Um monitoramento severo das áreas de expansão de cana-açucar, bem como uma nova rede de unidades de conservação nas regiões dos canaviais, são algumas das recomendações incluídas em relatório inédito do WWF-Brasil sobre o avanço do setor sucro-alcooleiro.
O estudo, patrocinado pelo governo da Holanda, mostra um quadro relativamente positivo quanto à producão do etanol no país. Por exemplo, aceita basicamente os argumentos do governo e dos usineiros usados contra os críticos estrangeiros: que o carburante de cana não ameaça a produção de alimentos, que é o mais eficiente biocombustível no mundo em termos de balanço energético, e que não apresenta ameaças diretas à floresta amazônica.
Porém, o relatório aponta riscos de perda de biodiversidade e ameaças aos recursos hídricos na expansão da área plantada de cana no Cerrado e no plantio cada vez mais concentrado no estado de São Paulo.
“De forma genérica, pode-se concluir que o impacto da expansão da cana em escala nacional é relativamente baixo, haja vista que a cana-de açucar é uma cultura que ocupa pouca área quando comparada com outras ativitidades primárias (pecuária e soja),” diz o WWF no relatório.
“No entanto, se analisarmos o impacto da expansão da cana numa escala regional, concluiremos que este é significativo.”
Como exemplo, o estudo cita os casos da bacia do Rio Grande, afluente do Paraná, onde 33% já são ocupados exclusivamente pela cana, e da “meso-região” de Ribeirão Preto, onde praticamente 45% são tomados pela lavoura.
Nestas áreas de grande e crescente concentração da cana, faz-se necessário um planejamento estratégico da paisagem de forma a minimizar os efeitos sobre a biodiversidade e recursos hídricos, de acordo com WWF. Isso significaria a criação de novas unidades de conservação, bem como o planejamento de corredores ecológicos e conexão de fragmentos a partir da utilização das áreas de reserva legal.
Quanto à expansão nas áreas do Cerrado, o relatório cita um estudo do ano passado do Instituto Sociedade, População e Natureza, sugerindo que a cana vem ocupando áreas prioritárias para conservação e uso sustentável do Cerrado (ver mapa ), nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
“Um monitoramento severo com relação às novas áreas de expansão da cana é absolutamente necessário para evitar impactos ambientais negativos sobre esse bioma bem como a recomposição de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal nas áreas já ocupadas pela cana nos casos em que o código florestal não está sendo obedecido,” diz o relatório de WWF.
Cana na Amazônia
O estudo também aborda a questão de possiveis ameaças indiretas a ecossistemas inclusive a Amazônia, por meio da deslocação de atividades como criação de gado e plantio de grãos, das áreas de grande expansão do setor sucro-alcooleiro no Centro-Sul. Mas sobre esta questão, o WWF não oferece conclusões definitivas.
“Mais estudos associados a metodologias adequadas para medir esse efeito indireto devem ser desenvolvidos,” recomenda.
No lançamento do relatório num debate sobre biocombustiveis na Universidade de São Paulo (USP) na segunda-feira, o autor principal, o coordenador de agricultura e meio ambiente do WWF-Brasil, Luiz Fernando Laranja da Fonseca, ressaltou que não apresentou a posição oficial da ONG sobre o etanol.
Na verdade, a perspectiva geral do relatório, de que o etanol é uma grande oportunidade de produzir energia limpa, cujos riscos são relativamente baixos, representa um contraste enorme com o atitude geral de grupos ambientais, especialmente na Europa. Lá, o antigo sonho de biocombustiveis está sendo visto cada vez mais como pesadelo de destruição ambiental e semeador da fome.
O argumento deste relatório é de que, aqui, as coisas são diferentes. Mesmo assim, implica mudanças significativas no planejamento da expansão do setor para evitar problemas no futuro.
Leia o relatório completo da WWF sobre a expansão da cultura de cana de açúcar.
*Tim Hirsch foi correspondente da meio ambiente da BBC e atualmente é jornalista em São Paulo. Ele escreve o Blog Vida na Mata Atlântica.
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