Notícias

Monitoramento do Cerrado continua até dezembro, mas verba para 2022 ainda não é garantida

Ministério de Ciências e Tecnologia está em tratativa com Agricultura para alocação de equipe do INPE dentro de programa do MAPA, como forma de manter as atividades

Cristiane Prizibisczki ·
1 de setembro de 2021 · 3 anos atrás

O monitoramento do desmatamento no Cerrado realizado pelo INPE, que estava sob risco de ser descontinuado em setembro por falta de verbas, está garantido até o final do ano.  No entanto, o recurso para sua continuidade a partir de 2022 ainda é incerto.

A geração de alertas de desmatamento (Deter-Cerrado) e o monitoramento anual para o bioma (Prodes-Cerrado) são financiados pelo Banco Mundial, a partir do Programa de Investimento Florestal (FIP). 

Previsto para durar até 2020, o FIP Cerrado foi estendido por mais um ano. Mas, assim como revelou ((o))eco em junho, os recursos não seriam suficientes até dezembro de 2021 e já em setembro as equipes começariam a ser desmobilizadas. Neste cenário, os alertas de desmatamento não seriam mais gerados para o bioma a partir do final de agosto.

No entanto, segundo Cláudio Almeida, pesquisador do INPE responsável pelo monitoramento, o Instituto conseguiu remanejar o orçamento ainda disponível, garantindo que os trabalhos continuem até o último mês de 2021. 

“Até final desse ano está garantido que vai funcionar normal […] como o dólar está super alto e teve despesas que a gente não fez, na última reunião que fizemos do Programa a gente viu que dava para estender [o orçamento] até dezembro”, disse o coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas do Instituto.

Como solução para falta de orçamento em 2022, Almeida explicou que o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a quem o INPE é vinculado, tem negociado com o Ministério da Agricultura (MAPA) a alocação da equipe do FIP Cerrado em outro programa mantido pelo Banco Mundial: o FIP Paisagem, gerido pelo Serviço Florestal Brasileiro, do MAPA.

“[A proposta de realocação de equipe] já passou em duas análises internas, onde teve parecer favorável. Temos uma boa perspectiva, mas ainda não foi oficializada a garantia de que vai haver recurso para ano que vem. Continua nas mãos do Serviço Florestal”, explicou Almeida. 

Esta solução, de acordo com Almeida, valeria somente para 2022. A partir de 2023, a incerteza sobre a continuidade do programa permanece.

O possível fim do monitoramento do desmatamento no Cerrado gerou manifestações contrárias entre cientistas, grupos da sociedade civil e até da indústria da soja, que depende dos dados gerados pelo INPE para provar em seus acordos comerciais que sua commoditie é livre de desmatamento.

O programa de monitoramento do Cerrado do INPE é referência mundial. Seus dados são usados em pesquisas científicas, na formulação de políticas públicas para controle de desmatamento e também em programas internacionais, como Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) e REED+.

Cerca de 44% do Cerrado já foi destruído para dar lugar à agropecuária. Só em 2020, o bioma perdeu 7,3 mil km², alta de 12,3% em relação ao ano anterior.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Notícias
18 de junho de 2021

Monitoramento do desmatamento no Cerrado pode parar em agosto por falta de verba

Mapeamento anual também deve ser descontinuado a partir de dezembro. Governo ainda não apresentou alternativa para fim dos programas Deter e Prodes-Cerrado

Notícias
27 de abril de 2021

Verba para monitoramento do desmatamento e queimadas cai 60% em 10 anos

Com vetos presidenciais na LOA 2021, INPE terá somente R$ 2,6 milhões para monitorar queimadas no Brasil e desmatamento na Amazônia

Notícias
14 de junho de 2021

Deputados e ambientalistas cobram resposta sobre desligamento de supercomputador do INPE

Em plena crise hídrica, INPE anunciou que, por falta de verbas, terá que desligar o equipamento responsável por previsão de estiagens no país

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.