestre registraram área desmatada menor do que a apresentada no ano passado. Apesar da redução, pesquisadores do IPAM advertem para a cobertura de nuvens, que pode dificultar o mapeamento do desmatamento no começo do ano, e ao calendário agrícola, que tende a acelerar o desmatamento na segunda metade do ano.

“Somente após o período do ano com maior atividade agrícola – entre junho e outubro – é que podemos avaliar se o desmatamento no Cerrado realmente teve uma queda em relação aos anos anteriores”, ressalta Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM.

Ribeiro também adverte que, mesmo que tenha havido uma redução do desmatamento no primeiro semestre, os números ainda continuam altos, principalmente na fronteira agrícola que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, região conhecida como Matopiba. “Desta forma, não podemos afirmar que o desmatamento no Cerrado diminuiu como um todo”, diz a pesquisadora.

Somente nos estados do Matopiba foram desmatados 266 mil hectares, ou 77% do total. Todos eles, no entanto, registraram queda em relação aos números computados no ano passado.

O Instituto também chama atenção para o surgimento de novos municípios na lista dos maiores desmatadores do bioma. Das dez cidades que mais desmataram o bioma na primeira metade de 2024, cinco não estavam na lista de 2023. Além disso, seis dos 10 municípios deste ranking possuem grande cobertura de vegetação nativa, o que indica o avanço do desmatamento sobre os últimos fragmentos de vegetação no bioma.

“Isso deixa claro a necessidade de reforçar as políticas de combate e controle ao desmatamento nessas regiões”, destaca Ribeiro.

Segundo o IPAM, 82% de toda área derrubada estava dentro de propriedades declaradas como privadas. Nestas áreas, foram derrubados 284 mil hectares. Os vazios fundiários – áreas sem posse ou mecanismos de governança definidos – foram a segunda categoria fundiária mais desmatada, correspondendo a 8% dos alertas. 

As áreas protegidas responderam por 5% do desmatamento registrado, totalizando 17,4 mil hectares perdidos. As principais áreas atingidas foram a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, e o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, ambas localizadas na região do Matopiba.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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