Os registros consistentes de temperatura na Antártida têm apenas 63 anos. Eles começaram a ser feitos em 1957, quando a estação americana foi construída. De lá para cá houve muita variabilidade, inclusive com uma onda de frio anormal no começo da década de 1980.
O polo, além disso, era um lugar que ninguém imaginasse que fosse aquecer, devido à maneira como a Antártida está reagindo às mudanças do clima: o buraco na camada de ozônio, unido ao aquecimento global, tem deixado os ventos mais fortes no entorno do continente e mantendo o frio “engarrafado” em seu interior. O resultado disso é que a Península Antártica é um dos lugares que mais esquentam no mundo, mas o oeste antártico, que é mais alto e tem mais gelo (onde fica o polo) tem regiões que esfriaram.
Nos últimos 30 anos, porém, dois elementos têm concorrido para quebrar essa imunidade do polo Sul ao aquecimento: um fenômeno cíclico conhecido como Oscilação Interdecadal do Pacífico, no qual o oeste daquele oceano apresenta uma tendência de longo prazo de aquecimento, e o chamado SAM (Modo Anular do Hemisfério Sul), uma espécie de “campo de força” que regula as trocas de ar entre a Antártida e o restante do hemisfério Sul.
Nas últimas décadas, o SAM tem ficado positivo, por conta do aquecimento dos trópicos e do resfriamento do interior antártico por conta do buraco no ozônio.
O climatologista Francisco Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mostrou em 2012 como o SAM positivo tem aumentado a formação de ondas de frio anômalas que atingem o sul do Brasil de tempos em tempos. O outro lado desse fenômeno é que as mesmas massas de ar que trazem o frio da Antártida carregam mais calor tropical para o continente. Clem e colegas mostraram que esse calor está chegando até o polo Sul.
Como o clima no interior antártico é muito variável, dizem Stammerjohn e Scambos, ainda não se pode discernir o sinal da interferência humana claramente em meio ao ruído da variabilidade natural. Outras regiões do continente, porém, já apresentam clara tendência de aquecimento, como o oeste anártico, onde quatro supergeleiras já entraram em colapso.
“A menos que tomemos medidas para achatar a curva das emissões de carbono, a contribuição da Antártida para um mundo mais quente e para o aumento do nível do mar poderia ser catastrófica”, escrevem.
Pois é. Mais uma vez a Ciência mostrando dados reais.
Mas a cegueira $$$$$empre prevalece.