Notícias

Mapeamento de plantas brasileiras identifica potencial de espécies da Caatinga

Levantamento realizado pela Fiocruz em parceria com Ministério da Agricultura identificou 26 produtos da biodiversidade brasileira com potencial de mercado e de fomento às comunidades tradicionais

Duda Menegassi ·
28 de abril de 2021 · 4 anos atrás

Dia 28 de abril é celebrado o Dia Nacional da Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. Em homenagem à data, pesquisadores responsáveis por um mapeamento pioneiro de 26 produtos com potencial de mercado que têm como matéria-prima espécies vegetais da flora brasileira, destacaram três espécies vegetais da Caatinga. O levantamento das cadeias de valor em plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias do Brasil é parte do projeto ArticulaFito, executado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Entre os destaques ‘caatingueiros’ estão o extrato de melão de São Caetano, extrato de arnica e cera de carnaúba, espécies com papel promissor para o mercado de cosméticos naturais.

O ArticulaFito tem como objetivo estabelecer estratégias de governança entre os diferentes atores de cada uma das cadeias de valor, entre eles os tomadores de decisão; identificar os desafios; fornecer capacitação e apoio técnico aos empreendimentos; promover a conservação e o uso sustentável dos recursos; valorizar as comunidades tradicionais e os agricultores familiares; assim como os saberes e usos tradicionais.

“Por terem agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais em suas bases produtivas, essas cadeias agregam valores étnicos, históricos, sociais, culturais e ambientais aos seus produtos. Assim, o fortalecimento das cadeias de valor de produtos da sociobiodiversidade representa grande oportunidade para o desenvolvimento econômico local, a partir de ações que integrem produção sustentável e geração de renda, aliando conservação da biodiversidade e empoderamento social das populações extrativistas e dos agricultores familiares”, explica a coordenadora técnica e executiva do ArticulaFito, Joseane Carvalho Costa, pesquisadora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

No caso das plantas da Caatinga, por exemplo, um dos desafios identificados na cadeia produtiva da cera de carnaúba (Copernicia prunifera) é que atualmente 80% da produção é vendida como matéria-prima para o mercado externo e retorna em produtos com alto valor agregado para o consumidor brasileiro, além de não trazer retorno financeiro justo para as comunidades tradicionais.

“Um grande desafio é a repartição justa e equitativa dos benefícios adquiridos a partir de produtos da sociobiodiversidade, uma vez que grande parte do lucro obtido com essas atividades não retorna para as comunidades tradicionais e os agricultores familiares que estão na base produtiva”, pontua Joseane.

Na cadeia do melão de São Caetano (Momordica charantia), a pesquisadora conta que é preciso estabelecer preços justos entre os diversos elos da cadeia produtiva e promover a valorização das finalidades medicinais da espécie, que vem sendo cada vez mais estudada. “O mapeamento indica que há oportunidades para ampliar a produção, a comercialização e trazer benefícios diretos para a comunidade. Está em sua visão de futuro ingressar no mercado de fitocosméticos (sabonetes sólidos e líquidos, shampoos, géis e cremes, etc) e no de fitoterápicos (emulsões, pomadas e géis)”, descreve a pesquisadora.

A extração de arnica (Arnica montana e/ou Solidago Virgaurea) é um bom exemplo que já gera renda para as comunidades produtoras, apesar de existir um potencial ainda maior de ganho, a partir de uma melhor articulação entre empresas e comunidades, e de uma estruturação justa de repartição dos benefícios oriundos da venda dos produtos finais.

O levantamento foi feito junto com agricultores familiares, extrativistas, representantes da indústria, do comércio e de instituições públicas, além da equipe técnica do ArticulaFito, e percorreu sete estados brasileiros: Rio Grande do Norte, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Tocantins, Amapá e Pará.

No total, o mapeamento realizado pelo ArticulaFito identificou 26 produtos da biodiversidade brasileira – oriundos da Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado – com potencial de mercado, são chás, colírios, repelentes, hidratantes e até azeites para uso na gastronomia (leia os relatórios do projeto). Confira a lista completa:

Fitoterapia: extrato seco e chá medicinal de calêndula; extrato seco e chá medicinal de espinheira santa; chá medicinal de guaco; produtos tradicionais de capim cidreira; pó de carapiá; semente de umburana; chá de cavalinha; pílula artesanal de babosa; chá medicinal de hortelã; semente de sucupira; extrato de pilocarpina das folhas de jaborandi.

Cosméticos: vagem de fava d’anta; extrato de melão de São Caetano; extrato de arnica; cera de carnaúba; óleo e sabonete de copaíba; óleo de andiroba; óleo de pracaxi; repelente de andiroba; óleo e cosméticos de buriti; manteiga de tucumã e óleo do bicho do tucumã.

Alimentos: óleo de macaúba; óleo extravirgem e farinha de babaçu; amêndoas de castanha do Pará; jambu in natura e cachaça de jambu; bacuri in natura, polpa, semente e casca e manteiga de bacuri.

Leia também

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

Leia também

Reportagens
8 de julho de 2020

Pesquisa mapeia degradação ambiental em remanescentes de Caatinga

Estudo considerou as pressões antrópicas próximas aos fragmentos de vegetação nativa e revelou que porções norte e leste do bioma são as potencialmente mais perturbadas

Notícias
16 de dezembro de 2019

Caatinga possui quase duas vezes mais espécies por área que Amazônia

Lista atualizada de plantas com flores das florestas e bosques sazonais da Caatinga registra 3.347 espécies, 962 gêneros e 153 famílias, com 15% de endemismo

Salada Verde
13 de setembro de 2010

Exploração sustentável de plantas medicinais e aromáticas

Regularização da exploração e comércio de plantas silvestres deve impulsionar a preservação de espécies ameaçadas.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 1

  1. Paulo diz:

    Será que os EE.UU.AA , a Europa e demais fizeram a menina veneno do Minist. da Agricultura se mexer.

    Será.