Notícias

Mata Atlântica ganha duas novas espécies de árvores já ameaçadas

Recém-descritas, pesquisadores encontraram poucas populações de uvaia-pitanga e da cereja-amarela-de-niterói e alertam para risco de extinção. Árvores foram encontradas no litoral fluminense

Duda Menegassi ·
2 de março de 2023 · 1 anos atrás

Reduzida a fragmentos de sua cobertura vegetal original, a Mata Atlântica ainda é capaz de surpreender pesquisadores, como mostra o recente achado de duas novas espécies de árvores frutíferas no bioma, a poucos quilômetros da metrópole do Rio de Janeiro. A uvaia-pitanga (Eugenia delicata) e a cereja-amarela-de-niterói (Eugenia superba) foram descobertas dentro de áreas protegidas nos municípios de Niterói e Maricá, no litoral fluminense. Com baixo número de indivíduos e ocorrências restritas, as duas espécies já podem ser consideradas sob risco de extinção, como alertam os cientistas. 

As descobertas foram descritas em um artigo publicado em fevereiro na revista científica Kew Bulletin, publicação do Royal Botanic Gardens, da Inglaterra. A pesquisa é assinada por um time de sete cientistas do Jardim do Botânico do Rio de Janeiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Universidade Federal do Ceará (UFCE).

O estudo começou a partir de coleções botânicas anteriores, onde duas amostras em particular chamaram a atenção dos pesquisadores, pelo potencial de se tratarem de novas espécies. Apenas com as amostras, entretanto, não havia material suficiente para chegar a essa conclusão e foi organizado um esforço colaborativo em busca das peças que faltavam nesse mistério. As idas a campo compensaram e resultaram na descrição de duas novas espécies de árvores frutíferas para a Mata Atlântica fluminense.

Com troncos de cerca de 12 metros de altura, a uvaia-pitanga chama atenção com seus frutos alaranjados e suculentos que aparecem entre setembro e janeiro, de sabor azedo e aromático.  Já a floração, que ocorre entre maio e setembro, desabrocha delicadas pétalas brancas e filamentos coroados por pontos alaranjados.

Enquanto isso, a cereja-amarela-de-niterói dá frutos de cor amarelada, que amadurecem a partir de dezembro, e apresenta flores grandes com pétalas verdes e grossas. A árvore apresenta um tronco avermelhado de 15 metros de altura e encantou tanto os pesquisadores que, em seu batismo científico, “superbus”, fazem uma referência ao aspecto soberbo da árvore e do local onde foi encontrada, cercada por outras grandes árvores.

Cereja-amarela-de-niterói. Foto: Divulgação/Thiago Fernandes

Diferentes de aparência, mas em situações parecidas de alerta. A área de ocorrência da uvaia-pitanga é estimada em 42 km², com populações registradas em apenas seis localidades. Ainda que se tratem de áreas protegidas, como o Parque Estadual da Serra da Tiririca, os pesquisadores alertam que “pode-se inferir um declínio contínuo na área, extensão e/ou qualidade do habitat, uma vez que seus pontos de ocorrência estão ameaçados principalmente pela expansão urbana e incidência de incêndios”. Por isso, sugeriram que a espécie seja classificada como Em Perigo.

No caso da cereja-amarela-de-niterói a situação é ainda mais grave. A árvore tem uma área de ocorrência de apenas 1,5 km² e é encontrada apenas em três pequenos fragmentos florestais vizinhos da cidade e do mar. Ao todo, os botânicos contabilizaram apenas quatro indivíduos adultos na área pesquisada. 

“Além disso, suas pequenas subpopulações estão isoladas umas das outras (ou seja, severamente fragmentadas). Embora a espécie ocorra apenas dentro de áreas protegidas, espera-se que a qualidade de seu habitat diminua continuamente devido aos efeitos da fragmentação, crescimento urbano e fogo”, alertam no artigo. Por isso, a cereja-amarela-de-niterói deve ser considerada Criticamente Em Perigo, o grau mais crítico de ameaça de extinção, sugerem os pesquisadores.

Para enfrentar os riscos que circundam as espécies recém-descobertas, os botânicos apostam nos seus frutos comestíveis e suas belas flores para incentivar que as árvores sejam usadas para fins ornamentais e frutíferas e, com isso, promover também sua conservação ex-situ, ou seja, fora do ambiente natural.

