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Enquanto a floresta amazônica tocantinense agoniza, áreas de Cerrado, que ocupam 80% do estado, estão bem mais preservadas do que era de se esperar. Estudos encomendados recentemente pelo governo estadual para verificar pontos onde seria relevante criar unidades de conservação revelaram características únicas da região, com diversas espécies endêmicas e outras que estão sendo descobertas e descritas agora. Os resultados dizem que ela pode contribuir com cerca de um milhão de hectares em novas áreas para a conservação do bioma, que só tem 2,5% de sua área protegidos pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). “É uma oportunidade única”, disse o ornitólogo Fabio Olmos após apresentar esses dados em sua conferência no V Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), em Foz do Iguaçu.
“Para os observadores de pássaros, a região oferece dias e dias de intensa alegria”, disse ele, se referindo à área próxima ao município de São Félix, na qual o número de habitantes por quilômetro quadrado é de apenas 0,17 – ou, seja, quase não há ocupação. “Você vai chutando os bichos, de tanto que tem”, brinca ele. Não só são muitas espécies (as de mamíferos, por exemplo, são 49), como também são densas as populações. O tema da palestra de Olmos era “Representatividade ambiental de unidades de conservação”. O trabalho de mapeamento feito no Tocantins, com uma ferramenta chamada “avaliação ecológica rápida”, foi usado como ilustração, uma vez que se trata de uma proposta de criar unidades de conservação (UCs) que representem as diferentes paisagens do estado.
A escolha dos locais onde ainda é possível estabelecer unidades de conservação levou em conta a importância ecológica da área, o grau de ameaça, as oportunidades de infra-estrutura (como existência de projetos ligados ao meio ambiente), a extensão possível (quanto maior a área, maior a garantia de que ela resistirá a possíveis problemas, como incêndios) e a beleza cênica. Foram identificadas 15 áreas onde serão propostas novas UCs, com ênfase em áreas de proteção integral e incluindo um grande mosaico no Leste do estado, que pode chegar a abranger três milhões de hectares com as áreas protegidas já existentes.
Ameaças
No caso da floresta amazônica que ainda resta ali, diz ele, quase tudo está em reservas legais de grandes latifúndios que “por algum motivo” resolveram respeitar a lei. A ocupação da área é mais antiga, movida a gana por madeira. O ornitólogo propõe a criação de Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs) nessas áreas, muito fragmentadas. A principal ameaça aos refúgios, afirma, são assentamentos de reforma agrária, uma vez que latifúndios podem ser desapropriados pelo Incra para dar lugar a colonos. “O Incra ignora o que os outros fazem, pensam ou dizem”, diz Olmos, que lança nesta quarta-feira uma pesquisa sobre o impacto dos assentamentos sobre o meio ambiente, confirmando o estrago recorrente sobre a natureza causado pelo projeto de reforma agrária.
Na região de Cerrado, no Leste, o problema é outro: as áreas podem ser tomadas pelo plantio de grãos. “Parte da mesma é abrangida pela APA [área de proteção ambiental] do Jalapão, onde grandes plantios não têm sido licenciados até o momento”. Mas a situação, diz, pode mudar em breve. “Grandes plantações de soja já ocupam trechos importantes em partes vizinhas do Maranhão e Bahia, e no município de Campos Lindos”, explica.
O governo do estado está avaliando a criação das unidades, e o federal, segundo Olmos, pode entrar como parceiro. Mas a decisão, diz ele, deve ser para já, uma vez que não só as pressões são grandes como também o aquecimento global promete tornar a região muito mais seca do que é hoje. “Podemos avançar com esse projeto e proteger a região, ou perder esse momento histórico e ter no máximo alguma soja plantada em cima enquanto ainda chover”, disse.
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