Reportagens

Falta transparência florestal no Peru

Relatório da organização Global Witness demonstra que ainda sob névoa de violento confronto em zonas de floresta, o Peru sonega informações sobre manejo e preservação de suas matas.

Redação ((o))eco ·
13 de maio de 2010 · 16 anos atrás
Conflitos em Bagua causaram 33 mortes e levaram governo do Peru a discutir nova lei de florestas (foto: SPDA)
Conflitos em Bagua causaram 33 mortes e levaram governo do Peru a discutir nova lei de florestas (foto: SPDA)

 A Global Witness, organização não-governamental oficial que acompanha o processo UN-REDD ( o programa das Nações Unidas para redução de emissões causadas por desmatamento e degradação florestal em países em desenvolvimento) organizou uma reunião recentemente para discutir o resultado do relatório anual de transparência florestal. Participaram membros do Camarões, Gana, Libéria e Peru.

Ao longo de um período de quatro meses de investigação, as instituições públicas florestais de cada país passaram por testes de abertura de informações para a participação da sociedade civil nas decisões relativas ao setor florestal. Os temas principais foram a transparência na tomada de decisões, acesso legal às informações de posses de partes florestais e a utilização da terra.

Dos quatro países envolvidos, o Peru é o único que possui um quadro jurídico que garante acesso às informações. Como reconhece a lei do artigo 2, número 5 da Constituição do Peru, a transparência é regulada pela Transparência e Acesso à Informação Pública, aprovada por lei (nº 27806).

No entanto, a pesquisa realizada pela organização Derecho, Ambiente y Recursos Naturales (DAR) revelou uma preocupante falta de cumprimento desta lei.

Laura Furones, chefe do Latin American Development at Global Witness, disse “Existe uma evidente lacuna entre a teoria e a prática. Sim, as ferramentas existem, mas a verdadeira questão é: elas realmente funcionam?”.

A investigação, que comporta duas abordagens principais – monitoramento transparente em relevantes páginas da internet e a apresentação de cartas de requerimento de informações – encontrou a média de apenas 49,5% em conformidade com os requisitos legais de sites dedicados a transparência no setor florestal pelas instituições responsáveis pela gestão e conservação de florestas, enquanto outras instituições – não relacionadas às florestas – atingiram a média de 82,6%. E somente 25% das solicitações de informações foram respondidas.

De acordo com Furones, é difícil saber se a obscuridade das informações relativas às florestas é devido à carência de recursos, ou à falta de vontade. Seguindo o Acordo de comércio entre Peru e EUA de fevereiro do ano passado, vem sendo foco o estabelecimento de um quadro jurídico que enfatize maior igualdade para essas áreas em relação às necessidades públicas.

Sob a névoa de um violento confronto que acarretou na morte de mais de 33 pessoas em Bagua no ano passado, uma nova lei sobre florestas e vida selvagem é atualmente negociada no Congresso do Peru. Esta separará a área de florestas em zonas, na esperança de prevenir disputas relativas às diferentes atividades econômicas. Dentro dos quatro grupos instituídos pelo governo, um deles atenta a lei florestal e a participação indígena.

Sugestões de NGOs e especialistas cessaram em 9 de abril e o projeto têm sido apresentado ao Congresso para ser votado. No entanto, os interesses são polarizados, e a questão se as sugestões sobre transparência no setor florestal serão incorporadas com sucesso dentro das políticas públicas, ou ao menos ouvidas, é o ponto de tensão atual.

Após a demonstração das ações do projeto, o diretor-geral da Forestal y de Fauna Silvestre (FFS), subordinado ao Ministério da Agricultura, anunciou o compromisso de implementar uma página na internet destinada a dividir informações em benefício dos atores florestais e agentes locais. (Patrick Bodenham)

Leia também

Notícias
19 de dezembro de 2025

STF derruba Marco Temporal, mas abre nova disputa sobre o futuro das Terras Indígenas

Análise mostra que, apesar da maioria contra a tese, votos introduzem condicionantes que preocupam povos indígenas e especialistas

Análises
19 de dezembro de 2025

Setor madeireiro do Amazonas cresce à sombra do desmatamento ilegal 

Falhas na fiscalização, ausência de governança e brechas abrem caminho para que madeira de desmate entre na cadeia de produção

Reportagens
19 de dezembro de 2025

Um novo sapinho aquece debates para criação de parque nacional

Nomeado com referência ao presidente Lula, o anfíbio é a 45ª espécie de um gênero exclusivo da Mata Atlântica brasileira

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.