Notícias

Noruega corta 50% dos repasses para o Fundo Amazônia

De R$ 400 milhões, o Brasil passará a receber aproximadamente R$ 196 milhões. Ministro José Sarney declara que ‘Só Deus pode garantir a diminuição do desmatamento’

Sabrina Rodrigues ·
22 de junho de 2017 · 7 anos atrás
A Noruega corta em 50% os repasses para o Fundo Amazônia. Foto: José Cruz/ Agência Brasil/Flickr.
A Noruega corta em 50% os repasses para o Fundo Amazônia. Foto: José Cruz/ Agência Brasil/Flickr.

 

O governo da Noruega cumpriu a ameaça de cortar os repasses para o Fundo Amazônia diante da alta das taxas de desmatamento e da série de propostas em discussão no governo e no Congresso para enfraquecer a proteção ambiental no Brasil. O corte será de 50%, ou seja, de R$ 400 milhões para aproximadamente R$ 200 milhões. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (22), na presença do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, em Oslo.

“Os repasses para o Fundo Amazônia são baseados em resultado”, afirmou o ministro norueguês de Meio Ambiente, Vidar Helgesen. Perguntado pelos jornalistas se ele poderia garantir ao ministro norueguês se o desmatamento vai diminuir, Sarney Filho respondeu: “Só Deus pode garantir isso, mas eu posso garantir que todas as medidas para diminuir o desmatamento foram tomadas. E a nossa expectativa e esperança é que esse desmatamento diminua. ”

A Noruega é o maior financiador do Fundo Amazônia, que foi criado em 2008, e desde então, o Brasil já recebeu do país nórdico o equivalente a R$ 2,8 bilhões. Quando o acordo foi assinado pelos dois países, a condição seria de que os repasses seriam de acordo com as taxas de desmatamento.

Em carta direcionada a José Sarney Filho, o ministro Vidar Helgesen reconhece que o desmatamento na Amazônia alcançou um “feito impressionante” entre os anos de 2005 e 2014, mas ressaltou, que em 2015 e 2016, o desmatamento na Amazônia brasileira viu uma tendência de crescimento preocupante.

O ministro José Sarney Filho disse que o aumento do desmatamento se deve a cortes no orçamento de proteção ambiental na administração anterior.

No ano passado, pela segunda vez consecutiva, o desmatamento na Amazônia aumentou. O INPE calcula que a Amazônia perdeu 7.989 quilômetros quadrados (km²) entre agosto de 2015 a julho de 2016. Foi o pior ano no desmatamento na Amazônia desde 2008, quando 12.911 km² de floresta desapareceram no maior bioma do país.

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente disse não ter recebido qualquer comunicado oficial a respeito do corte. “Durante a reunião bilateral entre os ministros brasileiro e norueguês, nesta quinta-feira, em Oslo, não foi anunciado qualquer corte de recursos. Tampouco o Ministério do Meio Ambiente do Brasil recebeu, até momento, qualquer comunicado oficial sobre o assunto”, afirmou, em nota, a assessoria de comunicação do MMA.

Repercussão

A decisão da Noruega chegou ao Brasil instantaneamente. O ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc relembra que durante o tempo em que foi chefe da Pasta, o desmatamento foi reduzido pela metade e criticou a política ambiental do governo Temer, o que chamou de retrocesso ambiental.

“Nós conseguimos, efetivamente, avançar em alguns campos. Agora, por pressão da Bancada Ruralista, o Ibama está de mãos atadas, projetos que tramitam no Congresso querem reduzir as áreas ambientais e as terras indígenas. O desmatamento da Amazônia aumentou em 30%, e, agora, recebemos essa triste notícia! Por causa desse retrocesso, a Noruega, como principal doadora, contribuindo com 80% do Fundo da Amazônia, anuncia que irá reduzir pela metade esse recurso que tanto nos ajudou para avançarmos contra o desmatamento”, declarou Carlos Minc, em nota.

 

Leia Também

Noruega dá bronca em Brasil sobre floresta, às vésperas de visita de Temer

Fundo Amazônia financiará monitoramento da floresta fora do Brasil

Amazônia: em 4 anos, desmatamento em Unidades de Conservação quase dobra

 

  • Sabrina Rodrigues

    Repórter especializada na cobertura diária de política ambiental. Escreveu para o site ((o)) eco de 2015 a 2020.

Leia também

Reportagens
20 de março de 2017

Amazônia: em 4 anos, desmatamento em Unidades de Conservação quase dobra

Estudo da ONG Imazon aponta o aumento e lista as áreas mais críticas, que se concentram em UCs de uso sustentável. Pará e Rondônia lideram ranking

Notícias
14 de maio de 2013

Fundo Amazônia financiará monitoramento da floresta fora do Brasil

A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) receberá R$ 23 milhões do Fundo Amazônia para o monitoramento do desmatamento na floresta, através do BNDES.

Notícias
19 de junho de 2017

Noruega dá bronca em Brasil sobre floresta, às vésperas de visita de Temer

Ministro do Meio Ambiente norueguês manda carta a Sarney dizendo que “futuro da parceria” com Brasil dependerá da reversão da alta do desmatamento na Amazônia

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 4

  1. Estou lendo neste artigo que desde 2008, a Norguega pagou 2.8 bilhões de reais para a proteção do meio ambiento no Brasil. Seria interessante saber quanto foi desviado pelos numerosos consultores e politicos atuando no ramo. 50%? Ou quase todo?
    Hermann Redies, RPPN Mãe-da-Lua, Itapajé-CE.


  2. Flavio Mello diz:

    Não se pode creditar ao governo Temer, que possui menos de 1 ano no poder, mas o esforço têm sido permanente para se perder os investimentos, da farra das hidreletricas para financiamento de campanhas de PT e PMDB, ao apoio ao destruição das politicas publicas de conservação, com direito ao desmonte do MMA e Ibama, incluido código florestal e financiamento com dinheiro público do BNDS a gigantes como a JBS… Em algum momento, o brasileiro terá que levar a sério estas questões e deixar o efeito manada de apoio ideológico irrestrito para a pelegada….Afinal, nem sempre os fins justificam os meios…


  3. clovis borges diz:

    De se lamentar muito a decisão do governo norueguês. É evidente a existência de uma política nacional do governo brasileiro que apregoa a limitação de recursos para a agenda da conservação, o que inclui a desestruturação dos órgãos ambientais e um esforço ordenado de modificação da legislação. Levando-se em conta essa realidade, é coerente esperar que financiadores a fundo perdido desanimem e tratem aplicar sanções. No entanto, a falta desses recursos em específico, recairá, certamente, sobre as poucas instâncias que defendem a aplicação de medidas de contenção do desmatamento, deixando-as ainda mais fragilizadas. Um castigo mais duro e efetivo, de parte de países como a Noruega, poderia ser a quebra de contratos econômicos com o Brasil, esses sim sentidos na carne pelos políticos, governo e iniciativa privada. Que boicotem seus negócios com o Brasil, até que tenhamos uma condição mínima de aportar uma política de conservação aceitável e que apresente resultados concretos. Se não for por consciência, que seja pela imposição do mercado.


  4. paulo diz:

    Falta gente séria, com carater nesta terra Brasileira.

    Principalmente no executivo e legislativo do governo federal e estadual.

    Inimigos da Pátria.