Notícias

Julgamento do “Pacote Verde” no Supremo é adiado para próxima semana

Nenhuma das sete ações ambientais da pauta foi votada. Debate será retomado na quarta-feira com votação dos ministros para os dois processos em discussão

Cristiane Prizibisczki ·
31 de março de 2022 · 2 anos atrás

Após dois dias de intensos debates, o julgamento do “pacote verde” no Supremo Tribunal Federal (STF) terminou sem votação na tarde desta quinta-feira (31). O debate será retomado na próxima quarta-feira (6), com o voto dos ministros para duas das sete ações em pauta.

O “pacote verde” é formado por processos relacionados ao meio ambiente e dizem respeito a atos e omissões do Governo Federal que levaram ao desmonte das leis ambientais brasileiras, à desproteção do meio ambiente como um todo e, em especial, da Amazônia. O julgamento é considerado histórico para o Direito ambiental do Brasil e para a litigância climática internacional.

Ao todo serão julgadas duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO), três Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) e duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI).

Durante os dois primeiros dias do julgamento, os magistrados discutiram a ADPF 760 e ADO 54. 

A ADPF 760 foi aberta por sete partidos políticos – PSB, Rede, PDT, PV, PSOL e PCdoB – e cobra a retomada do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) de modo suficiente para viabilizar o cumprimento das metas climáticas assumidas pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris.

A ADO 54 tem como requerente a Rede Sustentabilidade e acusa o Governo Federal de descaso com o meio ambiente e omissão no combate ao desmatamento da Amazônia, contrariando o dever do Poder Público de promover a conscientização ambiental e zelar pelo meio ambiente.

Em seu pronunciamento nesta quinta-feira, o Procurador- Geral da República, Augusto Aras, defendeu a atuação do Governo Federal e acusou os partidos políticos de tentarem interferir nas ações do Executivo.

“Não parece a este Procurador-Geral estar evidenciado ato do poder público lesivo a preceito fundamental da Constituição, tampouco omissão constitucional passível de censura, ao menos nesta via processual. […] O pedido feito pelos autores indica a pretensão de substituir a política pública que vem sendo implementada quanto ao problema do desmatamento na Amazônia Legal por outra opção política que os autores entendem ser a mais adequada. Por mais tentador que seja usar as vias judiciais para mudar rumos de políticas públicas, há um risco de trato reducionista em questão altamente complexa sem a garantia que isso implicará em verdadeiro avanço”, disse.

Tanto Aras quanto o Advogado-Geral da União Bruno Bianco Leal, que fez sua sustentação ontem, defendem que o Executivo não abandonou o PPCDAm, mas o “aprimorou” com o lançamento de do Plano Nacional de Combate ao Desmatamento Ilegal e Recuperação da Vegetação Nativa, lançado em 2020 e com vigência até  2023.

O desmatamento saiu do controle durante o governo Bolsonaro. Somente no bioma Amazônico, o aumento foi de 56,6% entre 2019 a 2021, quando comparado com período anterior a atual gestão, de 2016 a 2018.  Em três anos, foram perdidos mais de 32 mil km² de floresta, área maior do que todo estado de Alagoas.

Durante sua sustentação nesta quinta-feira, a relatora da ação, ministra Cármen Lúcia, fez uma longa defesa do arcabouço ambiental brasileiro e dos acordos firmados nacional e internacionalmente para a proteção de nossos ecossistemas.

Segundo ela, não está se discutindo a liberdade do Poder Executivo em criar um novo plano, mas o princípio de “não-retrocesso” previsto na Constituição, que o Governo Federal não estaria cumprindo.

“Na questão ambiental, o princípio da vedação de retrocesso relaciona-se às obrigações constitucionais e internacionais de assegurar um nível progressivo das condições do meio ambiente. Não se permite recuar ou retroceder. O que não significa que a legislação será imutável, apenas que legislação, governos, não podem alterar o que é a garantia de uma progressividade protetiva e de preservação das condições ambientais, no caso brasileiro, das florestas”, disse.

Cármen Lúcia voltou a defender que o Brasil passa por um processo de destruição institucional por “cupinização”, que se daria silenciosamente, de dentro para fora.

“O que estamos vendo hoje são retrocessos subliminares […] com o estabelecimento de procedimentos que, soltos, não levariam a um quadro tão patente de descumprimento da Constituição e de seus tratados internacionais, mas que, no seu conjunto, demonstra que foram apenas táticas utilizadas para se impedir que visualizasse com segurança a quebra do tratamento constitucional, do cuidado democrático com as instituições.”

A Sessão Plenária desta quinta-feira terminou sem que a relatora proferisse seu voto, o que deve acontecer na próxima quarta-feira (06/04), quando o julgamento será retomado.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Notícias
30 de março de 2022

Supremo dá início a julgamento histórico do “pacote verde”

Sete ações relacionadas ao desmonte da política ambiental estão em pauta. Meio ambiente vive um processo de destruição institucional por “cupinização”, diz ministra Cármen Lúcia

Notícias
9 de setembro de 2020

Governo nega militarização ambiental, mas mostra efetivo militar na Amazônia

Ao mesmo tempo em que nega que tenha militarizado a área ambiental, o governo destina dez vezes mais recursos para as Forças Armadas combaterem o desmatamento e queimadas do que ao Ibama

Notícias
24 de março de 2022

Fux afirma em visita de ex-ministros que STF é firme nas questões ambientais

Encontro antecipa “pacote verde” em julgamento no STF, marcado para o dia 30, quando serão votadas sete ações ambientais. Paralisação dos recursos do Fundo Amazônia é uma das pautas

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.