Quem perdeu as principais notícias da 3ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP-3) e da primeira semana da 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8), não precisa ficar preocupado. O Eco relembra nossas próprias reportagens e notas publicadas na seção Salada Verde e indica outros sites com informações aprofundadas sobre os temas mais importantes nesses dois encontros sediados em Curitiba.
Os debates começaram quentes, com o anúncio da ministra Marina Silva de que o Brasil vai adotar a identificação explícita dos grãos geneticamente modificados nos produtos fabricados no país. Ou seja, vai exigir que os rótulos informem se “contêm” transgênicos. Sérgio Abranches escreveu coluna sobre isso, ressalvando que o governo deu um prazo de carência de quatro anos para os produtores se adaptarem à nova exigência. Mas ao final da MOP-3, a euforia aguou-se. Os países signatários deixaram para bater o martelo sobre a identificação dos transgênicos para 2012. Até lá, tudo fica como está.
Os transgênicos continuaram na pauta no início da COP-8. Alguns países signatários, como Austrália e Nova Zelândia, pressionaram por mudanças que permitissem testes com sementes estéreis em campos abertos. A tecnologia, conhecida como terminator, faz com que plantações gerem grãos incapazes de germinar. As companhias detentoras da técnica dizem que ela serve para impedir que os trangênicos contaminem cultivos convencionais. Mas agricultores, principalmente os de pequeno porte, garantem que é apenas uma forma de obrigá-los a recomprar as sementes. Na sexta-feira, os países participantes da Convenção fizeram um acordo para deixar a situação como está. Ou seja, manter a moratória imposta na COP-5, em 2000. No horizonte, dois problemas à vista: o retorno com força do assunto na COP-9 e o possível casamento de sementes estéreis com árvores transgênicas.
Alertas
Na terça-feira, dia 21, o Greenpeace roubou a atenção da mídia com mapas mostrando o que resta de cobertura florestal primária no mundo: apenas 10%. Sendo que 82 dos 142 países que possuíam matas nativas já acabaram com tudo o que tinham. Vinte e quatro horas depois, O Eco publicou reportagem de Marina Lemle revelando que, segundo estudo publicado na revista Nature, a Amazônia pode perder 50% de sua área original até 2050.
O Greenpeace também lançou relatório sobre a situação dos mares e propôs a criação de 29 reservas marinhas que juntas protegeriam quase 41% dos oceanos. Na primeira semana da COP-8, o Brasil aderiu à Iniciativa Internacional para Proteção dos Recifes de Coral (ICRI,em inglês). Estima-se que 35% dos corais já tenham sumido do planeta por causa das agressões humanas. Segundo um estudo do Departamento de Comércio dos Estados Unidos para assuntos ligados à meteorologia, o aumento da temperatura do mar causou descoloração em nada menos que 80% dos corais da América Central, Flórida, Panamá e Caribe apenas em 2005. O ano registrou as águas mais quentes dos últimos 20 anos. Dezenove espécies de coral do litoral brasileiro estão ameaçadas de extinção. Oito são endêmicas.
Em terra
O Greenpeace também criticou os subsídios de países desenvolvidos a atividades econômicas como pesca, mineração e agricultura. Pelos cálculos da organização, são gastos 29 bilhões de dólares todos os meses com essas atividades enquanto os países em desenvolvimento necessitam de apenas 4 bilhões de dólares por ano para criarem áreas protegidas. A criação de unidades de conservação é um dos principais temas em debate na COP-8 por ser um passo essencial para se atingir as metas de proteção da biodiversidade impostas para 2010. Só que, até agora, pouco foi implementado.
Enquanto as Unidades de Conservação não vêm, as florestas e áreas de solo fértil se esvaem. Segundo dados apresentados pela ONU em Curitiba, o fenômeno acontece hoje numa velocidade duas vezes maior do que na década de 70. No Brasil, os estados que mais sofrem com degradação da terra são Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Rondônia. Os prejuízos causados pela desertificação chegam a US$ 250 por hectare.
Uma solução para o problema é estudar melhor a vida que se esconde no solo, desde minhocas a bactérias. Só nos últimos cinco anos, uma pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em sete países descobriu 15 mil novas espécies subterrâneas. No Brasil, o inventário se concentrou na região do Alto Rio Solimões e resultou no livro “Biodiversidade do Solo nos Ecossistemas da Amazônia e Outros Ecossistemas”. Os pesquisadores que divulgaram seus resultados na COP-8 lembraram que esses microrganismos são responsáveis por manterem os solos saudáveis e os ecossistemas de pé.
Além mar
Outro tema que conquistou espaço na COP-8 e deve ganhar um programa de trabalho específico é a conservação da biodiversidade das Ilhas Oceânicas. O que significa que o GEF (Fundo Mundial para o Meio Ambiente) poderá destinar verba específica para proteger esses recantos do planeta que detêm mais da metade da biodiversidade marinha e abrigam grande parte das suas espécies endêmicas. A organização ambientalista por trás da proposta é a The Nature Conservancy (TNC).
Na COP-8 foi lançado o livro “Ilhas Oceânicas Brasileiras – da pesquisa ao manejo”, que revela a descoberta de 15 novas espécies de esponjas e reúne detalhes sobre os quatro maiores arquipélagos do país: Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo, Trindade e Atol das Rocas. O assunto foi destacado pelo jornal O Globo, que reportou ainda um levantamento do Ministério do Meio Ambiente em parceria com a TNC revelando que o Brasil já tem 500 espécies exóticas em circulação e que a introdução de espécies invasoras com potencial nocivo gera um prejuízo de 50 bilhões de dólares por ano para o país. Diante disso, o Ministério divulgou que vai participar do Programa Global de Espécies Invasoras (GISP, na sigla em inglês), para ajudar na formulação de estratégias de controle dessas espécies.
A COP 8 só termina dia 31 de março. Na primeira semana do evento o Paraná ganhou mais três áreas de proteção de araucárias: o Parque Nacional dos Campos Gerais, a Reserva Biológica das Araucárias e a Reserva Biológica das Perobas. Quem sabe na segunda e última semana da Convenção o país não ganhe também, finalmente, a Lei da Mata Atlântica. Ela tramita há 14 anos no Congresso e só depende de uma votação final na Câmara dos Deputados.
* Colaborou Carolina Elia.
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