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Pesquisadores descobrem nova espécie de cobra endêmica da Mata Atlântica

A serpente possui uma distribuição restrita dentro do bioma, entre Paraíba e Pernambuco, e a fragmentação do seu habitat natural já confere a ela o status de ameaçada de extinção

Duda Menegassi ·
23 de setembro de 2020 · 3 anos atrás
A nova espécie Caaeteboia gaelis possui distribuição restrita e é endêmica da Mata Atlântica. Foto: Gentil Filho

A Mata Atlântica, que se estende pelo litoral brasileiro, apesar de amplamente explorada, ocupada e destruída ainda reserva surpresas. Pesquisadores brasileiros identificaram uma nova espécie de cobra endêmica do bioma. A Caaeteboia gaeli, como foi batizada, foi descoberta ao acaso enquanto os herpetólogos faziam um inventário de répteis e anfíbios. O primeiro encontro com a desconhecida serpente foi em 2008, na Paraíba, e somente 10 anos depois os pesquisadores a reencontraram, o que permitiu uma descrição mais detalhada de quem é essa nova espécie. Um terceiro indivíduo foi encontrado, dessa vez em Pernambuco, mas apenas fotografado. Apesar de ser novidade para ciência, a cobra já pode ser considerada ameaçada devido à degradação do seu habitat natural.

A Caaeteboia gaeli tem uma distribuição restrita e habita ecossistemas de florestas abertas costeiras e habitats savânicos na porção nordeste da Mata Atlântica, as Florestas de Tabuleiro e os Brejos de Altitude, distribuídos entre os estados de Pernambuco e Paraíba. A região é conhecida como Centro de Endemismo de Pernambuco, apesar de não estar restrita apenas ao território pernambucano. O gênero a qual pertence, Caaeteboia, é endêmico da Floresta Atlântica brasileira e no geral ainda pouco estudado.

“A nova espécie amplia a distribuição do gênero [Caaeteboia] para aproximadamente 700 quilômetros ao norte, e reforça a importância da conservação dos pequenos remanescentes de Floresta Atlântica no nordeste do Brasil, os quais ainda abrigam altos níveis de endemismo e diversidade”, pontua o artigo, publicado em setembro no periódico, Cuadernos de Herpetologia, publicação da Associação Herpetológica Argentina. O artigo é assinado por um time de sete pesquisadores, encabeçado pela bióloga Giovanna Gondim Montingelli, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.

Ambiente no qual foi encontrado um dos indivíduos de Caaeteboia gaelis. Foto: Gentil Filho

Um dos coautores, o herpetólogo Gentil Filho, da Universidade Federal da Paraíba, reforça que a descoberta de uma nova espécie na Mata Atlântica, um bioma reduzido a cerca de 10% da sua cobertura original, é de suma importância. “Mais especificamente na porção do Centro de Endemismo de Pernambuco, que é a parte mais destruída da Mata Atlântica. Essa descoberta mostra de forma inequívoca que não conhecemos a biodiversidade de forma adequada dessa região. É uma corrida direta entre conhecimento x destruição. Infelizmente a destruição tem ganho, dessa forma é de extrema importância que o pouco que resta destas florestas costeiras do Nordeste seja preservado”, aponta o pesquisador.

Ele comenta ainda que, devido à fragmentação do habitat original da nova espécie, ela já entra pro “catálogo científico” com o selo de ameaçada. “Sem sombra de dúvidas a Caaeteboia gaeli já entra com o status de ameaçada. Principalmente por sua distribuição geográfica muito restrita e pela forte degradação que a porção da Floresta Atlântica onde ela ocorre apresenta. Certamente as populações dessa serpente sofrem com a fragmentação de habitat e a redução direta das áreas de Mata Atlântica”, indica Gentil.

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  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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