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Pesquisadores confirmam presença de espécie exótica de lagarto em Belém

Calcula-se que o pequeno lagarto foi trazido de forma incidental por navios. Cientistas destacam a importância de mais estudos para investigar possíveis impactos à fauna e flora local

Duda Menegassi ·
27 de junho de 2022 · 2 anos atrás

Pesquisadores confirmaram a presença de uma espécie exótica de lagarto no município de Belém, no Pará. A origem do pequeno Gymnophthalmus underwoodi em solo paraense é incerta, mas a principal hipótese é que ele tenha sido introduzido incidentalmente por navios atracados no porto de Belém. É a primeira vez que a espécie é registrada ao sul do rio Amazonas. Até então, o local mais próximo onde ele ocorria era a Guiana Francesa, a mais de 600 quilômetros de distância do Pará. Os cientistas ainda estudam os possíveis impactos da chegada do lagarto para a fauna e flora nativas de Belém.

A identificação do lagarto “estrangeiro” foi documentada em artigo publicado na revista científica Acta Amazonica, e é assinado por uma equipe de oito pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, da Universidade Federal do Pará e da Universidade Federal de São Paulo.

A descoberta foi feita a partir de pesquisas desenvolvidas nos laboratórios de Herpetologia e de Biologia Molecular do Museu Paraense Emílio Goeldi, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia (FINEp/MCTI).

O lagarto exótico foi encontrado pela primeira vez em Belém em 2012, quando um exemplar em más condições de conservação foi levado ao laboratório de Herpetologia do Museu Goeldi. Desde então, teve início uma longa jornada de investigação científica com coletas e análises para confirmar quem era aquele pequeno réptil. O gênero Gymnophthalmus possui oito espécies, algumas bem parecidas entre si, e apenas três delas ocorrem no Brasil, somente uma no Pará, o Gymnophthalmus vanzoi.

A área de distribuição onde o G. underwoodi é considerado nativo abrange território brasileiro, porém apenas ao norte do rio Amazonas, onde a espécie pode ser encontrada no Amazonas e Roraima. Além disso, o lagarto ocorre nos países do norte amazônico, Guiana, Guiana Francesa e Suriname, e em algumas ilhas no Caribe.

A pesquisa conseguiu confirmar os registros de ocorrência do G. underwoodi no distrito de Icoaraci e na ilha do Mosqueiro, perto de áreas portuárias e inseridas na Região Metropolitana de Belém. Por enquanto, a espécie só foi encontrada em áreas já bastante degradadas e urbanizadas. Os cientistas reforçam que são necessários mais estudos para entender o impacto da espécie para a natureza local.

“Às vezes, os impactos dessas espécies são difíceis de avaliar e quantificar, podendo gerar dúvidas até mesmo entre especialistas. Algumas das ameaças às espécies nativas são a proliferação de novas doenças, a predação e a competição por alimentos e outros recursos ambientais” ressalta o principal autor do estudo, Adriano Maciel, doutor em Zoologia e pesquisador do Programa de Capacitação Institucional do Museu Goeldi.

Indivíduo de Gymnophthalmus underwoodi coletado pelos pesquisadores. Foto: Adriano Maciel

Por estar fora de sua distribuição natural, o lagarto Gymnophthalmus underwoodi é considerado uma espécie exótica no Pará. Ainda não se sabe, entretanto, se o pequeno réptil já conseguiu se adaptar e reproduzir a ponto de estabelecer uma população em Belém, critérios que definem uma espécie exótica como invasora.

Apesar disso, o pesquisador reconhece que a melhor maneira de definir o lagarto encontrado em Belém, por enquanto, é como uma espécie exótica potencialmente invasora, já que foi encontrada em diferentes partes da cidade ao longo dos últimos dez anos, o que indica que tem conseguido se estabelecer.

Indivíduo encontrado em Icoaraci, nas mãos de um dos autores da pesquisa. Espécie mede menos de 50 milímetros. Foto: Felipe Castro

O zoólogo destaca outra característica do Gymnophthalmus underwoodi, que facilita sua adaptação ao novo território: ser uma espécie partenogenética. Ou seja, todos os indivíduos são capazes de realizar um tipo de reprodução assexuada – chamada partenogênese – em que produzem óvulos que formam um embrião sem precisar da fecundação. Dessa forma, um único indivíduo consegue iniciar uma nova população da espécie.

“Atualmente, temos encontrado o lagarto em mais localidades na cidade, incluindo o encontro de desovas da espécie. Futuramente, com novos inventários de espécies e estudos de ecologia da comunidade de lagartos locais, ficaremos sabendo se o lagartinho exótico já se expandiu para municípios vizinhos e se apresenta ameaça às espécies nativas”, conclui o pesquisador.

O G. underwoodi não é o único lagarto exótico registrado em Belém. Em 2015, pesquisadores relataram a presença de um outro lagarto exótico em Belém, o Lepidodactylus lugubris, uma espécie asiática que já pode ser encontrada em diferentes países caribenhos, trazida muito provavelmente por navios que fazem rotas comerciais entre os continentes. 

Atualmente o Brasil possui o registro de 136 répteis e anfíbios exóticos, que inclui espécies do próprio Brasil encontradas fora do seu local natural de distribuição. Os cientistas sugerem que a espécie encontrada em Belém, Gymnophthalmus underwoodi, seja agora incluída nessa lista.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 4

  1. Charles Melo diz:

    Oiê bom dia a TDS! Acabei deveresse bichinho perto doeu filho e minha namorada deu uma sandália da nele de onde isso e venenoso . Isso agora aqui em Ananindeua no Pará .


  2. Edmilson diz:

    Hoje (28 Jul 24) encontrei uma espécie desse lagarto aqui em Gravatá, município do interior de Pernambuco. Estranho, pois pelo texto a espécie tinha aparecido em região amazônica. Não sei se há alguma pesquisa sobre o lagarto aqui no estado.


  3. SAMUEL DE SOUSA GUARDIA diz:

    Tem um desse na minha garagem aqui em Santana AP


  4. Gideão Lima da Silva diz:

    Agora que foram encontrar esse camarada aí? Eu amava pegar um monte deles quando eu tinha uns 8 anos até meus 15, agora tô com 21. Eu sempre achei eles diferentes dos outros lagartos que eu analisava.