Uma filmagem que mostra dezenas de pacas (Cuniculus paca) mortas, amontoadas em três pilhas, tem gerado revolta nas redes sociais desde a última semana. Ainda não há informações precisas sobre local e data em que o vídeo foi gravado, mas autoridades trabalham com a hipótese de as imagens terem sido feitas no estado de Mato Grosso. O Ibama investiga o caso.
Na gravação, é possível ver três homens. O vídeo é narrado por uma quarta pessoa, que celebra a conquista dos amigos pela quantidade de animais mortos. “Eu cheguei agora nesse acampamento, nem aqui eu tava. Esse aqui que é o perigoso, olha a cara”, narra, mostrando o amigo.
A paca é o segundo maior roedor do Brasil, possui de médio a grande porte e é conhecido por sua velocidade e agilidade. Nativa de florestas tropicais, pode ser encontrada desde a América Central até o Paraguai. Seu peso varia de 6 a 15 kg, sendo os machos os mais pesados.
A caça de paca vem de longa data e entrou pro imaginário brasileiro com o ditado “paca, tatu, cotia não”. As duas primeiras espécies tinham carnes apreciadas pelos portugueses, já a cotia não era considerada saborosa. Mesmo que a tradição seja antiga, a caça de animais silvestres sem ser para fins de subsistência não é permitida pela legislação desde 1967.
“Essa não é uma caça de subsistência, como prevista no artigo 37 da lei 9.605/98, que visa à manutenção alimentar de populações que não possuem outros recursos alimentares a não ser espécies da fauna silvestre”, analisa o biólogo Gabriel Salles Masseli, doutorando do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). “O que passa ao ver a filmagem é um sentimento de tristeza, revolta, bem como de vergonha por ver a sua espécie destruindo não só as demais espécies, mas o meio ambiente como um todo”, disse.
Segundo Masseli, existem diversas espécies que estão sofrendo constante ameaça por conta da caça, mesmo ela sendo proibida em diferentes legislações brasileiras, como a lei 9.605/98 (lei de crimes ambientais), e lei 5.197/67 (lei de proteção da fauna). “A caça predatória não apenas ameaça a sobrevivência das espécies caçadas, mas também tem um impacto direto e indireto sobre a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas”, afirma.
A ((o))eco, o Ibama informou que está ciente sobre o caso e que o vídeo foi encaminhado para investigação “com o objetivo de levantar informações sobre o crime e identificar os infratores para tomar as providências cabíveis”.
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