Depois de décadas sob conflito armado, pesquisadores colombianos e de instituições americanas chamam a atenção para os riscos para a biodiversidade e mudanças climáticas, representados pela retomada de regiões antes desabitadas devido a presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). São regiões rurais e de florestas que permaneceram praticamente intocadas durante décadas e que, com a entrega das armas por parte da guerrilha, agora estão acessíveis.
Em um artigo publicado esta semana na Frontiers in Ecology and the environment (FiEE), o grupo liderado pelo bioengenheiro Alejandro Salazar-Villegas, da Universidade de Purdue, Indiana, Estados Unidos, traça os desafios da Colômbia para proteger a biodiversidade e atingir metas apresentadas à comunidade internacional no corte de emissões de gases, em tempos de paz.
Cinco décadas de conflitos com a guerrilha, que deixaram mais 220 mil mortos entre cerca de 8 milhões de vítimas, mantiveram as pessoas e as atividades econômicas afastadas de habitats que preservaram 51 mil tipos diferentes de plantas e animais, segundo os pesquisadores. Com o acordo de paz, assinado em novembro de 2016, a tendência é que essas áreas voltem a ser ocupadas.
“O acordo de paz é obviamente bom para o país”, afirmou Daniel Ruiz Carrascal, coautor do artigo e pesquisador da Universidade de Columbia, Estados Unidos, em entrevista ao Earth Institute at Columbia University. “As decisões tomadas nesse momento vão certamente reverberar através da vida presente e de gerações futuras de colombianos e vão ter consequências ecológicas, climáticas e biogeoquímicas com impactos globais”, completa.
Carrascal e outros pesquisadores lançaram a Plataforma de Estudos e Análises sobre Colômbia e seus Ecossistemas (Peace), para compartilhar informações sobre o monitoramento da região. A rede vai combinar informações de satélites, com dados de campo e tecnologias de sensoriamento, para monitorar os ecossistemas do país. Entre as instituições que já aderiram estão o Instituto de Pesquisas de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, e Instituto Max Planck de Biogeoquímica da Alemanha.
Biodiversidade ameaçada por três fatores
A Colômbia é o segundo país mais biodiverso do mundo, segundo os pesquisadores, com paisagens que incluem florestas amazônicas úmidas e de altitude, savanas abertas e montanhas andinas. O país abriga cerca de 10% de todas as espécies de planetas, incluindo centenas de animais que não são encontrados em nenhum outro lugar.
Mas as taxas de desmatamento no país vêm aumentando nos últimos anos e já chegou a 2,3 mil quilômetros quadrados por ano (na Amazônia Brasileira passou de 6,6 mil em 2017). “Infelizmente, nós vemos um significante aumento das taxas de desmatamento de áreas intocadas ou remotas, que eram controladas pelos rebeldes das FARC”, afirma Ruiz-Carrascal. “Está começando a afetar locais com a maior biodiversidade na Colômbia.”
Além do desmatamento, os pesquisadores chamam a atenção para outras duas ameaças à biodiversidade colombiana: mudanças climáticas e mineração. Eles explicam que ecossistemas de montanhas, como encontrados nos Andes, são particularmente vulneráveis ao aumento da temperatura global.
Segundo eles, as geleiras no alto dos Andes Colombianos estão diminuindo, o que coloca em risco o abastecimento de água para comunidades das montanhas e áreas próximas. O aumento da temperatura afeta também espécies de animais, que podem ser forçadas a procurar regiões mais frias em áreas mais altas. Eventualmente, podem não encontrar essas áreas.
O estudo cita modelos climáticos que preveem um aumento de entre 3 e 4 graus Celsius na temperatura média do país até 2050, ao mesmo tempo em que pode ocorrer a redução de chuvas em algumas áreas. Esses fatores climáticos, lembram os autores do artigo, podem impactar a produção agrícola e capacidade dos ecossistemas estocarem carbono.
Mineração
A mineração, em busca de produtos como ouro e esmeralda, é importante na economia colombiana, conforme lembram os autores do artigo. Mas eles advertem que a atividade carrega uma série de problemas, como o desmatamento para abertura de estradas ou o nivelamento de montanhas. Além disso, a mineração ilegal pode contaminar a água, além de despejar mercúrio e outros metais tóxicos no ambiente.
“Além das taxas de desmatamento, que estão superando o que tem sido registrado na América Latina, você tem o aquecimento global, e você tem aqueles títulos que permitem empresas de mineração explorarem nossos recursos naturais”, diz Ruiz-Carrascal. “Isto vai ser uma questão crítica pelas décadas que virão”.
Os pesquisadores destacam a importância das florestas, que fornecem madeira, alimentação e remédios para populações locais, além de atrair turistas, equilibrar a oferta de água da e absorver carbono., madeira e remédios para a população local. Ela atrai turistas e ajuda a equilibrar a oferta de água e absorção de carbono. E lembram de compromissos internacionais assumidos pelo país, que pretendem atingir o desmatamento zero até 2020, além de cortar em 20% as emissões até 2030.
Saiba Mais
Artigo: The ecology of peace: preparing Colombia for new political and planetary climates.
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