Político em fim de mandato no Executivo não faz nada de relevante? Simão Jatene, que deixa o governo do Pará em fins de dezembro, está com tudo para desmentir essa velha máxima. Ele tem em mãos os decretos, baseados em estudos técnicos e 12 consultas públicas, para criar um mosaico de unidades de conservação do tamanho de Portugal, Bélgica e Dinamarca juntos na Calha Norte do rio Amazonas no Pará. Somadas à Reserva Biológica do Trombetas, Estação Ecológica do Jari, Floresta Nacional Sacará-Taquera e três Terras Indígenas já implantadas na região, chega-se à 27, 2 milhões de hectares de áreas protegidas em extensão contínua, a maior do mundo. A cerimônia de assinatura dos decretos está marcada para o dia 4 de dezembro, em Belém.
Eles versam sobre o status futuro de 12, 7 milhões de hectares da Calha Norte a serem distribuídos por 3 Florestas Estaduais e duas unidade de proteção integral. As florestas, Parú, Faro e Trombetas, cobrirão cerca de 7, 6 milhões de hectares ao longo da faixa central da região. O que resta fora de Terras Indígenas na faixa Norte será repartido em uma Estação Ecológica, a Escudo da Amazônia, e uma Reserva Biológica. Mesmo em pedaços, a iniciativa é cheia de superlativos. A Floresta Estadual do Parú, com 3,6 milhões de hectares vira o maior terreno dedicado à produção florestal sustentada do mundo. A Escudo da Amazônia, do alto de seus 4, 2 milhões de hectares, leva o campeonato mundial em tamanho de área de proteção integral, título que agora pertence a uma unidade federal, o Parque Nacional do Tumucumaque, com 3,9 milhões de hectares.
Apesar de ter tudo planejado e pronto, Jatene ainda não deu um sinal definitivo aos técnicos que estão desde o início do ano envolvidos nesse projeto de que vai mesmo assinar os decretos. Mas incentivos não faltam. Os possíveis passivos fundiários e políticos, com quilombolas na região central e ruralistas ao Sul, estão resolvidos. No primeiro caso, seus direitos foram respeitados. No segundo, os interesses foram acomodados com a criação de uma Área de Proteção Ambiental (APA) e o reconhecimento da faixa Sul da Calha Norte como zona de consolidação, conforme prevê a lei de macrozoneametno do estado. Ela praticamente não restringe a atividade econômica, que aliás, se desenvolve há algum tempo nessa faixa.
Conflito
É uma situação bem diferente da que existe nas áreas central e Norte da Calha, onde a presença humana ainda é esparsa. É provável que os ruralistas façam beicinho, reclamando que o Pará está com muita unidade de conservação, mas sem um boi ou agricultura crescendo sobre aquela floresta, sua capacidade de pressão é próxima do zero. Mas isso não quer dizer que para toda essa história chegar onde chegou, o processo tenha sido um passeio. Afinal, criar áreas protegidas no Brasil é sempre um projeto arriscado, sujeito à pancadas de tudo quanto é lado. Jatene tinha planos de criar as Florestas Estaduais em agosto e imaginava que elas incentivariam o governo federal a fazer unidades de proteção integral conectadas com as Terras Indígenas ao Norte.
Mas a campanha eleitoral esfriou os ânimos. Brasília não se mexeu como o governador gostaria e a disputa no estado entre seu partido, o PSDB, e o PT o fez sentar em cima da proposta. Áreas de proteção podem gozar de prestígio no imaginário popular, mas não costumam render muitos votos no plano local. O governador, no entanto, não parou de pensar no asunto e aacabou indo além do que pretendia. A idéia de criação das unidades de proteção integral consolidou-se em outubro, quando ficou claro que o governo federal não pretendia tomar essa iniciativa, mas se dispunha a dar uma ajuda discreta no processo.
Por essa época também, Jatene decidiu-se de vez a incluir no pacote outras duas Florestas Estaduais, ambas localizadas na Calha Sul do rio Amazonas, a do Iriri, na Terra do Meio, e a da Amazônia, na zona de influência da rodovia Transamazônica. Esta última é palco de conflitos entre madeireiros e comunidades da região, que têm visões diametralmente opostas ao destino que deve ser dado a ela. Os madeireiros acham a idéia da Floresta palatável. Os comunitários defendem a criação de uma Reserva Extrativista, promessa antiga de Brasília a eles. Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, e Jatene, andaram conversando nos últimos dias sobre o futuro da área.
Leia também
Quase a metade dos ambientes aquáticos do mundo está gravemente contaminada por lixo
Estudo de pesquisadores da Unifesp sintetizou dados de 6.049 registros de contaminação em todos os continentes ao longo da última década →
Como as canoas havaianas podem ser aliadas à pesquisa sobre microplásticos?
Pesquisadores da UFC desenvolveram uma nova metodologia capaz de captar dados relacionados a microplásticos com baixo custo e sem emissão de CO₂ →
Macaco-aranha-da-cara-branca é destaque de pesquisa e turismo no Cristalino
Retomada do monitoramento do macaco na RPPN Cristalino revela novas informações e ajuda a promover turismo e Rota dos Primatas de Mato Grosso →