As árvores estão distribuídas em localidades no Parque Estadual da Serra da Tiririca, Parque Natural Municipal de Niterói, Monumento Natural Municipal da Pedra de Itaocaia e na Área de Proteção Ambiental do Morcego, da Fortaleza de Santa Cruz, dos Fortes do Pico e do Rio Branco. 

O gênero Eugenia é um dos mais ricos da flora brasileira, com 407 espécies, e inclui plantas como pitangas, uvaias, pitombas e grumixamas. Típica de áreas tropicais, o gênero é amplamente representado ao longo da Mata Atlântica, com 256 espécies, sendo 209 de ocorrência restrita ao bioma. Apesar do alto número, as descobertas continuam, como destacam os pesquisadores. E restam ainda muitas lacunas de conhecimento para serem desvendadas.

Frutos da cereja-amarela-de-niterói. Foto: Divulgação/Thiago Fernandes
  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

Leia também

Notícias
17 de fevereiro de 2023

Raridade: população selvagem de pau-brasil é identificada na Trilha Transcarioca

Árvores foram descobertas com ajuda da ciência cidadã por voluntário da trilha, no Parque Estadual da Pedra Branca, e validadas com apoio do Jardim Botânico

Notícias
6 de fevereiro de 2023

Descoberta de maracujá ameaçado ganha nome indígena em aceno de resistência

O maracujá-puri foi descoberto num fragmento florestal rodeado por pastos numa área desprotegida da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, e é considerado criticamente ameaçado

Notícias
30 de novembro de 2022

Planta é descoberta no Espírito Santo, já sob risco de extinção

Pesquisadores identificaram uma nova espécie peculiar de tarumã nas montanhas do Espírito Santo que foge das regras pro gênero botânico

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 37

  1. Samuel Chrysostomo diz:

    Olá, Duda Menegassi, sou morador das cercanias da Serra da Tiririca. Gostei muito da sua reportagem.

    Me intrigou o fato de terem sido descobertas tão próximas a nós e ainda stem tão desconhecidas. Graças a Deus por esses pesquisadores. E a você também por divulgar.

    Como moro em um condomínio, e li em sua reportagem que se incitou o plantio dessas árvores ex situ, gostaria de saber como obter sementes ou até se existem mudas.

    Agradeço desde já


  2. Leila Sá Bispo de Oliveira diz:

    Olá! Moro em uma sítio em Cachoeiro de Itapemirim, ES. Estamos em processo de implantação de SAFs na propriedade e gostaria de saber se existe algum projeto de reprodução de mudas da uvaia-pitanga e da cereja-amarela-de-Niterói.


    1. Duda Menegassi diz:

      A reportagem entrou em contato com o pesquisador responsável pela descoberta das árvores e até o momento não há nenhuma ação para coleta e distribuição de semente das duas árvores recém-descobertas. Por estarem dentro de unidade de conservação, este tipo de iniciativa depende de aprovação junto ao órgão gestor


  3. ROBERTO BEVILAQUA RANGEL diz:

    Belo artigo. Meu avô, engenheiro agrônomo Eugênio dos Santos Rangel, sentiria-se honrado com o trabalho desses pesquisadores em recuperar essas árvores da Mata Atlântica.


  4. CRISTIANE KLEIN diz:

    Moro em uma área de preservação ambiental e a anos faço registros de fungos e cogumelos, frutíferas e outras espécies.
    Assim como de animais também.
    Estou em busca de alguém que se interesse pelo assunto e gostaria de catalogar oficialmente com nomes científicos todos eles.
    Penso que dentro das milhares de fotos exista algum que ainda não tenha sido registrado ou catalogado.
    Caso haja interesse deixo o contato do Reffúgio.
    Att
    Khrys
    (11)9 9855 7933


  5. CRISTIANE KLEIN diz:

    Olá, bom dia. Me chamo Khrys.
    Tudo bem?
    Moro em uma área de preservação ambiental e a anos faço registros de fungos e cogumelos, frutíferas e outras espécies.
    Assim como de animais também.
    Estou em busca de alguém que se interesse pelo assunto e gostaria de catalogar oficialmente com nomes científicos todos eles.
    Penso que dentro das milhares de fotos exista algum que ainda não tenha sido registrado ou catalogado.
    Caso haja interesse deixo o contato do Reffúgio.
    Att
    Khrys
    (11)9 9855 7933


  6. Geraldo Luiz Dilly diz:

    Olá! Excelente trabalho! Gostaria de receber sementes e/ou mudas destas duas espécies para plantar em minha propriedade no nordeste mineiro.


