Reportagens

Operação contra ‘crédito virtual’ em Rondônia

Ação do Ibama já investigou 40 madeireiras suspeitas de 'esquentamento' de toras nativas.

Karina Miotto ·
16 de agosto de 2010 · 15 anos atrás

No dia 2 de agosto, o Ibama anunciou o início da Operação Dinizia em Rondônia que, nas palavras de um comunicado oficial, visa “coibir ilícitos ambientais relativos à exploração e industrialização ilegal de produtos e subprodutos florestais”. A operação será feita em parceria com o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), a Polícia Federal, o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), a Força Nacional de Segurança e a Polícia Rodoviária Federal.

O foco da ação se concentrará no combate aos chamados “créditos virtuais” e no esquentamento de madeira proveniente de terras indígenas e unidades de conservação do estado, especialmente nos distritos Jaci-Paraná, Vista Alegre do Abunã, Extrema e Nova Califórnia. Rondônia possui cerca de 1500 madeireiras. 80 delas ficam nos quatro distritos onde se concentram as ações da Operação Dinizia.

A função do chamado crédito virtual é “legalizar” madeira roubada, ilegal. De acordo com uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o índice de conversão, ou seja, de aproveitamento da tora, é de 45%. Quando o madeireiro aproveita menos do que isso, esquenta madeira e vende o crédito restante por m3, que chega a custar R$ 400 (o preço do m3, fora deste esquema de corrupção, gira em torno de R$ 600).

César Luiz da Silva Guimarães, superintendente estadual do Ibama em Rondônia, conta que as suspeitas do esquema começaram a partir da observação de que ao mesmo tempo em que o índice de desmatamento no estado diminuía, a venda de madeira aumentava. “Percebemos que havia algo de errado. Foram 18 meses de investigação em um trabalho de inteligência até identificarmos um mercado negro”.

Em uma semana de ação, a Operação Dinizia já fiscalizou 40 madeireiras. Deste total, onze apresentam indícios de irregularidades e quatro estão, definitivamente, agindo de forma ilegal. Os proprietários foram denunciados criminalmente por falsidade ideológica, formação de quadrilha, falsificação de documento público e poderão ser presos, além de terem que pagar uma multa.

Mais de 100 espécies de árvores têm sido retiradas na região de forma ilegal, entre elas Faveira Ferro, Taoarí, Angelim e Maracatiara. A detecção do corte é uma das dificuldades enfrentadas pela fiscalização, já que madeireiros fazem a derrubada de uma árvore às vezes com quilômetros de distância da outra. Visto do alto, o local do crime pode parecer floresta intocada. “A quantidade de dinheiro que corre neste esquema é incalculável. Estamos falando de milhões e milhões de reais”, explica o superintendente.

De acordo com ele, 130 pessoas de diversos órgãos atuam em conjunto na Operação, que não tem data para terminar. “Todos estão muito bem treinados, equipados e preparados com boa infraestrutura. Estamos em uma guerra de igual para igual contra o crime organizado”. Ele diz que a equipe chegou a receber ameaças. “Já ouvimos que ninguém tem peito de ferro. Se alguma coisa acontecer, aí sim que intensificaremos o trabalho”. (Karina Miotto)

Leia também

Notícias
19 de dezembro de 2025

STF derruba Marco Temporal, mas abre nova disputa sobre o futuro das Terras Indígenas

Análise mostra que, apesar da maioria contra a tese, votos introduzem condicionantes que preocupam povos indígenas e especialistas

Análises
19 de dezembro de 2025

Setor madeireiro do Amazonas cresce à sombra do desmatamento ilegal 

Falhas na fiscalização, ausência de governança e brechas abrem caminho para que madeira de desmate entre na cadeia de produção

Reportagens
19 de dezembro de 2025

Um novo sapinho aquece debates para criação de parque nacional

Nomeado com referência ao presidente Lula, o anfíbio é a 45ª espécie de um gênero exclusivo da Mata Atlântica brasileira

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.