A Mata Atlântica, que se estende pelo litoral brasileiro, apesar de amplamente explorada, ocupada e destruída ainda reserva surpresas. Pesquisadores brasileiros identificaram uma nova espécie de cobra endêmica do bioma. A Caaeteboia gaeli, como foi batizada, foi descoberta ao acaso enquanto os herpetólogos faziam um inventário de répteis e anfíbios. O primeiro encontro com a desconhecida serpente foi em 2008, na Paraíba, e somente 10 anos depois os pesquisadores a reencontraram, o que permitiu uma descrição mais detalhada de quem é essa nova espécie. Um terceiro indivíduo foi encontrado, dessa vez em Pernambuco, mas apenas fotografado. Apesar de ser novidade para ciência, a cobra já pode ser considerada ameaçada devido à degradação do seu habitat natural.
A Caaeteboia gaeli tem uma distribuição restrita e habita ecossistemas de florestas abertas costeiras e habitats savânicos na porção nordeste da Mata Atlântica, as Florestas de Tabuleiro e os Brejos de Altitude, distribuídos entre os estados de Pernambuco e Paraíba. A região é conhecida como Centro de Endemismo de Pernambuco, apesar de não estar restrita apenas ao território pernambucano. O gênero a qual pertence, Caaeteboia, é endêmico da Floresta Atlântica brasileira e no geral ainda pouco estudado.
“A nova espécie amplia a distribuição do gênero [Caaeteboia] para aproximadamente 700 quilômetros ao norte, e reforça a importância da conservação dos pequenos remanescentes de Floresta Atlântica no nordeste do Brasil, os quais ainda abrigam altos níveis de endemismo e diversidade”, pontua o artigo, publicado em setembro no periódico, Cuadernos de Herpetologia, publicação da Associação Herpetológica Argentina. O artigo é assinado por um time de sete pesquisadores, encabeçado pela bióloga Giovanna Gondim Montingelli, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.
Um dos coautores, o herpetólogo Gentil Filho, da Universidade Federal da Paraíba, reforça que a descoberta de uma nova espécie na Mata Atlântica, um bioma reduzido a cerca de 10% da sua cobertura original, é de suma importância. “Mais especificamente na porção do Centro de Endemismo de Pernambuco, que é a parte mais destruída da Mata Atlântica. Essa descoberta mostra de forma inequívoca que não conhecemos a biodiversidade de forma adequada dessa região. É uma corrida direta entre conhecimento x destruição. Infelizmente a destruição tem ganho, dessa forma é de extrema importância que o pouco que resta destas florestas costeiras do Nordeste seja preservado”, aponta o pesquisador.
Ele comenta ainda que, devido à fragmentação do habitat original da nova espécie, ela já entra pro “catálogo científico” com o selo de ameaçada. “Sem sombra de dúvidas a Caaeteboia gaeli já entra com o status de ameaçada. Principalmente por sua distribuição geográfica muito restrita e pela forte degradação que a porção da Floresta Atlântica onde ela ocorre apresenta. Certamente as populações dessa serpente sofrem com a fragmentação de habitat e a redução direta das áreas de Mata Atlântica”, indica Gentil.
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