Ex-ministro do Meio Ambiente no governo Lula (2008-10) e ex-secretário Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc é candidato à reeleição como deputado estadual pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em entrevista a ((o))eco, ele explica porque classifica o atual momento do país como “uma catástrofe ecológica de grandes dimensões” e defende que combater as milícias é uma prioridade ambiental.
Minc é taxativo em dizer que o atual governo federal apenas promoveu retrocessos. “Em dois anos que eu estive à frente do Ministério, a gente reduziu à metade o desmatamento da Amazônia – aquelas operações “Boi Pirata” eram toda semana –, criamos o Fundo Clima e o Fundo Amazônia. O Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a ter metas de redução das suas emissões de carbono. E o que o (ministro Ricardo) Salles e o “Bolsovírus” (presidente Jair Bolsonaro) fizeram? Ataram as mãos do Ibama e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), e desqualificaram o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), uma instituição internacionalmente reconhecida”, diz o candidato.
Esse silenciamento teria como objetivo reduzir a atenção sobre o aumento do desmatamento. “Por que? Porque o INPE disse que o desmatamento estava aumentando. Parece aquela história dos imperadores antigos quando algum dos mensageiros trazia uma notícia ruim, decapitavam o mensageiro”, diz.
Entre agosto de 2021 e julho de 2022, mais de 10,5 mil quilômetros quadrados de floresta foram destruídos em todos os biomas do país. Essa área equivale a sete vezes o tamanho do município de São Paulo. Considerando apenas os dados deste ano, de janeiro a julho, a destruição atingiu mais de 6,5 mil quilômetros quadrados, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Parte da solução passaria pela retomada dos investimentos no Fundo Amazônia, diz o deputado. Criado com a finalidade de captar doações para investimentos em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal, o Fundo desde 2019 não recebe novos aportes.
Minc também relembrou a importância do fortalecimento dos órgãos ambientais. Um dos exemplos citados foi a eficácia no passado com a “Operação boi pirata”. A iniciativa foi fruto de uma parceria entre o Ibama, ICMBio, Polícia Federal e INPE, e teria tido como resultado a redução do desmatamento na Amazônia pela metade entre 2009 e 2010. Durante a Operação, além de multas por desmatamento ilegal, ocorriam apreensões do rebanho que ocupava unidades de conservação e terras públicas na Amazônia Legal.
Futuro e luta contra as milícias
Entre as suas propostas para uma nova gestão na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Minc afirma que pretende continuar as ações que implantou no estado quando secretário de Meio Ambiente, entre 2007, 2011 e 2013.
A criação de 16 unidades de conservação e a lei do ICMS verde, que concede recursos aos municípios que acabarem com os lixões, criarem unidades de conservação e melhorarem a qualidade da água com saneamento, foram algumas das questões destacadas.
“O Rio era um dos três piores estados do Brasil em percentual de lixo em lixões. Tinha praticamente 90% do lixo em lixões e 10% em aterros sanitários. Passados oito anos, o Rio tem quase 90% do seu lixo em aterros sanitários e cerca de 12% em lixões”, diz Minc.
Para continuar os avanços ambientais, Minc também defende ser necessário combater as milícias – grupos paramilitares que dominam cerca de 50% do território do Rio de Janeiro.
“As milícias são um dos grandes problemas do Rio de Janeiro. O estado foi sendo omisso no início e muitos pensavam que a milícia era até um mal menor face ao tráfico. Hoje tá claro que a milícia e o tráfico são parceiros. As milícias, além de tudo o que significa de opressão para o cidadão, cobrar mais caro pelo gás, pela gatonet, tudo. É uma extorsão geral”, diz.
Esses grupos também estariam causando danos ambientais relevantes. “Elas ocupam áreas protegidas. Então esse é um dano muito grande, porque desmatam, dão golpe, lesam os consumidores, [e] mais avançam em áreas vulneráveis, que são áreas de proteção das lagoas, áreas que depois desmatadas vão aumentar as inundações e as mortes decorrentes disso, como em vários outros lugares. Sem contar a poluição das lagoas.”, diz Carlos Minc.
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