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O mergulho que faz bem para a cabeça

Estudo do Instituto do Mar da Unifesp mostrou os efeitos positivos do mergulho recreativo em Áreas Marinhas Protegidas durante a pandemia da covid-19

Bruna Martins ·
2 de maio de 2022 · 2 anos atrás

Que o contato direto com a natureza ajuda na redução do estresse e na manutenção da sensação de bem estar, é algo que os visitantes de áreas verdes sempre suspeitavam. Em março, um artigo publicado no Journal of Outdoor Recreation and Tourism mostrou o quão importante foi o contato com o meio ambiente durante o período da pandemia para um grupo de mergulhadores recreativos que frequentam o Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago dos Alcatrazes, no litoral norte do Estado de São Paulo.

O estudo “Efeitos da pandemia de COVID-19 na experiência de mergulho em áreas marinhas protegidas”, com dados comparativos disponíveis desde o período anterior à crise sanitária até março de 2021, aplicou um questionário aos mergulhadores, coletando seus dados socioeconômicos, preferências, motivações, experiências, e comparou os resultados com os dados obtidos no período anterior à pandemia. Foi descoberto, então, que a qualidade da experiência do mergulho permaneceu alta, o que sugere que a combinação do contato com o ambiente preservado e a adaptação a favor da segurança do visitante foram suficientes para proporcionar experiências positivas.

“Desde setembro de 2018, o Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha [LABECMar] da Unifesp iniciou o monitoramento da experiência dos visitantes – mergulhadores recreativos – de três unidades de conservação marinhas: o Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, o Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes e a Ilha da Queimada Grande, que integra a Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro paulista. Essa iniciativa teve como objetivo descrever o perfil dos visitantes e avaliar suas preferências, motivações, percepções e satisfação com o intuito de contribuir com a gestão adaptativa do mergulho recreativo praticado nessas áreas. Esses primeiros resultados foram publicados na revista Ocean & Coastal Management em 2020”, explicou Fábio Motta, professor do Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

“Com o início da pandemia de Covid-19 as atividades de mergulho foram paralisadas por cinco meses. Após esse primeiro “lockdown” as operações de mergulho foram retomadas com protocolos de segurança. Passados alguns meses reunimos dezenas de questionários os quais nos possibilitaram comparar a experiência dos visitantes antes e durante a pandemia, no período pós primeiro “lockdown”. Consideramos relevante investigar como o isolamento social e a restrição de acesso às áreas naturais devido a Covid-19 poderiam influenciar a experiência dos visitantes. Por exemplo, antes da pandemia alguns aspectos relacionados aos serviços prestados, as condições ambientais e as regras de gestão foram identificados com alto potencial de gerar insatisfação durante as visitas ao Refúgio de Alcatrazes, enquanto que durante a pandemia todos os atributos avaliados foram classificados como fortes geradores de satisfação, denotando uma maior sensibilidade dos visitantes aos efeitos benéficos do mergulho em seu bem-estar”, destacou o pesquisador do IMar.

A importância das UCs para o bem-estar humano

“Compreender o quanto essas áreas cumprem os objetivos para os quais elas foram estabelecidas é fundamental para uma gestão adaptativa e eficiente. Quando essas áreas são abertas à visitação, o monitoramento da experiência dos visitantes é relevante para subsidiar a gestão do uso público. Neste contexto, acreditamos que manter a qualidade ambiental das áreas naturais, sejam elas protegidas ou não, é crucial para assegurar o bem-estar humano dos seus visitantes e usuários. Em tempos de pandemia, a importância dos ambientes naturais para a saúde mental e psicológica das sociedades modernas ficou em evidência e, portanto, os nossos resultados podem servir de estímulo para futuros esforços de pesquisa nesta área do conhecimento”, enfatiza a pesquisadora Marina Marconi, primeira autora do artigo e egressa do programa de mestrado em Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira do IMar.

O estudo teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Fundação SOS Mata Atlântica, além do apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) do Núcleo de Gestão Integrada de Alcatrazes.

  • Bruna Martins

    Jornalista em formação pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

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