Somente entre agosto de 2019 e julho de 2020, os dados mais atuais, 462 mil hectares da Amazônia registraram extração de madeira. A área é equivalente a duas vezes o território de Tocantins, mas, apesar da magnitude, não é possível checar o quanto dessa madeira foi retirada de forma legal, revela estudo conduzido pela Rede Simex (Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira), publicado nesta quinta-feira (30).
Isso acontece porque os nove estados que compõem a Amazônia Legal apresentam problemas no controle da cadeia madeireira, além de restrições de acesso a dados públicos, mesmo após uma década da implementação da Lei de Acesso à Informação (LAI), diz o documento.
O trabalho analisou a evolução da extração madeireira entre 1980 e 2020, por meio da avaliação de seis indicadores relacionados à divulgação de dados das autorizações para exploração florestal, além da análise do Documento de Origem Florestal (DOF) e Guia Florestal (GF).
Tanto o DOF quanto a GF são documentos obrigatórios para o transporte e o armazenamento de matérias-primas, produtos e subprodutos florestais, desde o local de extração ou beneficiamento até o destino final. Com acesso a esses dados, seria possível cruzá-los com as áreas de exploração madeireira indicadas pelas imagens de satélite e verificar as ilegalidades.
O que a Rede Simex – formada por Imazon, Idesam, Imaflora e ICV – encontrou foi que os estados têm diferentes níveis de transparência.
Acre, Amapá e Maranhão ficaram com as piores avaliações, já que não divulgam nem as autorizações nem os documentos de transporte. Roraima, Rondônia e Tocantins têm dados de autorizações acessíveis, mas eles não são atuais e estão incompletos, além de não divulgarem informações sobre o DOF.
No Amazonas, segundo estado com maior área de exploração madeireira na região, os dados de autorização são acessíveis e atuais, porém estão incompletos. Neste estado, as informações sobre o DOF também não são disponibilizadas.
Pará e Mato Grosso ficaram nas melhores posições do ranking de transparência, mas não deixam de ter problemas. O Pará dá acesso tanto aos dados de autorização quanto às Guias Florestais, porém apenas os primeiros são atuais e completos.
Já no Mato Grosso, responsável por mais da metade da área com exploração madeireira na Amazônia, os dados das autorizações e das Guias Florestais são acessíveis e atuais, mas não é possível fazer um download único da base de dados dessas guias, que permita realizar uma avaliação unificada.
Outro problema encontrado pelos pesquisadores é que os sistemas de controle oficiais ainda não se encontram completamente blindados de fraudes documentais e de contaminação de suas cadeias produtivas com madeira de origem ilegal.
“A transparência e o acesso à informação são condições fundamentais para a promoção da legalidade e da sustentabilidade do setor florestal madeireiro. É importante que os dados estejam abertos a toda a sociedade, contribuindo para a rastreabilidade da produção de madeira na Amazônia e valorizando o manejo florestal sustentável”, diz Vinícius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do ICV.
Para ler o estudo completo, clique aqui.
Leia também
Assim como desmatamento, exploração madeireira avança pelo norte de Rondônia
Divisa entre RO, MT e AM é conhecida como a “nova fronteira do desmatamento”. Do total explorado no estado, em ao menos 5 mil hectares e retirada de madeira foi feita de forma ilegal →
Exploração ilegal de madeira aumenta no Mato Grosso e chega a 88,3 mil hectares em 2020
Ilegalidade atinge 38% da área total utilizada para extração de madeira no estado. Mais de 10 mil hectares explorados de forma ilegal foram em áreas protegidas →
Mais da metade da exploração de madeira no Pará é ilegal, aponta estudo
Entre 2019 e 2020, cerca de 50 mil hectares do estado foram explorados para extração de madeira, sendo 55% sem autorização →