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Amazônia invade NY

Exposição sobre a floresta tropical que já rodou SP, Rio e Paris chega a museu nova-iorquino. Atrações incluem um passeio virtual na mata e um farto material para as crianças.

Plínio Ribeiro ·
28 de fevereiro de 2008 · 17 anos atrás

Dois mundos vão se chocar em abril. De um lado, a cidade mais cosmopolita e que melhor traduz o conceito de globalização. Do outro, a região mais primitiva e muitas vezes mais inacessível do planeta. Nova iorquinos e cidadãos do mundo que moram, estudam ou passeiam por aqui terão a oportunidade de sentir, pegar, olhar e fascinar-se pela maior floresta tropical de planeta, a Amazônia.

Foi lançada nesta quarta no National Museum of American Indian a exposição “Amazônia Brasil” que estará aberta ao público de Nova Iorque entre os dias 17 de abril e 13 de julho deste ano. Como disse Anna Cláudia Agazzi, diretora executiva da exposição, “o objetivo é dissipar o conhecimento sobre último grande ecossistema tropical e trazer lições e exemplos de sustentabilidade para nova iorquinos e o restante do mundo”.

A exposição atinge sua maturidade depois de passar por São Paulo, Rio de Janeiro, Paris, Lausanne, e já ter sido visitada por mais de 450 mil pessoas. “O maior desafio é trazer toda as características desse ecossistema e de suas populações para um espaço reduzido e ainda numa cidade global como essa. Ainda que tivéssemos todo o Central Park a nossa disposição o desafio de traduzir essa complexidade ainda não estaria resolvido”, afirmou a enérgica Anna Cláudia. Depois a exposição parte para Tóquio, Mônaco e Holanda.

Amazônia Brasil será uma exposição multicultural e vai reunir o universo de conhecimentos disponíveis sobre a região, com toda sua diversidade, potencialidades e contradições. Traz as comunidades locais, os povos da floresta e os projetos inovadores; apresentando a Amazônia sob a ótica de quem vive e trabalha com soluções possíveis e realistas em seus diversos caminhos e dimensões. Não se trata de uma exposição “sobre” a região, mas uma exposição “da” região.

O novo curupira

O benefício se traduz não apenas num maior entendimento desse patrimônio brasileiro, mas também na arrecadação direta de recursos financeiros para 36 organizações da sociedade civil que atuam na Amazônia. Segundo Eugênio Scannavino Netto, diretor do Projeto Saúde e Alegria e um dos idealizadores da exposição, “metade da arrecadação pela cobrança de ingressos será revertida para um fundo que redistribuirá os recursos entre as organizações envolvidas”.

Eugênio não teve problemas em falar em inglês sobre os atributos educacionais do projeto. Para um público formado em sua maioria por professores da rede pública de Nova Iorque, ele explicou a importância de se ensinar nas salas de aula a “verdadeira Amazônia”, que segundo ele, “é muito mais fantástica que a própria fantasia que existe no imaginário das pessoas que nunca pisaram naquele solo, viram suas cores e conviveram com seus habitantes”. Um material que reúne fontes de pesquisa, livros e atividades didáticas foi preparado e será distribuído em parceria com a secretaria de educação de Nova Iorque para professores da rede pública. Dividido em três partes: aspectos geográficos, diversidade biológica e lingüística, população e comunidades tradicionais, esse material oferece a oportunidade de 20 horas de aulas sobre a Amazônia para alunos da terceira e sexta séries. A secretária municipal de educação falou orgulhosa da parceria como “uma oportunidade para nossas crianças terem a sensação de estar na Amazônia”. O curupira, protetor das florestas e figura folclórica da região, ganhou traços modernos e será uma espécie de mascote do projeto.

A parte principal da exposição será montada num espaço de 1500 metros quadrados no tradicional Píer 17 no sul da ilha de Manhattan. A idéia é criar uma Amazônia virtual onde o visitante terá a sensação de navegar nos rios, ouvir os sons e conhecer uma vila tradicional que está sendo “literalmente transportada da Amazônia para cá. Todos os aspectos originais serão mantidos”, afirmou Eugênio. Simultaneamente o National Museum of American Indian vai expor a crônica fotográfica “Guardiões da Floresta” de do fotógrafo Rodrigo Petrella. Há também uma exposição de moda e design que acontecerá no World Financial Center, com produtos e artistas da região.

Em tempos de mudanças climáticas, a importância da Amazônia para o aquecimento global foi enfatizada pelo embaixador do Brasil no Estados Unidos Antônio de Aguiar Patriota que veio exclusivamente de Washington para o evento. Segundo ele, “a cooperação internacional é fundamental para garantir a importância e os serviços que a Amazônia presta ao planeta”. Sobre o fato de estar sediada em Nova Iorque ele foi mais enfático e afirmou “não ter lugar mais oportuno para uma exposição como essa. A cidade é não só um cruzamento de culturas, mas é a sede das Nações Unidas onde assuntos dessa relevância devem ser tratados”. Nosso embaixador aproveitou para anunciar que a ONU vai dedicar um espaço para a exposição abordar a importância da Amazônia para o aquecimento global com dados, fotos e pesquisas atuais.

Esse choque de culturas e conhecimentos é fundamental para a Amazônia que queremos para essa e as futuras gerações. Soluções inovadoras e vozes da floresta precisam ganhar espaço aos holofotes globais. A floresta não podia escolher uma cidade melhor para mostrar a sua cara.

Plínio Ribeiro é mestrando em Administração Pública e Ciências Ambientais na Universidade de Columbia, Nova York. Foi um dos produtores do documentário “Return to the Amazon”, de Jean Michel Costeau.

  • Plínio Ribeiro

    Plínio Ribeiro é formado em administração de empresas e economia pelo IBMEC, em São Paulo.Trabalha há um ano no IPÊ – Institu...

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