    1. Duda Menegassi diz:

      A reportagem entrou em contato com o pesquisador responsável pela descoberta das árvores e até o momento não há nenhuma ação para coleta e distribuição de semente das duas árvores recém-descobertas. Por estarem dentro de unidade de conservação, este tipo de iniciativa depende de aprovação junto ao órgão gestor


  7. Rosacarmo diz:

    Parabéns aos pesquisadores por essas descobertas! Queria saber quem são? Os pesquisadores q poderiam falar sobre como descobriram que são novas espécies.


    1. Duda Menegassi diz:

      Na reportagem tem o link para o artigo da descoberta onde estão os nomes de todos os pesquisadores envolvidos


  8. Luiz Guilherme diz:

    Porque não reproduzem as mudas em viveiro? E distribuem para quem tem sítio e está disposto a plantar? Só descobrir novas espécies e não reproduzi-las não adianta nada.


    1. Duda Menegassi diz:

      A reportagem entrou em contato com o pesquisador responsável pela descoberta das árvores e até o momento não há nenhuma ação para coleta e distribuição de semente das duas árvores recém-descobertas. Por estarem dentro de unidade de conservação, este tipo de iniciativa depende de aprovação junto ao órgão gestor


  9. Maria Helena Portal De Almeida diz:

    Olá , me chama Maria Helena e moro em Osório no RS , eu tenho no meu pátio mudas de uvaia pitanga amarela … Elas se reproduzem mto fácil suas sementes germinam mto bem … Nossa cidade possui o morro da borrusia que é parte da mata atlântica e provavelmente aqui deve haver muitas árvores destas espécies pois os pássaros são muito admiradores desta fruto , eu amo come-las . Parabéns pela matéria .


    1. JOSE HENRIQUE MUNHOZ DE JESUS diz:

      Maria Helena, se possóvel gostaria de receber frutos ou semenres para plantar na área que disponho. Fone de contato (47)99982-2069


    2. Elissandro diz:

      Ola Maria sou Elissandro moro no Maranhao tenho interesse nas semente!!!os frutos são comestíveis?


    3. Samuel Chrysostomo diz:

      Olá Maria Helena, boa tarde. Será que teria maneira de enviar sementes para nós? Tenho interesse no plantio. Rm caso afirmativo, por favor entrar em contato através do e-mail: [email protected]. Eu obviamente me faria responsável por suas despesas de envio.

      Muito grato

      Samuel


  10. Joaquim Blachechen diz:

    Eu moro em Guaramirim SC, tenho uvai, correga todo ano , nasce muito fácil de semente.


  11. Abel diz:

    Bom dia, meu nome é Abel e eu preservo uma área de cerca de 100ha no município de Magé…a propriedade está situada em Suruí entre o Rio Suruí e o Canal Suruí Mirim.
    Como é uma área de Mata Atlântica, gostaria de introduzir essas especies!
    No momento estamos acertando uma parceria com Os Guardiões do Mar, para reflorestar uma área de 6,5ha do Manguezal que foi invadida por um tipo de samambaia.
    Gratidão por seu trabalho!


    1. Duda Menegassi diz:

      A reportagem entrou em contato com o pesquisador responsável pela descoberta das árvores e até o momento não há nenhuma ação para coleta e distribuição de semente das duas árvores recém-descobertas. Por estarem dentro de unidade de conservação, este tipo de iniciativa depende de aprovação junto ao órgão gestor


  12. Marcelo Silveira diz:

    Boa noite! Meu nome é Marcelo Silveira e li a reportagem sobre 2 novas espécies em extincao… gostaria de entrar em contato com os pesquisadores, pois gostaria saber mais detalhes das plantas citadas principalmente da cereja amarela-de-Niterói, para auxiliar na busca que novos exemplares em Santa Catarina. Obrigado


    1. Duda Menegassi diz:

      No artigo publicado (o link está na matéria) tem o nome de todos os pesquisadores e o e-mail do pesquisador que liderou o trabalho


  13. A divulgação, fará com que pessoas sensíveis à causa da preservação, possam empreender meios de proteção e povoar outros ecossistemas semelhantes ex-situ. Povoar estes ambientes com animais e aves, nativos, com alto poder de consumo e propagação, tb auxiliará. Havendo temor da expansão urbana, seja por ocupação ou predação, que se incremente leis restritivas e punitivas tanto aos infratores quanto à quem faltar com a fiscalização e proteção.


