A Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia está alimentando o desmatamento. Esse é o ponto de discussão do novo relatório divulgado pela ONG Fern, instituição criada em 1995 que atua em áreas como bioenergia, comércio de carbono, leis florestais e governança, florestas e clima, comércio e investimento. O relatório será debatido em evento, realizado em Bruxelas, na quarta-feira (03), e será transmitido a partir das 07h30, pela página do Facebook da Fern.
O relatório, Agriculture and deforestation – The EU Common Agricultural Policy, soy and forest destruction, analisa as ligações existentes entre as importações de soja provenientes da América do Sul e o aumento do desmatamento relacionado com a expansão do cultivo devido ao aumento da demanda externa. Fazendeiros europeus dependem das importações de soja do Brasil, Argentina e Paraguai para alimentar o gado e outros animais como porcos e frangos. Entretanto, a produção de soja desses países está nitidamente ligada ao desmatamento e à violação dos direitos de utilização do solo.
A Política Agrícola Comum da União Europeia (CAP) foi criada em 1962 com o objetivo principal de assegurar bons preços aos agricultores. Hoje, a CAP consome 40 por cento do mercado da União Europeia e exerce um enorme impacto na agricultura em muitas partes no mundo, incluindo lugares onde a expansão agrícola foi e continua sendo um grande condutor de desmatamento.
“O terrível custo ambiental e humano da expansão da soja no Brasil e de outros países da América Latina é incontestável. Então, esse é o papel da Política Agrícola Europeia na condução desse mercado”, diz Nicole Polsterer, diretora de Produção e Consumo Sustentável da Fern.
A soja alcançou a segunda posição como o maior causador de desmatamento depois da pecuária. Segundo um estudo da Comissão Europeia, a expansão da soja foi responsável por 19 por cento da perda florestal global associada ao crescimento das plantações entre 1990 e 2008.
Algumas medidas são destacadas no relatório para que haja uma reforma na CAP, como aumentar o direcionamento para sistemas de produção menos intensivos como produtos orgânicos, sistema pecuário baseado em pastagens ou permacultura; alterar as partes do CAP que incentivam os sistemas de produção que levam ao desmatamento e uma mudança nos níveis de consumo e uma mudança rumo a uma verdadeira economia circular como sendo cruciais para a abordar essa questão.
O Brasil e a soja
O Brasil é o maior exportador de soja para a Europa. No evento, amanhã, quatro representantes, entre eles, Paulo Barreto, pesquisador da ONG Imazon, falarão sobre a problemática da soja e os impactos sobre o aumento no desmatamento.
Para o pesquisador do Imazon, a moratória da soja na Amazônia ajudou a reduzir o desmatamento e estimulou o uso de pastos degradados. Mas a falta de controle efetivo do desmatamento e da grilagem permitiu que pecuaristas e grileiros se deslocassem para desmatar outras áreas.
“As políticas agrícolas e comerciais da União Europeia precisam estipular critérios rígidos para o desmatamento, para suas importações de alimentos e apoiar o desenvolvimento de uma moratória de soja no Cerrado e outras áreas de risco”, afirma o pesquisador.
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