É uma cultura antiga, passada de geração em geração pelas famílias do sul do Brasil, a coleta e o armazenamento dos nós-de-pinho, uma lenha pequena e poderosa que garante um inverno aquecido.
O “garimpo” da pequena lenha em forma de cone existe há centenas de anos, desde que os índios descobriram que o material encontrado demora para se consumir no fogo e mantém o calor por muito tempo. Em muitas regiões do sul especialmente Paraná, os nós-de-pinho são encontrados onde as árvores já não existem há 100, 200, 300 anos. Por isso, esses lugares são chamados de “cemitérios”. O que restam são os nós, que de tão densos e resistentes são conhecidos como os “ossos” da araucária, o pinheiro brasileiro.
O nó-de-pinho fica na junção entre o tronco e os longos e pesados galhos da árvore. Quando ela morre naturalmente ou é derrubada, a madeira se decompõe rapidamente mas os restos de galhos que ficam próximos ao tronco ficam quase intactos por muitas e muitas décadas. Segundo o professor Carlos Sanquetta, PhD em Ecologia e Manejo Florestal, a lenha do nó-de-pinho comercializada hoje não vem de áreas de desmatamento clandestino, mas sim dos “cemitérios de árvores” em terrenos que foram explorados no passado. “Nestes lugares, o objetivo principal era a extração de madeira, de alto valor no mercado, e não a extração de nó-de-pinho”. O nó-de-pinho é uma espécie de subproduto valioso deixado para trás.
Ao contrário do que se pensa, ele também não costuma estar presente nas áreas de reflorestamento de araucária, onde as árvores são muito jovens e não apresentam nós com alto grau de densidade, onde está seu valor. Pelo menos não na superfície. “Nessas regiões reflorestadas podem ser encontrados eventualmente centenas de quilos do nó por hectare. Quando isso acontece, certamente existiu ali uma floresta exuberante”, explica Sanquetta.
Esquecido e enterrado por tanto tempo, o nó-de-pinho começa a gerar interesse por ser um tipo de lenha ecológica, que não depende de desmatamento. Como o manejo da araucária está proibido, a produção em escala comercial é inviável, ficando restrita ao subsolo a exploração desse tesouro. Ninguém sabe exatamente a localização exata e o tamanho dos estoques de nós-de-pinho, mas muitos proprietários rurais já fizeram ou permitiram sua retirada da terra, para serem usados como lenha, na fabricação de carvão, objetos utilitários e de decoração. “Não há como fazer uma projeção de até quando os estoques vão durar. Há especulações. Por enquanto, vale a lei da oferta e da procura”, disse Sanquetta.
Para o professor, o excesso de cuidados com a araucária impede a elaboração de uma proposta sustentável de manejo do nó-de-pinho em árvores maduras. Ele diz que a economia local e a cultura alimentar da região Sul (onde o consumo do pinhão é muito disseminado) seriam beneficiados se houvesse planos oficiais de plantio e manejo de araucárias.
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