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Recurso do BID possibilitará a execução de projeto que visa incentivar o ecoturismo em seis parques de São Paulo. Iniciativa pode virar modelo para outras unidades.

Aline Ribeiro ·
22 de dezembro de 2005 · 18 anos atrás

Seis das 25 unidades de conservação do estado de São Paulo serão revitalizadas durante os próximos quatro anos. Trata-se do Projeto de Desenvolvimento do Ecoturismo na Região da Mata Atlântica, que visa incentivar a visitação nos parques de Carlos Botelho, Ilha do Cardoso, Intervales, Turístico do Alto Ribeira (Petar) e Jacupiranga (todos no Vale do Ribeira); e o Parque Estadual de Ilhabela, no litoral norte. Localizadas em duas importantes regiões de conservação da Mata Atlântica, as unidades foram escolhidas por terem grandes concentrações de visitantes anualmente. “Como esses são os parques mais procurados, as ações têm de ser emergenciais. Sem infra-estrutura adequada, os visitantes e a biodiversidade correm riscos”, destaca o biólogo Sérgio Salazar Salvati, coordenador do projeto.

Este é o maior plano de visitação pública feito no Brasil até hoje e vem sendo planejado desde o início do ano. “Em fevereiro, quando integrei o grupo, o projeto já estava muito bem desenhado. Foi só acrescentar alguns detalhes”, revela Salvati. Ele compara a capacidade de visitação atual desses parques – uma média de 30 mil pessoas ao ano – com a do Parque Nacional do Iguaçu, que só em 2005 já recebeu mais de um milhão de turistas. “Assim como o temos como referência, o projeto pode virar modelo para as outras unidades de conservação do estado.”

O plano, uma parceria da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA) com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), inicialmente beneficiaria cerca de 10 unidades de conservação. Mas o limite de endividamento do governo do estado não permitiu. Os 50 milhões de dólares de empréstimo previstos no começo do projeto foram reduzidos para 9 milhões de dólares. Com a contrapartida de 6 milhões da SMA, o total destinado às ações de melhoria vai somar 15 milhões. “O banco já aprovou o empréstimo, mas o projeto só será assinado em março, por razões burocráticas”, informa o coordenador.

Mesmo sem a assinatura oficial, uma das obras previstas no projeto já está em andamento. É a revitalização do prédio que abrigava a antiga cadeia e fórum de Ilhabela. Localizada no centro da cidade, a edificação será transformada em sede da unidade de conservação. A escolha do lugar foi proposital. “A intenção é chamar a atenção dos visitantes, que muitas vezes nem sabem da existência do parque”, diz Salvati. O centro vai ter loja, lanchonete, auditório e um local para exposições. O início das obras foi possível porque, para a reestruturação do prédio, serão utilizados apenas os recursos da contrapartida do estado, que já estão disponíveis.

Outras duas obras de melhoria das unidades de conservação estão em processo licitatório. Uma é a construção de um centro de visitantes e um mirante no núcleo Santana do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira. A segunda diz respeito à revitalização do Núcleo da Caverna do Diabo, em Jacupiranga. Ambas as obras estão aguardando a autorização do BID para serem iniciadas e devem entrar em execução no primeiro semestre do próximo ano.

Divisão

As ações previstas no projeto, divididas em três diferentes fases, serão concluídas num período de quatro anos. A primeira se resume na viabilização de infra-estrutura adequada para os parques e irá consumir quase 75% do montante disponível. Além da construção de escadas, guarda-corpos, corrimões e trilhas, inclusive para arvorismo, a etapa inicial prevê a instalação de meios de hospedagem como eco-lodges, alojamentos para grupos, camping e turismo com enfoque comunitário. A sinalização das estradas de acesso, a identidade visual das unidades de conservação, a criação de portais na internet e a estruturação dos atrativos turísticos (cavernas, equipamentos de lazer, mirantes) também integram a primeira fase.

A segunda etapa consiste em organizar e consolidar o produto turístico na área de influência do projeto. Isso significa sensibilizar as comunidades do entorno para a questão ambiental, além de capacitá-las para a prestação de serviços turísticos dentro do parque. “É um dos nossos maiores desafios. Precisamos estar em harmonia com as populações locais, para que elas se envolvam de forma efetiva com as unidades”, aponta Salvati. A terceira fase não é menos estimulante, já que prevê o fortalecimento da gestão pública para o ecoturismo. “Pretendemos organizar a administração das unidades de conservação e capacitar os empreendedores e gestores.” A biodiversidade dos parques agradece.

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