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Ontem e hoje

História do Festival Ambiental vem acompanhada da luta para superar contradições como o fato de ser realizado no coração de um dos biomas mais degradados do país.

Cristiane Prizibisczki ·
12 de junho de 2008 · 18 anos atrás

A história do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental sempre foi acompanhada por um desafio inglório, o de não apenas reproduzir (ou reduzir-se) o discurso dominante de apropriação das questões ecológicas unicamente para efeito de marketing.

Ao longo de suas dez edições, o objetivo de promover a cultura cinematográfica para a defesa do meio ambiente muitas vezes não foi alcançado, seja por fragilidade da própria organização ou porque a dicotomia que ainda existe no Brasil entre cultura e economia, política e meio ambiente, por exemplo, foi evidenciada.

Como falar de preservação se, nas primeiras edições do evento, não havia coleta de lixo eficiente e o acúmulo de detritos e outros materiais se tornou um sério problema para a cidade – e um inconveniente para os turistas? Ou como suplantar a contradição de que o festival é realizado no coração de um bioma reduzido de forma avassaladora e em uma cidade que foi parcialmente destruída em 2001 por uma enchente agravada pelo desmatamento das cabeceiras do Rio Vermelho?

A resposta para tais questões certamente não é simplista. Como também não são as ações que tiveram de ser tomadas – e ainda terão de ser – para conter ou evitar os efeitos da interferência do homem no meio ambiente local.

No entanto, apesar desta cena digna de filme de terror, muitas conquistas também foram incorporadas à história do FICA. A implantação do Parque Estadual Serra Dourada em 2003, o lançamento do programa “Fica Limpo” – um mutirão de limpeza que se forma durante o evento – e a descentralização de ações de educação ambiental certamente estão entre elas.

Em 2008, ao completar 10 anos, o FICA ainda terá de somar à sua balança de resultados positivos e negativos um novo fato: a recente extinção da Agência Ambiental de Goiás, que antes tinha vida própria, mas foi incorporada definitivamente à Secretaria Estadual do Meio Ambiente.

Para Osmar Pires Martins Junior, engenheiro agrônomo e presidente da Agência entre 2003 e 2006 -que na última quinta-feira destrinchou os problemas e desafios do FICA em artigo publicado no jornal goianiense Diário da Manhã -, a pergunta que o Festival terá de responder não é mais somente relacionada à qualidade dos filmes exibidos, mas sim se o “cinema ambiental” continuará a ser uma palavra composta ou se será reduzido ao vocábulo simples “cinema”.

*

E para não deixar de falar dos filmes do 10º FICA, a dica de hoje é “The Jungle Beat”, média metragem que aborda um tema bastante conhecido pelos brasileiros: a venda ilegal de madeira da Amazônia. Produção inglesa, o trabalho fala dos conflitos gerados pela exigência de licenciamento para a extração de madeira no Vale do Guaporé, em Rondônia, e da tentativa de fiscalização deste comércio pelo Ibama. Confira!

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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