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2009: entre os 10 anos mais quentes da História

A Organização Meteorológica Internacional adianta dados para influenciar negociações do clima. Na África e Ásia recordes de calor são alcançados, mas os EUA e o Canadá esfriaram.

Andreia Fanzeres ·
8 de dezembro de 2009 · 15 anos atrás

A Organização Meteorológica Internacional (WMO, na sigla em inglês) anunciou nesta terça-feira que 2009 será o quinto ano mais quente da História. O relatório final está previsto para sair apenas em março de 2010, mas para influenciar as negociações em Copenhague, o secretário-geral da WMO, Michael Jarraud decidiu adiantar o que havia de informação sólida até agora.

Se compararmos a média de temperatura das superfícies do mar e da terra nas três décadas entre 1961 e 1990 com a média de 2009 houve um acréscimo de 0.44º C. A década de 2000 foi mais quente que a década dos anos 1990, por sua vez mais aquecida do que os dez anos anteriores. “Há uma tendência de aquecimento e não há dúvida sobre isso”, disse Jarraud a jornalistas. Também hoje, o MetOffice Hadley Centre, renomado instituto de pesquisas climáticas da Inglaterra, reforçou que esta década está sendo a mais quente desde que este tipo de monitoramento começou, há 160 anos.

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Enquanto na maior parte do planeta a temperatura ficou acima da média, com especial destaque para a região central da África e Ásia, onde foram batidos recordes de todos os tempos, no norte dos Estados Unidos e do Canadá as temperaturas caíram abaixo do normal. “O aquecimento global não tem impacto uniforme. O que sabemos com certeza é que as ondas de calor vão ficar mais intensas e freqüentes, especialmente nas latitudes mais elevadas e nas áreas continentais, mas isso não significa que não fará frio em alguns locais”, explicou o secretário-geral à jornalista russa que revelou dificuldade de tratar de temas ligados ao aquecimento global quando parte de seu país enfrenta temperaturas que beiram os 50 graus negativos.

Mesmo nos países onde na média anual as temperaturas foram consideradas baixas, houve picos notáveis de calor. Nas cidades de Vancouver e Victoria, no Canadá, os termômetros bateram 34 e 35 graus. A Espanha teve o terceiro verão mais quente da História. No sul do Brasil e partes da Argentina, Paraguai e Uruguai, também foram registradas temperaturas muito altas para o período de março a maio, batendo os 40 graus, além de inundações dignas de nota no nordeste entre abril e maio e agora em novembro na região sudeste. Os impactos econômicos de chuvas intensas nas grandes cidades e secas extremas também foram destacados, rios secando na Austrália e perdas de 40% na colheita de milho no Quênia, entre vários outros exemplos.

Gráfico mostra a variação durante as décadas.

Segundo a WMO, apesar de evidências concretas como as aferidas na Antártica – de que nos últimos 800 mil anos nunca houve uma concentração de gases na atmosfera tão intensa quanto agora – ainda é difícil relacionar fenômenos extremos como ciclones e furacões ao processo de mudanças climáticas. “Temos informações completas, como rastreamento de furacões por satélites de apenas 40 anos atrás, então é difícil dizer se um desses fenômenos foi causado pelo aquecimento do planeta. Nunca um fenômeno tem apenas uma causa. O que podemos dizer é que mais furacões de categoria 4 e 5 serão bem mais freqüentes”, explicou Jarraud.

Em entrevista a O Eco, o chefe do IPCC Rajendra Pachauri reafirmou que essa tendência de eventos extremos dificilmente será revertida diante dos anúncios de cortes de redução anunciados até aqui, que não chegam nem perto de uma desejável redução de 25 a 40% nas emissões totais no planeta até 2020, conforme foi estabelecido na COP13, em Bali. “Se quisermos limitar o aumento de temperatura de 2 a 2.4 graus, o pico de emissões no planeta deve ser atingido até 2015, depois disso as emissões precisam diminuir. E essas metas não são suficientes”, disse a um grupo de cinco jornalistas na tarde de hoje.

Recentemente o governo brasileiro divulgou que nos últimos 15 anos as emissões nacionais cresceram 62%. Antes de desembarcar na Dinamarca, a delegação brasileira anunciou que pretende reduzir emissões de 36,1 a 38,9% com relação à previsão de crescimento do PIB brasileiro até 2020.

Países mais afetados pelas mudanças climáticas

A organização alemã Germanwatch publicou o Ìndice Global de Risco Climático de 2010 nesta terça em Copenhague. Segundo o estudo, os países mais afetados por eventos climáticos extremos (tempestades, inundações, ondas de calor) entre 1990 e 2008 foram Bangladesh, Mianmar e Honduras. Os impactos econômicos e sociais mensurados neste estudo pretendem, segundo o autor Sven Harmeling, incentivar mais os países ricos a apoiar estratégias de adaptação às mudanças climáticas nos países pobres.

  • Andreia Fanzeres

    Jornalista de ((o))eco de 2005 a 2011. Coordena o Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

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