A organização internacional Global Witness lançou na última semana uma ferramenta de “alertas de desmatamento ilegal” entre os fornecedores indiretos da gigante da carne JBS. Chamada de “Brazil Big Beef Watch”, a ferramenta monitora de forma automatizada os casos de desmatamento possivelmente relacionados à cadeia produtiva indireta da JBS no estado do Pará e “avisa” a empresa pelo Twitter.
Ao explorar os dados de 2022, a ferramenta revelou que ocorreram pelo menos 61 eventos de desmatamento, com uma média de 46 hectares de terra desmatada a cada semana, no estado analisado. O total anual de 2.390 ha de desmatamento equivale a mais de 2 mil campos de futebol.
“A JBS não está conseguindo impedir que suas atividades contribuam para o desmatamento da maior floresta tropical do mundo, um bioma essencial para a manutenção do clima global”, justifica a organização.
Atualmente, a JBS é legalmente obrigada a não comprar de fornecedores diretos ligados ao desmatamento ilegal ou a casos de trabalho análogo à escravidão, por meio um compromisso firmado com o Ministério Público Federal, o chamado Termo de Ajustamento de Conduta da Carne (TAC da Carne). O problema é que o compromisso não contempla os fornecedores indiretos da empresa.
Maior produtora de carne bovina do mundo, a JBS obtém duas vezes mais gado de fornecedores indiretos do que seus fornecedores diretos, segundo a organização Chain Reaction Research (CRR). A exposição ao desmatamento ilegal, portanto, seria muito maior na cadeia de fornecimento indireito.
Estimativas da CRR sugerem que a pegada de desmatamento desses fornecedores indiretos pode ter atingido 1,5 milhão de hectares nos últimos 15 anos.
Em 2020, a empresa firmou o compromisso de rastrear 100% dos indiretos até 2025, mas alega que, no momento, não é possível fazer isso.
A Global Witness discorda. Segundo a organização, já existem ferramentas disponíveis para tal rastreamento. “É claro que a JBS também poderia levantar essas informações e fazer isso sozinha. Mas não faz”, diz a organização.
A ferramenta de monitoramento sobrepõe os alertas de desmatamento gerados pelo MapBiomas com dados de propriedades rurais na Amazônia. Os dados de propriedade, por sua vez, são vinculados a guias de trânsito animal que conectam fornecedores a compradores em cada etapa da cadeia de abastecimento da carne bovina.
“Sempre que um alerta de desmatamento é acionado, nosso bot verifica grandes volumes de dados de trânsito animal para determinar se o caso ocorreu em uma fazenda que faz parte da cadeia indireta da JBS”, explica a Global Witness.
“Digamos que estamos dando à maior empresa de proteína animal do mundo uma assessoria gratuita sobre onde procurar para garantir que ela não contribua para a aceleração do desmatamento. Também compartilhamos esses tweets com as instituições financeiras que apoiam a JBS para que todo mundo fique sabendo”, complementa a organização.
JBS contesta
Em resposta à Global Witness, a JBS disse que sua equipe técnica “achou que as informações fornecidas são geralmente escassas e superficiais, mas um melhor entendimento sobre a metodologia utilizada (bancos de dados e cruzamento de informações) seria útil para a JBS fornecer um feedback detalhado e robusto quando os dados são publicados”. Eles descreveram o método da Global Witness de identificar os fornecedores indiretos da JBS como “confuso e opaco”.
Procurada por ((o))eco para comentar a ferramenta e os resultados obtidos até o momento, a JBS informou, em breve nota, que “solicitou uma reunião com a ONG para conhecer em detalhes a metodologia e, dessa forma, avaliar sua aplicabilidade jurídica e técnica. Não houve resposta até o momento”.
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