A saíra preciosa (Tangara pretiosa) pousou num galho seco de roseira numa tarde de agosto de 2004. Não percebeu que a cinco metros dali estava Jorge Kutsmi de arma na mão: sua câmara Canon EOS 5, lente de 400 milímetros, abertura de 8 no diafragma, com munição filme Fuji 200 asas. Um clique e a imagem dela foi capturada para sempre, iluminada pelas cores da primavera na Serra do Mar.
Como a saíra, outros 37 pássaros diferentes já foram clicados pelas lentes deste professor aposentado, em mais de 4 mil fotogramas, durante dois anos de trabalho na Mata Atlântica entre Paraná e Santa Catarina.
Kutsmi, 62 anos, é um apaixonado pela natureza. Trabalha por prazer. Não vende suas fotos. Diverte-se exibindo-as. Ele passa dias acampado na mata para conseguir uma boa foto. Paga as despesas e não se queixa. “O ruim é o dia em que a gente espera horas e horas e não consegue uma foto”, diz, bem-humorado.
Seu lado fotógrafo nem os mais íntimos conheciam. Começou há apenas dois anos, já no fim da era do filme de celulose. Só agora em abril ele comprou sua primeira câmara digital. Não que faça diferença para os pássaros, mas agora ele vai à mata com uma Canon EOS 20 D de última geração.
Kutsmi era professor de Física do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, quando sofreu um infarto em 1999. Recuperado, começou uma carreira tardia de tenista. Machucou o braço. Sem tênis, passou a dar caminhadas nos parques manicurados de Curitiba. Entediou-se. Foi aí que se tocou para o mato. Deu longas caminhadas nas encostas da Serra do Mar até topar com seu primeiro pássaro: uma saíra de sete cores.
“Quando ela apareceu eu tinha uma câmara amadora. Fiz a foto. Era verde sobre verde, só aparecia o mato. Mostrei para os amigos e todos riram de mim”, conta. Aí ele decidiu ir fundo. Comprou manuais de foto, estudou o assunto em casa, no seu confortável apê na frente do Palácio do Governo do Paraná. Com a mesma disciplina e energia com que lecionou 30 anos em três turnos, voltou pro mato para “aprender a fotografar”. Armava uma tenda, escondia-se dentro e esperava a bicharada.
O resultado virou uma bela exposição, composta de 37 painéis de 30cm por 40cm. Quem primeiro conferiu nota 10 para os coloridos flagrantes do novo fotógrafo foi o laboratorista Igor, funcionário que revelou as fotos na Ticolor. Depois vieram os elogios dos amigos, que notaram sua evolução desde aquela primeira saíra verde sobre verde.
Kutsmi saiu com o material embaixo do braço pelas ruas de Curitiba, oferecendo sua exposição para quem quisesse, de graça, só pelo prazer de exibir seus pássaros. Conseguiu espaço na porta do McDonald’s da rua das Flores, no Banespa (teve que abrir uma conta para sensibilizar o gerente), no próprio laboratório que revelou o material, numa feira ambiental em São Bento do Sul (SC), até chegar ao saguão superior do aeroporto Afonso Pena. Onde foi “descoberto” pelo O Eco.
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