  14. Haveria disponibilidade de sementes ou mudas? Participo de um coletivo de reflorestamento com de conativas de mata Atlântica e poderíamos tentar plantar uvaia pitanga e a cereja amarela de Niterói


    1. Duda Menegassi diz:

      A reportagem entrou em contato com o pesquisador responsável pela descoberta das árvores e até o momento não há nenhuma ação para coleta e distribuição de semente das duas árvores recém-descobertas. Por estarem dentro de unidade de conservação, este tipo de iniciativa depende de aprovação junto ao órgão gestor


  15. Antônio Carlos Rodrigues diz:

    Aparentemente, a foto dos frutos, lembra-me a nossa “Azedinha”, muito comum no Cerrado. Estou errado? Pertence a mesma família?


  16. Marineide V. C. Silva diz:

    E muito bom saber que a cada dia se descobre mais espécies em nosso espaço florestal. Difícil é aceitar que já está em linha de extinção o que nem se conhecia; há que se fiscalizar o avanço nas áreas de preservação ambiental. A reserva Darci Ribeiro está sendo invadida e não se consegue falar com os órgãos responsáveis de fiscalização. Com certeza pode ter plantas ou árvores nativas( como todas ) que precisam ser preservadas .


  17. Nestor Renato de Oliveira diz:

    Parabéns 👏👏👏,vamos acompanhando, para entender sobre as espécies.


  18. Tereza Hirs diz:

    Venham para o Marsilac, na cidade de São Paulo… aqui tem muita uvaia, cereja, araçá, guaçatonga, maracujá silvestre…


    1. Samuel Chrysostomo diz:

      Olá Tereza, boa tarde. Vocês tem araçá-boi? Na minha infância havia um pé na casa da minha vó e o suco do fruto é delicioso. Vocês tem essa espécie por aí?


  19. Jaziel Rabelo diz:

    Sempre se posta o que está acontecendo, seria interessante publicar o que se esta fazendo ( Ou tentando fazer) para reverter, assim poderíamos ver como se pode ajudar


  20. Paulo Meirelles diz:

    Deixar um comentário aqui é mais difícil do que receber um rim!


    1. Olá Paulo, tudo bem? Cientes do rico espaço de debate que a Caixa de Comentários do ((o))eco desempenha durante os 19 anos de organização, nós prezamos muito pela qualidade e respeito no debate. Por isso, os comentários necessitam de uma verificação da nossa equipe para evitar spam, discursos de ódio ou qualquer outra infração às nossas políticas de comentários, que podem ser lidas na íntegra aqui.

      Agradeço muito por contribuir e não desista de nós! 🙂

      Abs


    2. Emilio Mori diz:

      Deve-se coletar as sementes e fazer mudas.


      1. Duda Menegassi diz:

        A reportagem entrou em contato com o pesquisador responsável pela descoberta das árvores e até o momento não há nenhuma ação para coleta e distribuição de semente das duas árvores recém-descobertas. Por estarem dentro de unidade de conservação, este tipo de iniciativa depende de aprovação junto ao órgão gestor


  21. Paulo Meirelles diz:

    A SOSMA deveria ter um programa de distribuição de sementes disponível a todos os cidadãos. Eu mesmo cultivo em minha casa algumas mudas específicas da Mata Atlântica mas tenho enorme dificuldade em achar os frutos para consumo e reprodução.


    1. Joaquim AP. Carvalho diz:

      Concordo com vc Paulo, eu também gostaria de receber sementes , mesmo que tenha custos. E me interesso pelas duas novas espécies de árvores, cerejeira e uvaia. As uvaias são sensacionais para sucos e ornamentação.


      1. Duda Menegassi diz:

        A reportagem entrou em contato com o pesquisador responsável pela descoberta das árvores e até o momento não há nenhuma ação para coleta e distribuição de semente das duas árvores recém-descobertas. Por estarem dentro de unidade de conservação, este tipo de iniciativa depende de aprovação junto ao órgão gestor