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Gestão da Serra da Capivara rebate denúncia sobre abandono do parque: “fake news”

Fotos que mostravam suposta situação de abandono no parque nacional na verdade mostram estruturas que estavam em processo de manutenção, esclarece gestora, que reitera que denúncia é falsa

Duda Menegassi ·
10 de junho de 2024

Considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, o Parque Nacional da Serra da Capivara é um dos grandes destinos turísticos do Piauí. Por ano, milhares de pessoas vão ao parque visitar os sítios arqueológicos e as famosas pinturas rupestres. Por isso, causou alvoroço uma suposta denúncia sobre o estado de “abandono” do parque, com fotos que mostravam estruturas em estado precário de manutenção. A gestora do parque nacional, Marian Rodrigues, afirma a ((o))eco, entretanto, que trata-se de “fake news” e que a denúncia não condiz com a realidade. As fotos, esclarece, são de estruturas que estavam em processo de manutenção e foram compartilhadas pela própria equipe do parque em grupo fechado com condutores de visitantes, para alertar da ação.

“São 204 sítios arqueológicos com infraestrutura num perímetro de 200 quilômetros do parque. Algumas que são pouco visitadas vão se estragando com o tempo, mas o parque vai fazendo sempre a manutenção. Nessa denúncia, usaram fotos do próprio órgão, fotos nossas, que foram colocadas num grupo de mensagens fechado, informando os condutores de visitantes que aquelas áreas estavam passando por manutenção, porque as passarelas são de madeira e, claro, vão deteriorando com o tempo. Inclusive essas das fotos já estão com a manutenção concluída”, explica Marian, gestora do parque nacional desde 2019.

A matéria foi publicada pelo Portal AZ, no dia 23 de maio deste ano, e cita o suposto abandono do parque, com críticas à administração do parque pelo estado dos locais de visitação e falta de conservação das pinturas rupestres. O texto é assinado pela redação do veículo. ((o))eco procurou a equipe do portal por e-mail, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.

Marian conta que a gestão do parque acabou de disponibilizar R$1 milhão para que a Fundação do Homem Americano (FUMDHAM) faça o trabalho de manutenção e conservação dos sítios arqueológicos. “O ICMBio nunca fez o trabalho de conservação das pinturas porque essa não é nossa competência técnica, é do Iphan e da FUMDHAM, porque é um trabalho muito especializado”, esclarece.

Por sua relevância cultural e arqueológica, desde 2017 o Parque Nacional da Serra da Capivara conta com uma gestão compartilhada com o Ministério da Cultura, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a FUMDHAM e o governo do estado. O acordo não prevê repasse de recursos, mas estabelece responsabilidades para cada parceiro.

Entre as atribuições, cabe ao Iphan estabelecer diretrizes para a gestão dos sítios arqueológicos, além de fiscalizar e colaborar com o estado de conservação dos sítios. Enquanto à FUMDHAM cabe encaminhar ao Iphan relatórios semestrais sobre o estado de conservação dos sítios arqueológicos, com a comunicação de qualquer irregularidades ou indício de danos ao patrimônio arqueológico. 

Três dias depois da matéria, veio uma resposta de associações de condutores da Serra da Capivara, com uma nota de repúdio à matéria, classificada como falsa. “A disseminação de informações falsas sobre a situação do PARNA [Parque Nacional] Serra da Capivara não apenas desinforma, mas também fomenta a desconfiança e causa danos irreparáveis a Unidade de Conservação, àqueles que trabalham na Unidade de Conservação (Condutores, Guariteiras, Gestão, Pesquisadores, entre outros), além de impactos na economia da região”, aponta a nota

O texto, que é assinado pela Associação CRAÔS, Associação Pimenteiras e Associação Tribos da Capivara, reforça que as informações de abandono do parque nacional não condizem com a realidade, “o que pode ser constatado por todos que visitam a Unidade de Conservação”.

O Parque Nacional da Serra da Capivara, localizado no interior do Piauí, é mundialmente famoso pelas pinturas rupestres e sítios arqueológicos, emoldurados pelas paisagens bem preservadas da Caatinga.

Em 2023, o parque recebeu 36.732 visitantes, número recorde para a unidade de conservação e quase 30% a mais do que no ano anterior, quando foram contabilizadas 28.292 visitas – dados do painel do ICMBio.

Marian Rodrigues reconhece que o orçamento do parque não é ideal para atender todas as demandas da unidade de conservação – com seus 129 mil hectares, um total de 400 sítios arqueológicos e cada vez mais visitantes –, porém reforça que o ICMBio tem se esforçado para fazer a manutenção básica em toda infraestrutura. Inclusive com apoio extra orçamentário do Projeto GEF Terrestre, no valor de R$1.500.000,00 para ações de manutenção e fortalecimento das brigadas de incêndio, apoio ao uso público e monitoramento. A gestora conta ainda que está sendo feita a reforma de uma base para receber pesquisadores e dar suporte aos brigadistas.

“Hoje nós temos 40 agentes de monitoramento ambiental que fazem escalas de segunda a segunda no parque. Nós temos equipes de brigada, de monitoramento, de manutenção, de uso público… fazendo a manutenção das trilhas, das estradas, das passarelas. Além desses agentes, nós temos 64 agentes de portaria que ficam distribuídos em todo o perímetro do parque, em 11 bases de apoio de uso público e proteção, 24 horas por dia. Ou seja, nós temos uma boa equipe que tem trabalhado para proteger e conservar o parque. Essa matéria é fantasiosa e não condiz com a realidade do Parque Nacional da Serra da Capivara”, resume a gestora.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 1

  1. Eliana Lima diz:

    Em nome do bom jornalismo, em que o jornalista que escreveu o texto deveria ter ido ao local confirmar a suposta denúncia, mas se valeu de fotos enviadas por alguém, sem checar o local pessoalmente, o Portal AZ tem que se retratar e publicar uma errata da notícia falsa.