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Carros super poluentes

Carros são até 40 vezes mais poluentes que transporte público mostra 1º Inventário de Emissões do Transporte Rodoviário. Para Minc, IPI mais barato não causou aumento da poluição.

Cristiane Prizibisczki ·
25 de março de 2010 · 15 anos atrás
(foto:divulgação)

O Ministério do Meio Ambiente divulgou nesta quinta-feira (25), no Rio de Janeiro, os resultados do 1º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores. O documento mostra uma queda acentuada de certos poluentes, como o monóxido de carbono (CO) e o metano (CH4). Mas também aponta para a manutenção da curva de crescimento do principal responsável pelo aquecimento global: o dióxido de carbono (CO2).

Atualmente, os veículos que rodam nas estradas e ruas do país, sejam eles caminhões, carros ou motos, são responsáveis por cerca de 90% das emissões totais do setor de transportes. Eles representam cerca de 60% da movimentação de cargas e passageiros em todo país, segundo dados levantados pelo MMA.

“Mesmo em regiões populosas, onde há muitas indústrias, o transporte é o que mais impacta [o meio ambiente]”, explicou a secretária nacional de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Khan.

Em 2008 e 2009, os carros emitiram 39,1 milhões de toneladas de CO2, contra 18,7 milhões emitidos pelo transporte público. Quando considerado somente o CO, essa diferença é ainda maior: o transporte coletivo se mostrou 40 vezes mais limpo do que os carros. Isso levando em conta que, hoje, o número de pessoas transportadas por meios públicos é praticamente igual aos que se locomovem com seus próprios carros (16,8 bilhões/ano e 17 bilhões/ano, respectivamente).

Política pública

Segundo o inventário, o Programa de Controle da Qualidade do Ar por Veículos Automotores (Proconve), implementado em meados da década de 1980, foi o grande responsável pelo diminuição de certos gases, como o metano, o material particulado e o monóxido de carbono, estes os grande responsáveis pelas doenças respiratórias nas grandes cidades.(veja gráficos).

O programa não conseguiu diminuir, entretanto, as emissões de gases como os óxidos nitrosos (NOx), precursores do ozônio, e o CO2, o que aponta, segundo o MMA, para a necessidade da mudança na matriz de transporte no país, seja na substituição do meio rodoviário para outros tipos ou na melhora da tecnologia usada pelos veículos, principalmente os movidos a diesel.

“Acho assustador [o resultado do inventário]. Ele mostra a dependência que o Brasil tem no modal rodoviário e como o país está atrasadíssimo nesse assunto”, disse o ministro Carlos Minc, durante a apresentação do documento. Atualmente, o Brasil possui cerca de 36 milhões de veículos, incluindo automóveis, veículos comerciais leves, ônibus, caminhões e motocicletas. A estimativa é que, em 2020, somente a frota de motos chegue a 20 milhões de unidades. Hoje são cerca de nove milhões.

Segundo ele, a redução do IPI – medida adotada pelo governo para manutenção das vendas no setor e que contribuiu para colocar milhares de carros nas ruas desde que foi implementada, em 2009 – não afetou na piora do quadro, porque os brasileiros “apenas anteciparam” uma compra que certamente já fariam. Minc também salientou que o governo concederá desonerações nos impostos para carros menos poluentes e para veículos elétricos. Ainda são esperadas novas medidas do governo para diminuição do enxofre no diesel, aumento da porcentagem de biodiesel no combustível e investimentos na melhoria do transporte público.

Durante o evento, foram nomeadas as entidades responsáveis pelo aperfeiçoamento do inventário. Até dezembro deste ano, elas também terão a tarefa de detalhar as composições das emissões de poluentes das 10 maiores regiões metropolitanas do País: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza e Belém. A idéia do governo é que o inventário sirva de ponto de partida para o Plano Nacional de Qualidade do Ar, que vai contribuir para o alcance das metas estipuladas no Plano Nacional de Mudanças Climáticas.

Dados controversos

Os dados usados pelo MMA para a realização do inventário é responsável por um grande grau de incerteza nos números apresentados, segundo André Ferreira, pesquisador de uma das entidades que participaram na formulação do inventário, o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Isso se dá porque a quantidade de poluentes emitidos é medida no momento da homologação do veículo pelo Ibama, ainda na fábrica, e em uma circunstância que não necessariamente reproduz as situações que o carro passará ao andar nas ruas. A intensidade de uso e o desgaste do veículo ao longo dos anos também não entram nessa conta.

“Foi o melhor possível [o inventário] com as informações que tínhamos disponíveis, que são públicas. O problema é que a informação disponível é pobre. O documento ainda precisa melhorar muito”, disse Ferreira a O Eco.

 

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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