Notícias

Laudo da PF aponta garimpo e desmatamento como causas da poluição do rio Tapajós

De acordo com a perícia, a pluma de sedimentos tem origem no Mato Grosso, como consequência do desmatamento, e se agrava ao chegar no Pará, nas áreas de garimpo

Duda Menegassi ·
18 de fevereiro de 2022 · 2 anos atrás

Através de imagens de satélite, peritos da Polícia Federal produziram um laudo pericial que confirma que a coloração barrenta atípica do rio Tapajós, no Pará, é resultado da intensificação do garimpo ilegal e do desmatamento. As imagens das águas turvas e cheias de sedimento na região de Alter do Chão, conhecida como Caribe Amazônico justamente por suas águas cristalinas, viralizaram no início do ano e desde janeiro a PF instaurou um inquérito para investigar os motivos da alteração.

A notícia sobre o laudo foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo. ((o))eco procurou a Polícia Federal para ter acesso ao documento, mas teve seu pedido negado. No entanto, a assessoria de imprensa da PF confirmou para a reportagem a veracidade das informações publicadas pela Folha.

O perito responsável pelo caso analisou imagens coletadas de julho de 2021 a janeiro de 2022, detalha a matéria assinada pelos jornalistas Fabio Serapião e Pedro Ladeira. A análise da perícia da PF mapeou como a “pluma de sedimentos” que turvou as águas teve origem ainda no estado do Mato Grosso no final de outubro e início de novembro de 2021. No entendimento dos técnicos da PF, ela tem como causa o desmatamento nas margens dos rios Juruena e São Manuel, que deságuam no Tapajós, para plantação de monocultura.

“O desmatamento que ocorre nas margens dos rios citados favorece a lixiviação de material arenoso, argiloso e siltoso. Esses elementos são carreados até os corpos hídricos onde os sedimentos mais finos costumam ficar em suspensão por mais tempo percorrendo longas distâncias”, detalha o laudo da PF.

A lama de sedimentos no rio Tapajós e, ao fundo, área explorada pelo garimpo. Foto: Observatório do Clima/Divulgação

Em 25 de novembro, a pluma de sedimento já estava no município paraense de Itaituba e, entre 30 de novembro e 2 de dezembro, chegou às águas cristalinas de Alter do Chão. “A pluma seguiu descendo o rio e se intensificou drasticamente com o aporte de mais sedimentos advindos, principalmente, dos rios Crepori e Jamanxim [afluentes do Tapajós], no médio Tapajós”, diz o laudo.

A perícia da PF comparou imagens de afluentes do Tapajós onde não há atuação de garimpeiros e concluiu que eles “permanecem com suas águas mais escuras esverdeadas, indicando que não possuem sedimentos em suspensão”. Embora não tenha analisado a água do rio, o laudo alerta também para uso de produtos químicos como mercúrio e o cianeto em garimpos como os da calha do Tapajós.

No final de janeiro, um consórcio entre o MapBiomas e o Observatório do Clima já havia feito uma análise por imagem de satélite e sobrevoo que apontava o garimpo como responsável pela alteração no rio Tapajós. “É possível ver claramente a pluma de sedimentos descendo dos afluentes tomados pelo garimpo avançando Tapajós adentro. A comparação entre rios com garimpo (como o Cabitutu) e rios sem garimpo (como o Cadarini) não deixa dúvida”, detalhou à época a equipe do MapBiomas, em nota divulgada à imprensa.

Operação da PF em curso

Nesta segunda-feira (14), a Polícia Federal deu início à Operação Caribe Amazônico com o objetivo de reprimir o garimpo ilegal no rio Tapajós nas regiões de Itaituba, Jacareacanga, Moraes de Almeida, Creporizinho e Creporizão, no Pará. A ação é um desdobramento do inquérito instaurado pela PF para investigar as causas da mudança de coloração do rio Tapajós, que apresenta aspecto barrento – o que seria uma consequência da explosão do garimpo na região.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

Leia também

Notícias
16 de fevereiro de 2022

Garimpeiros protestam contra fiscalização ambiental no Pará

O protesto começou na madrugada desta quarta e bloqueou a sede do ICMBio no município paraense de Itaituba. Polícia Federal faz operações na região contra garimpo ilegal e desmatamento

Notícias
24 de janeiro de 2022

Satélites apontam garimpo como responsável pela mudança da cor da água do rio Tapajós

Análise de imagens de satélite feita pelo MapBiomas aponta evidências de que a coloração diferente nas águas do rio paraense é resultado da explosão do garimpo na região

Notícias
14 de fevereiro de 2022

Especialistas e ambientalistas criticam criação de programa que estimula garimpo na Amazônia

Por decreto, Bolsonaro lança programa de apoio à “mineração artesanal” com foco no bioma amazônico e facilita procedimentos de outorga minerária

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.