Por Gustavo Faleiros
São Paulo – Há poucas semanas, quando 20 milhões de votos dados a Marina Silva mudaram o rumo do primeiro turno das eleições presidenciais, o tema ambiental parecia ganhar espaço nunca antes conquistado. De fato, militantes em organizações não governamentais reconhecem que pela primeira vez o tema teve relevância em uma corrida eleitoral. Mas termina por aí. Desde o início do 2º turno, com programas na TV e debates face a face, o “meio ambiente” não passou de um bordão a mais entre os usuais segurança, educação, saúde e emprego.
A questão, apontam ambientalistas e integrantes da campanha de Marina Silva, é que, de forma geral, nenhuma proposta é debatida em profundidade, muito menos aquelas relacionadas às questões ambientais. Mais complicado é encontrar qualquer menção ao tema nos programas de governo dos candidatos, simplesmente porque nenhum deles apresentou um programa de governo.
“A julgar pelos programas de TV, a plataforma dos candidatos é digna de um prefeito, prometendo posto de saúde em cada esquina. A campanha para presidente deveria lidar com questões bem maiores” ironiza o diretor de campanhas do Greenpeace, Sérgio Leitão. Para ele, a única mudança no perfil dos candidatos seria de que agora abraçam árvores e não só criancinhas. “Todo mundo virou ambientalista.”
Mesmo com a superficialidade do debate, o Greenpeace afirma que esta ainda é a melhor chance para elevar o status do tema ambiental na política nacional. A ONG acaba de lançar uma carta-petição aos candidatos Dilma Rousseff e José Serrá com uma série de compromissos na área ambiental. Qualquer pessoa pode entrar no site do Greenpeace e assinar a petição.
Os pontos mais importantes da carta, segundo Leitão, são: (1) compromisso com o desmatamento zero, (2) esclarecimento sobre posicão a respeito da mudança do Código Florestal ,(3) leis para o incentivo de energias renováveis no Brasil, (4) revisão dos planos de construção de novas usinas nucleares e (5) como serão atingidas as metas de redução de efeito estufa assumidas na Política Nacional de Mudanças Climáticas.
As propostas de Marina
As propostas colocadas na mesa pelo Greenpeace são bastante próximas as que foram apresentadas por Marina Silva como condição para eventual apoio durante o segundo turno. Na última quinta, a candidata do PV listou suas ideias, agrupadas em um documento chamado “Brasil Justo e Sustentável”. Organizados por temas como educação, saúde, segurança pública etc, os tópicos de meio ambiente contêm maior quantidade de propostas.
Separados entre “Mudanças Climática, Energia Infra Estrutura” e “Proteção de biomas”, os compromissos pedidos por Marina aos candidatos de PT e PSDB são bastante espinhosos. Considere, por exemplo, a proposta de “desmatamento zero de qualquer vegetação nativa em estágio primário ou secundário”. “Certamente uma discussão incômoda para o Serra que tem a Kátia Abreu (senadora do DEM –TO, da bancada ruralista e presidente Confederação Nacional da Agricultura) na base de apoio e para Dilma, que tem os ruralistas no Congresso como fiel da balança”, diz Sérgio Leitão, do Greenpeace.
Tentamos, em ((o))eco, obter um posicionamento dos dois partidos sobre a absorção das ideias de Marina aos seus programas de governo. Ambos, PT e PSDB, estão esperando a posição oficial do Partido Verde sobre quem receberá o apoio no 2o turno. Mesmo que o partido opte por apoiar Dilma ou Serra, não há garantia de que a agenda verde será inteiramente aceita. Como se sabe, os dirigentes do PV já anunciaram que a posição de Marina não será necessariamente a deles. E vice-versa.
Clique aqui para ler a proposta completa de Marina Silva .
Opinião dos leitores
A maioria dos leitores consultados pelo ((o))eco afirma que a candidata do PV deve apoiar José Serra no segundo turno. Durante 5 dias, 159 pessoas responderam a enquete quantitativa e 57 pessoas postaram comentários na pesquisa.
O quadro abaixo mostra os resultados quantitativos
Entre os comentários, leitores pediram coerência de Marina Silva, como Carlos José Magalhães “Marina saiu do Ministério. do Meio Ambiente porque discordava da política da Casa Civil (Dilma), da política do pres. Lula e do PT, principalmente quanto a licenciamentos ambientais. Discordava tanto, que mudou de partido (foi para o PV). Coerencia seria, então, apoiar Serra, evidentemente. Ficar neutra ou apoiar Dilma faria com que Marina fosse mais uma adesista… “
Janaina Barbosa defendeu que a candidata do PV permaneça neutra – “Acho que ela deve se manter neutra e longe desses modelo político e econômico fadado ao fracasso e que necessita urgentemente de mudanças que privilegiem principalmente um modelo econômico que coloque a sustentabilidade como prioridade. Creio que esse não é objetivo nem de Dilma e muito menos de Serra. Acredito na ética e na verdade de Marina e isso se confirmará caso ela se mantenha firme aos seus princípios.”
Já a leitora Sylvia defendeu o apoio a Dilma – “a política que mais se encaixa a de MARINA é a do PT e, nela a Marina pode fazer a inserção das suas prioridades no plano de governo.. tem que apoiar a DILMA porque condiz com seus ideais e lutas – do contrário estará indo contra sua luta para melhorar o país. “
Leia aqui todos os comentários enviados por leitores de ((o))eco
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