foto: Marcos Sá Corrêa |
Em meio às complexas discussões sobre a sua regularização fundiária, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro recebeu uma excelente notícia no último domingo (30) do mês passado: a mineradora Vale anunciou a doação de R$ 2 milhões para a conservação e manutenção do arboreto, área de 57 hectares que recebe cerca de 650 mil turistas por ano. A parceria pode dar um alento à instituição, que sofre com a falta de recursos do governo federal. Além disso, a Petrobras, antiga patrocinadora, saiu de cena em novembro de 2007, quando o contrato para recuperar o aqueduto da Levada, o rio dos Macacos e os espaços de visitação do jardim chegou ao fim.
Reconhecido como um importante centro de pesquisas, o Jardim Botânico tem exemplares de aproximadamente nove mil espécies vegetais que representam ecossistemas brasileiros e de outros países. Em seu interior também um vasto remanescente da Mata Atlântica ao pé do Morro do Corcovado. Há mais de um ano e meio, no entanto, a mata não recebe os recursos necessários.
Apesar do antigo patrocínio da Petrobras,o rio dos Macacos continua muito poluído em virtude do esgoto proveniente das quase 600 casas erguidas no interior do Jardim. A área de visitação, embora em melhor estado, também apresenta marcas do tempo . Basta uma volta por dentro da bela área verde encravada entre dois dos principais bairros cariocas (Gávea e Jardim Botânico) para notar placas sujas, podas inacabadas e sinalizações comprometidas. Além disso, cerca de 40 bancos estão quebrados sem previsão de conserto.
A expectativa, agora, é que o cenário mude por completo. Lizst Vieira, presidente do Jardim Botânico, lembra que a aproximação entre o instituto de pesquisas e a Vale começou em 2008, quando a empresa patrocinou a grande festa de celebração dos 200 anos do espaço criado por Dom João VI. “Apresentamos, nesta época, uma proposta de cooperação, mas a crise financeira chegou logo depois e todas as grandes companhias enfrentaram temporais e vendavais. Retomamos o contato há pouco e o acordo começará a funcionar em breve”, explica.
Mas o espaço de visitação do jardim não ficou totalmente parado e sem qualquer injeção de capital de novembro de 2007 até aqui. É o que diz Vieira a respeito do trabalho efetuado durante a temporada de seu segundo centenário. “Todos os espaços construídos do Jardim Botânico foram restaurados. O bromeliário, o cactário, caminho da Mata Atlântico, Aqueduto da Levada, o chafariz central, enfim, todos renovados ano passado. Também criamos o Centro Nacional de Conservação da Flora, o que torna o Jardim Botânico coordenador da lista das espécies vegetais ameaçadas de extinção”, completa.
Estrutura é prioridade
As expectativas, com o apoio da Vale, são grandes. A empresa ainda não sabe quando a primeira parcela (um milhão de reais em 2009 e outra quantia igual em 2010) será liberada, mas o planejamento já está traçado. “Os funcionários do parque, é claro, tiveram a liderança na parte técnica do projeto. Mas entendo que a parceria seja em função de manter o arboreto inteiro com seus mais de 200 canteiros, além de inaugurar um novo espaço focado em espécies ameaçadas”, afirma Katsuo Homma, coordenador executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade.
A primeira medida do Jardim Botânico assim que os recursos entrarem, será contratar 28 profissionais para a poda das árvores e suporte de toda a parte botânica do parque. Ao mesmo tempo, novos carros elétricos para facilitar o trânsito interno serão adquiridos junto com guias, que serão os responsáveis por mostrar o local a idosos e pessoas com deficiência de locomoção.
“Também vamos abrir uma trilha de árvores notáveis e trabalhar com responsabilidade social com moradores das comunidades do entorno. Estes jovens vão ajudar a plantar mudas para fortalecer o nosso horto botânico. Para completar, vamos repor bancos do jardim, todos com material reciclado. Em suma, a intenção é oferecer melhores condições de visita, recuperar espécies em risco e oferecer ajuda a pessoas carentes”, afirma Guido Gelli, diretor de Ambiente e Tecnologia do parque.
Gelli coloca o Jardim Botânico como uma das instituições mais bem cuidadas do Brasil, mas sabe que o aumento da visitação gera desgaste de materiais e erosão. Portanto, diz, a possibilidade de voltar a contar com patrocínio exclusivo para o arboreto é muito bem vinda. E não poderia ser diferente: hoje, há poucos fiscais ao longo de uma caminhada pelo interior do parque, além de raros trabalhadores nos canteiros e bosques.
Também não há muitos folhetos sobre as coleções de flora permanentes ou a respeito dos projetos de pesquisas tocados na instituição. Mas isso também deve mudar, de acordo com Gelli. Um maior número de folders explicativos serão impressos, inclusive com informações acerca da origem de cada espécie, sua raridade e por quem ela foi plantada. Pelo menos para a nova trilha de árvores notáveis.
Maria Helena Nóvoa, presidente da Associação dos Amigos do Jardim Botânico, acha a parceria ótima. “Tenho tudo a favor de quem deseja patrocinar o verde. Ainda preciso conhecer melhor os parâmetros do investimento, mas em princípio acho que será uma bela ajuda”, afirma.
O investimento da Vale beneficia um parque castigado por disputas judiciais de desapropriação de terras. Tomara que a conservação da natureza retome o seu lugar de destaque.
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200 anos do Jardim Botânico
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