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Patagônia tecnicolor

O Parque Nacional Torres del Paine, no Chile, dá exemplo em gestão e preservação de paisagens geladas, mas cheias de vida. Pena que invasões e o calor ameacem esse paraíso.

Aldem Bourscheit ·
30 de janeiro de 2007 · 18 anos atrás


Criado em maio de 1959 e declarado Reserva da Biosfera pelas Nações Unidas em abril de 1978, o parque reúne em mais de 240 mil hectares valiosas paisagens da região onde a América Latina se estreita e começa a mergulhar nas águas congelantes entre o Atlântico e o Pacífico. A reserva atrai mais de 100 mil turistas nos meses quentes do ano, oito em cada dez de fora do Chile, principalmente pelos preços salgados para a realidade sul americana.


A maioria dos visitantes usa Puerto Natales como ponto de partida para o parque, cidadezinha onde a água costuma congelar nos canos durante o inverno, deixando todos sem água por dias. A 25 quilômetros ao norte está a Cueva del Milodón. Foi lá, há mais de um século, que o colono alemão Hermann Eberhard encontrou restos de um estranho animal. O mistério foi esclarecido apenas em 1951: o fóssil pertencia a uma pré-histórica preguiça gigante, que chegava a 2,5 metros de altura e três toneladas.

Os 150 quilômetros até a área protegida estão quase totalmente asfaltados, e o acesso se dá por uma das três portarias controladas pela Corporação Nacional Florestal (Conaf). O órgão é ligado ao Ministério da Agricultura do Chile e foi criado em 1973, durante o governo de Salvador Allende. Ao pagar cerca de 50 reais pelo ingresso, cada turista deixa em uma ficha seus dados, tempo estimado de permanência e recebe um mapa com estradas, pontos turísticos, distâncias e tempos de cada caminhada, acampamentos, refúgios e hotéis. Depois, começa a aventura.

Leque de opções

Torres del Paine foi estruturado para vários tipos de turistas, tanto para os que querem mais conforto quanto para aqueles que enfrentam acampamentos com pouca ou nenhuma infra-estrutura. Dependendo de suas necessidades, prepare o bolso. Pernoites em acampamentos com armazém e chuveiro quente custam 15 reais, dormir em camas simples de refúgios de montanha não sai por menos de 65 reais e, se a opção for o luxo de hotéis de campo, será necessário desembolsar mais de 200 reais diariamente. Para quem optar pelo camping ou pernoites em refúgios do parque, uma dica: compre comida nos supermercados de Puerto Natales. Assim você economiza com os salgados preços das refeições dentro da área protegida.


Mas para aqueles que não dispensam os desafios de longas travessias, o Circuito Completo cai como uma luva. A caminhada normalmente começa em algum ponto do “W”, e pode ser realizada nos sentidos horário ou anti-horário. Por exemplo, partindo do Camping Las Torres contra os ponteiros do relógio, aventureiros de todo o mundo percorrem trilhas que levam a locais definidos para acampamentos selvagens ou estruturados, como o Coirón, Dickson, Los Perros, Grey e Italiano. Isso dá segurança ao trekking e ajuda a manter o local limpo e organizado.


A área protegida abriga mais de uma centena de aves, como condores, patos selvagens, cisnes, garças, papagaios e pica-paus, além de 25 mamíferos, como gambás, veados, raposas, guanacos e pumas. As florestas impressionam, têm resistentes arbustos e árvores que podem ultrapassar os 30 metros. No chão, muitos galhos e troncos, daí o temor dos chilenos com incêndios florestais. No parque há várias áreas em recuperação e uma campanha constante para que novas tragédias sejam evitadas.


A maioria das geleiras patagônicas, tanto no Chile quanto na Argentina, está perdendo massa nas últimas décadas, algumas até 100 metros por ano, e não só pelo gelo que acaba nos copos de uísque servido em barcos turísticos. O vilão pode ser o aquecimento global, que tem influência humana cada vez mais inquestionável, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês). Mas além de montanhas, muito gelo e paisagens de cair o queixo, outra presença constante na reserva chilena é o vento. Senhor absoluto no Verão, pode soprar como uma brisa leve ou como verdadeiro tufão, quase derrubando desavisados turistas. Em certos momentos, a ventania pode passar dos 100 km/h
(clique aqui para ver o vídeo do açoite do vento que nosso repórter enfrentou).

A Patagônia


Essas práticas e os disparates de muitos governantes fizeram com que a Patagônia fosse dominada pelo subdesenvolvimento e por gigantescos latifúndios para criação de ovelhas. Elas chegaram ao continente depois de rápida passagem pelas Malvinas, e foram o estopim de grandes impactos ambientais provocados pelo desmatamento e do extermínio da população nativa que corria livre pelos campos e conhecia como ninguém a melhor maneira de sobreviver em paragens tão inóspitas.


Além de ter sido salpicada principalmente por colonos europeus e norte-americanos em sua colonização, a Patagônia vem sofrendo nas últimas décadas uma nova invasão, graças à desvalorização das moedas sul americanas. Não bastasse o imenso afluxo de turistas estrangeiros à região, não raro os preços são afixados em dólares ou euros. E imensas extensões de terras estão nas mãos do capital externo.


* Aldem Bourscheit é jornalista em Brasília.

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

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