O dia 22 de setembro, sexta-feira passada, representou um marco na história da luta ambiental no Nepal. Autoridades do país, acompanhadas por representantes de organizações não-governamentais de diversas partes do mundo, foram à vila de Taplejung para entregar à população local a área de conservação de Kangchenjunga. Esse fato, bem como o estabelecimento de um modelo de gestão compartilhada, eram antigos desejos dos habitantes da vila.
Entretanto, ao deixarem a região montanhosa, localizada a 300 quilomêtros da capital Kathmandu, as 24 pessoas da comitiva oficial que participava da cerimônia morreram em um trágico acidente de helicóptero. O desaparecimento da aeronave, fabricada na Rússia, foi anunciado no sábado, mas apenas ontem os destroços foram encontrados na vila de Ghunsa (mapa ao lado), sem que houvesse qualquer sobrevivente. Na terra do Himalaia, muitos deslocamentos são feitos por helicoptéro, pois a rede de estradas é pobre. O tempo ruim, nebuloso, pode ter sido a causa da queda.
O acidente deixa especialmente órfãos os cidadãos do Nepal, pois ele vitimou o ministro de Florestas e Conservação do Solo, Gopal Rai. Ele ocupava o cargo há pouco tempo, mas era considerado um importante parceiro em projetos internacionais que buscavam implementar áreas de conservação e desenvolvimento sustentável em pequenas vilas do Nepal. Esta estratégia é considerada importante porque por muitos anos o governo travou nas florestas um combate contra as milícias maoístas, danificando a biodiversidade do Nepal. Entre os tripulantes estava também Narayan Poudel, diretor geral do Departamento de Parques e Conservação da Vida Selvagem do Nepal.
O Fundo Mundial para a Natureza (WWF, em inglês) é a ONG que mais ativamente tem atuado na preservação ambiental no Nepal. Por isso, entre as 24 vítimas, sete eram integrantes da organização. Em comunicado oficial, o diretor-geral da WWF, James Leape, afirmou que o acidente causou uma “imensa perda” para o Nepal e para o mundo, pois entre os mortos estavam “pessoas que haviam dedicado toda a sua vida à conservação dos recursos naturais da Terra”.
Uma das vítimas era a doutora Jill Bowling Schlaepfer, uma das mais conceituadas conservacionistas do WWF. Australiana, 49 anos, ela foi assessora do gabinete do primeiro-ministro daquele país na década de 80, antes de se tornar uma das pioneiras da legislação ambiental no Estado de Oregon, nos Estados Unidos.
Jill alcançou o posto diretora de Conservação do WWF- Reino Unido em 2002, após ser reconhecida como uma das pessoas mais engajadas na luta por certificação florestal em todo mundo. Ela coordenou a estratégia mundial do WWF de conservação de florestas, cuja publicação pode ser encontrada na internet. Faleceram também no acidente representantes da WWF Estados Unidos, além de uma diplomata filandesa e uma americana, tripulantes russos e jornalistas nepaleses. O WWF-Nepal perdeu seu diretor no país, o doutor Chandra Gurung e mais dois integrantes. Gurung era chefe da organização há seis anos e trabalhava com conservação em pequenas comunidades desde 1988. Membro da União Mundial para Conservação da Natureza (IUCN), ele teve forte atividade acadêmica na área de turismo sustentável e integração de desenvolvimento e conservação.
A diretora de Conservação Comunitária do WWF-EUA, Judy Oglethorpe, contou, através de um email, que esteve com algumas das vítimas do acidente uma semana antes da cerimônia nas montanhas de Kangchenjunga. “Meus colegas estavam orgulhosos e cheios de otimismo porque este objetivo tinha sido alcançado. Enquanto lutamos para superar essa terrível tragédia, a conservação de Kanchenjunga será um tributo vivo àqueles que perdemos”.
Leia também
Entrando no Clima#37- Brasil é escolhido como mediador nas negociações
Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil, que realiza a reunião final do G20 na segunda e terça-feira (18 e 19), mas isso não ofuscou sua importância na COP29. O país foi escolhido pela presidência da Cúpula do Clima para ajudar a destravar as agendas que têm sido discutidas na capital do Azerbaijão, →
G20: ativistas pressionam por taxação dos super ricos em prol do clima
Organizada pelo grupo britânico Glasgow Actions Team, mensagens voltadas aos líderes mundiais presentes na reunião do G20 serão projetadas pelo Rio a partir da noite desta segunda →
Mirando o desmatamento zero, Brasil avança em novo fundo de preservação
Na COP29, coalizão de países com grandes porções florestais dá mais um passo na formulação de entendimento comum sobre o que querem para o futuro →