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Governo nega influência da pecuária, mas contas simples mostram que municípios campeões do desmatamento tiveram crescimento vertiginoso em seus rebanhos nos últimos 10 anos.

Andreia Fanzeres ·
1 de fevereiro de 2008 · 17 anos atrás

O debate sobre os números mais recentes do desmatamento na Amazônia perdeu o foco. Depois que produtores rurais, madeireiros, governos municipais e estaduais, enfurecidos com os dados do INPE resolveram negar até o fim que sejam responsáveis pelo desmatamento a questão passou do campo técnico para o político. Para fugir dessas intrigas e entender rigorosamente o que tem acontecido nos 36 municípios apontados pelo governo como líderes do desmatamento na Amazônia, o Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) teve uma simples idéia. Comparou dados apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre pecuária e lavouras e observou o desempenho de 32 desses municípios entre os anos de 1996 e 2006 (Nova Mamoré (RO), Novo Repartimento (PA), São Félix do Araguaia (MT) e Nova Maringá (MT) não tinham esses registros no IBGE). Os resultados são esclarecedores.

Em 1996, por exemplo, o município de Machadinho D’Oeste, em Rondônia, tinha pouco mais de 30 mil cabeças de gado. Em 2006 esse número pulou para 217.355 bois. Em Lábrea, único município amazonense entre os líderes do desmatamento, o rebanho bovino era, em 1996, de 5.418 cabeças. Em 2006 se transformou em nada menos de 275.709, de acordo com os cálculos do ISPN baseados nos dados do IBGE.

São Félix do Xingu, no Pará, já tinha em 1996 um rebanho de cerca de 147 mil bovinos. Dez anos depois 1.624.425 cabeças. Em Mato Grosso, um dado curioso. O município de Colniza, um dos campeões no quesito violência e que em 1996 sequer existia – por isso, não dispunha de qualquer registro sócio-econômico – revelou-se, em 2006 com 141.849 cabeças de gado. No balanço da pecuária nesse período, dos 32 municípios campeões de desmatamento analisados, todos eles aumentaram seus rebanhos.

Em relação à área ocupada por lavouras nesses municípios entre 1996 e 2006, em 12 deles houve redução das propriedades cultivadas. No restante, alguns saltos representativos, como em Juína (MT), onde a área foi mais que duplicada, e Nova Ubiratã (MT), que saltou dos 43 mil hectares cultivados em 1996 para 222.202 em 2006.

Desmatamento recente

A análise se estendeu também para os últimos três anos, já que todos os setores não reconhecem desmatamento recente em suas regiões. No Brasil, nos anos 2004, 2005 e 2006, o rebanho bovino sofreu um ligeiro aumento de 204.512.737 cabeças para 205.886.244. E 23 municípios apontados como campeões do desmatamento elevaram seus rebanhos nesse período, com destaque para Colniza (MT), que passou de 96 mil cabeças de gado em 2004 para 197 mil três anos depois.

Em relação à ocupação de áreas com lavouras, Dom Eliseu (PA) subiu de dois mil para cinco mil hectares. Novo Progresso (PA), de apenas 20 hectares em 2004, foi registrado mil em 2006, e em Paragominas (PA), de 3.259 hectares, a área cultivada pulou pra 10 mil hectares. Outros municípios que se destacam nesse período são Brasnorte (MT), de 118 mil para 140 mil hectares e Nova Ubiratã (MT) de 160 mil hectares para 226 mil.

Se análises e comparações sócio-econômicas como essas, somadas ao monitoramento que importantes instituições brasileiras fazem da Amazônia ainda não são suficientes para mostrar o quê tem provocado diminuição nas áreas de floresta nos últimos tempos, melhor concordar com nosso presidente, e achar que o desmatamento, que já dizimou com quase 20% da Amazônia, “não tem culpados”, “é uma coceira”.

Conheça as tabelas completas elaboradas pelo ISPN.

Pecuária e Lavouras (1996-2006)

Pecuária (2004-2006)

Lavouras (2004-2006)

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

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